1.6.07

"Perdidos na selva da imigração" - mais um artigo retirado do Toronto Star

Como diz o próprio artigo, publicado no Toronto Star de 28 de May e escrito por Carol Goarl, acertar em políticas de imigração nunca foi algo fácil desde que o mundo é mundo. Entretanto, cometer erros nesta esfera pode facilmente significar - em um longo prazo - uma queda na economia e no padrão de vida. E um país que - até 2011 - terá 100% do crescimento de sua força de trabalho oriundo de imigrantes, segundo afirma a colunista, não pode arcar com estes erros à longo prazo.


Um ótimo fim de semana e boa reflexão à todos!

Lost in the immigration jungle
Quick fixes have a nasty habit of breeding long-term problems.

Naomi Alboim of Queen's University, an expert on immigration policy, fears that is what is happening in Canada now.

In Ottawa, the Conservatives are pouring millions of dollars into makeshift schemes to alleviate labour shortages, without considering the risks of becoming dependent on a steady influx of temporary foreign workers.

At Queen's Park, the Liberals are pouring billions of dollars into post-secondary education, without requiring universities to supplement their full degree programs with bridge training for immigrants who need to fill the gaps in their qualifications.

At the local level, senior governments are starving the non-profit groups that know how to integrate immigrants into the community.

There are dozens of initiatives, but no overall plan. There are dozens of stakeholders, but no shared vision.

"If we continue to develop immigration policies in isolation, we could end up hurting or restricting our broader goals for Canada," Alboim told a roomful of politicians, bureaucrats and policy analysts recently.

Alboim is not one of those academics who pores over statistics and studies and theorizes about what should be done.

She's out in the community, working with immigrants and social agencies. At the same time, she understands the constraints that policy-makers face. She worked in the senior ranks of the public service at both the federal and provincial levels.

What worries her, as Canada approaches 2011 – the year when immigrants will account for 100 per cent of the country's workforce growth – is that no one seems to be thinking beyond the exigencies of the moment:

Bringing in thousands of foreign temporary workers might appease employers who can't wait the five to six years it normally takes to get a skilled applicant into the country. But it reduces their incentive to hire and train the underemployed Canadians (foreign and native-born) who are already here.

Raising Canada's immigration target (Ottawa is aiming to admit 265,000 permanent residents this year – 15,000 more than last year) might seem like a rational response to an aging workforce. But with a backlog of 500,000 unprocessed applications, the immigration department clearly can't handle its current workload, let alone a larger one. It takes an average of 5.3 years to get an application processed in Beijing, longer in Hong Kong, Moscow and New Delhi.

Permitting Canadian-educated foreign students to stay and apply for permanent resident status might look like a good way to boost the supply of well-trained workers. But it turns universities and colleges into a shortcut into Canada for would-be immigrants and encourages the creation of quick-buck vocational schools.

Allowing each province to nominate immigrants, based on its workforce needs, might sound like regionally sensitive planning. But it leaves the country with a bewildering patchwork of admission criteria and prevents newcomers from moving freely once they arrive in the country.
"We need to think in terms of a pan-Canadian immigration framework that flows from a vision of Canada's future and the values we share," Alboim said.

She acknowledged that there is a lot of goodwill in the system. She also gave Prime Minister Stephen Harper credit for investing $13 million in a new Foreign Credential Referral Office and earmarking $500 million a year to provide job training for people who don't qualify for employment insurance (many of whom are immigrants).

But Ottawa needs to do more than add new tools to the cluttered mix of policy instruments that exists now, Alboim stressed. Its role is to set priorities, provide leadership and ensure that everybody is pulling in the same direction.

Getting immigration right has never been easy. But getting it wrong – the usual result of lurching from one expedient to the next – will mean a shrinking economy, a drop in living standards and a loss of vitality.

Canada can't afford to be slapdash about its future.

31.5.07

Salsicha ou perna de rã?

Quem conhece Toronto sabe que bastou esquentar para os carrinhos de cachorro-quente se multiplicarem pelas ruas da cidade. O que muitos não sabiam – incluindo esta que escreve – é que o fato de apenas haver barraquinhas da famosa iguaria na cidade é resultado de legislação provincial.

Justamente por isso teve início ontem, na prefeitura de Toronto, a luta política por trazer uma maior variedade de “comida” vendida em barraquinhas pelas ruas da cidade. Até coletiva de imprensa John Filion (o city councillor e membro do conselho de saúde) realizou na prefeitura para promover sua “plataforma” de inclusão gastronômica por assim dizer.

Na ocasião da coletiva dois conhecidos e renomados chefes de cozinha realizaram e ofereceram um tradicional prato de Singapura composto de arroz, ervas, vegetais e perna de rã assada que, segundo os chefes, poderia ser vendido nas ruas também. Tudo para provar que em uma cidade tão multicultural como Toronto a “comida” de rua precisa ir além do dogão. “Quantos turistas voltam para casa e dizem aos seus familiares e amigos: Você precisa experimentar o cachorro-quente de Toronto!”, argumentou John Filion.


Se a legislação de alimentos na províncea de Ontario mudar, no verão de 2008 poderemos encontrar as perninhas de sapo assada pelas barraquinhas também. Conheço muita gente que mesmo nunca tendo comido um dogão de carrinho (ai que delícia!) faria campanha para que as perninhas de rã não ganhassem as ruas de qualquer cidade, apesar da pobre da rã oferecer uma carne saborosa.
Eu, na qualidade assumida de boa de garfo, aprovo a convivência pacífica entre o dogão e a rã sem problema!

E você acredita que o que é vendido nas ruas de uma cidade reflete sua cultura?

29.5.07

A China é aqui!

Deus abençoe os Chineses!

Começo este texto de hoje homenageando este povo – e aqueles que dele descendem - de cultura e sabedoria milenares só para não perder o hábito de usar o meu bordão (que surgiu há anos no Brasil e usava sempre após uma saborosa refeição japonesa! Yummy!) agora transportado para os inventores do papel.


Deus os abençoe e que eles continuem imigrando em massa e continuem operando seus restaurantes em cidades como Toronto! Tá bom, sei que nem todos os lugares chineses do mundo são os melhores para se comer mas espere até você entrar no Congee Queen!
Uma vez que você, amante das iguarias chinesas, entrar lá vai querer voltar com bastante frequencia!

Na sexta-feira antes do feriado que passou, fomos jantar com nossos amigos, vizinhos e consultores para assuntos de locais e serviços com "óootema relação custo-benefício" Liliane e Rafael e aprovamos a pedida!
Além de um ambiente aconchegante e até um pouco sofisticado de ser, o restaurante oferece uma saborosíssima comida à INACREDITÁVEIS preços !!!

O nosso jantar para 4 pessoas (eu e o Mauricio tomamos cerveja e tudo) ficou na bagatela de 40 doletas! Inacreditável pelo que o restaurante oferece!
E antes que alguém queira saber se comemos um dos patinhos assados pendurados na vitrine do local, digo que desta vez fomos nas indicações de quem já conhecia o restaurante e comemos muito bem, além de ter experimentado a tradicional sopa chinesa à base de arroz carinhosamente apelidada pela Liliane de sopa de doente.

Mas os patinhos pendurados que nos aguardem que ainda vamos voltar várias vezes para o Congee Queen!

25.5.07

Para refletir - artigo extraído do Toronto Star de 24 de maio

Não costumo fazer isso por aqui (reproduzir artigos dos jornais de Toronto na íntegra e em inglês). Entretanto, o artigo abaixo (peço desculpas aos familiares que não entendem inglês) trata, na minha opinião, de uma das mais importantes e críticas situações que fatalmente fará parte da vida do imigrante logo na sua chegada por aqui - Recomeçar profissionalmente não somente em hierarquia mas também em salário.

Aí há dois cenários possíveis:

1- Você atua em áreas técnicas em alta demanda como TI (tecnologia da informação), Telecom (desenvolvimento de software, hardware, etc)e logo arruma emprego na sua área (foi o caso do meu marido graças ao bom deus e ao nosso planejamento que já previa isso) mas mesmo assim o primeiro emprego ainda não paga o seu real valor de mercado.

2- Você, como eu e tantos outros que conheço por aqui, atua em áreas de menor demanda e mais "humanas" e passa por todos os cursos do governo, co-ops (estou no último mês do meu), trabalha de graça e tantas mais para provar para o empregador Canadense que você é capaz de fazer exatamente o que fazia no seu país de origem por aqui (meu caso).
Isso para citar os melhores cenários que é o que temos visto por aqui na qualificada amostra de brasileiros ao nosso redor!

Muitos me perguntam se isso tudo vale à pena e a resposta de um milhão de dólares é -Cada um sabe de si. No nosso caso digo que valeu e tem valido muito sim! Pois embora estejamos no caminho certo atuando nas mesmas áreas em que atuávamos no Brasil (meu marido telecom e eu assessoria de imprensa) isso tem sido uma consequência da luta diária por aqui pois o fator principal mesmo da mudança e que justifica tudo isso sempre foi e vai continuar sendo a qualidade de vida (e isso há de sobra por aqui!).


Agora para aqueles que se incomodariam (ou até mesmo não teriam reserva suficiente para segurar meses de trabalho gratuito, etc)com este começo de desapegos, sacrifícios e retrocessos é bom fazer uma excelente preparação emocional que a rapadura é doce mas não é mole não!

Boa leitura e ótimo fim de semana!

Helping newcomers overcome barriers

Janis Foord Kirk - Toronto Star

May 24, 2007

Theresa McPherson has mustered all her energy to reinvent herself for life in Canada since emigrating from Jamaica in 2004.

“It takes a winning spirit, I believe. A lot of people allow the rejections to get them down. They allow negative thoughts and negative people to steal their energy when they need it to fight this game, to get into the workplace. And it is a fight, you need all the energy that you can muster.”

So says Theresa McPherson, who has mustered all her energy to reinvent herself for life in Canada since emigrating from Jamaica in 2004.

My last column on April 21, “ Canada a struggle for many newcomers,” examined the barriers internationally educated immigrants like McPherson encounter as they look for work. Today, a closer look at what they can do to overcome these barriers.

McPherson agreed to share her story and add her advice to the counsel that follows if I agreed to protect her privacy by changing her name.

Preparation : “As any new immigrant does before coming here, I did a lot of research,” says McPherson.

“I'd never lived here, spent any extended time here. So I tried to learn everything I could to prepare myself.”

Contrary to what McPherson believes, says Rhonda Singer, president of the Progress Career Planning Institute in Scarborough, professionals who move to Canada don't always prepare as well as they could.

“We researched to find out where these professionals got their information before coming to Canada ,” Singer says. “And we discovered that the number one source is friends and family.”

The problem with this, she adds, is “friends and family are not up-to-date on the Canadian labour market.”

Researching Canada from afar has never been easier, thanks to a vast reservoir of online information. Citizenship and Immigration Canada's website (cic.gc.ca), for example, includes a step-by-step Newcomer's Guide at cic.gc.ca/english/new comer/guide/index.html.

However, online research will only do so much. If possible, Singer says, professionals considering a move to Canada are wise to visit the city in which they hope to live. “Try to make some connections in your professional association,” she advises. “Gather as much information as you can and take it home with you to absorb later.”

Another reason to visit, according to Josh Frohwein, who says he interviewed hundreds of immigrants while working as a recruiter, is to “find out if you can handle our famous Canadian winters, especially if you come from a hot country where you have never seen snow,” he writes. “You may find that Canada is not for you, but it's better to learn it by way of a vacation.”

Community Resources : Literally hundreds of community service agencies specialize in helping new settlers. For a list of some of them, go to cic.gc.ca/ english/newcomer/welcome/ wel-20e.html.

Many who work in these agencies are immigrants themselves. They provide counselling, workshops and access to computers as well as referrals to language training, credential assessment, mentor programs and employment services.

They also offer moral support. “When I was at my lowest, feeling so dejected and rejected, they would call me or email me,” McPherson recalls. “It meant a lot, having people say, ‘You can do it'.”

Realistic Expectations : Despite published projections of skills shortages, Canada 's labour market is highly competitive and it takes time to find a good job.

“It can be hard for Canadians to find work,” Singer points out. “I know senior people, professionals, who take six months to a year, and they at least understand the system, know the associations and have some sort of framework.”

It's also true, Frohwein notes, that “no experience, no job” is a common refrain in the Canadian workplace.

Everyone starting out hears it, he says, even those born and raised here.

Patience : Prepare for a lengthy transition process, advises Daisy Wright, author of No Canadian Experience, eh? (WCS Publishers) nocanadianexperience- eh.com.

People like McPherson, “who take advantage of all available resources, who have goals and a sense of how to get there and who persevere, usually find their way in two years,” says Wright, a career specialist and an immigrant herself.

And it can take longer, she acknowledges, for immigrants who have to learn the language or who find themselves in a prolonged certification process.

Attitude : “At first, I was angry and disappointed,” says Mc- Pherson, of her early days in Canada when no one seemed willing to give her a chance. “But then I stepped back and realized that pushing back on the system would not get me anywhere, because the system was not going to yield to me. I realized that I had to get inside the circle and understand the system to move ahead. And that's exactly what I did.”

Survival Jobs : Getting inside the circle, as McPherson calls it, often means taking what's known as a “survival job.”

“Since I couldn't get in at my level, I took an entry level job in a retail telecom store,” she explains. “I walked in, asked if they were hiring, met the manager and in a week I had the job. I stayed there for nine months, because I realized that there was something I had to learn.”

Among the lessons learned, she says, was an understanding of the social niceties that dictate the success or failure of workplace relationships, a clear sense of Canadian consumers and how business is done in this country. “It's a whole different ball game than I was used to,” she admits.

The Experience Advantage : One problem with survival jobs, Singer says, is “that once you have positioned yourself at the low level, it's very hard to build your way back up.”

McPherson has seen this first hand. “I know people who've taken a survival job and become stuck,” she says.

“You're afraid to let go of what you have. You start to figure that this is all you can do. Your self esteem drops and drives out all the ambition you came here with.

“I didn't have any intention of doing that,” she adds, emphatically. “Once I learned what I needed to learn, I quit my job. I was unemployed for five months. But this time the responses were completely different. I got calls from employers because I had some experience with a reputable company. “I learned that once you add some Canadian experience to your resumé, doors will open.”

McPherson is now an immigrant success story. She works as a business development officer with “a fantastic organization,” she says. “I love it, although it's still not at the level I should be, given my background. But now I'm on the inside looking out.”

In my next column: Helping and welcoming internationally educated professionals.

Janis Foord Kirk is a public speaker and author of Survivability, Career Strategies for the New World of work. Write to her c/o Business, the Toronto Star, 1 Yonge Street, M5E 1E6 . E-mail: janis@survivability.net

24.5.07

Projeto BRASIL MOSTRA TUA CARA

Saber quantos brasileiros estão vivendo na província de Ontario. Este é o objetivo do estudo que está sendo realizado através da University of Western Ontario e coordenado pelo Centro de Informação Comunitária Brasil Angola.

O projeto chama-se BRASIL MOSTRA TUA CARA e visa coletar informações sobre os brasileiros que moram na província de Ontário. O motivo da pesquisa é que até hoje não se tem nenhuma informação clara sobre quantos somos, onde moramos, o que fazemos, etc.

Portanto, se você mora na província de Ontario ou conhece alguém que mora mande um e-mail para seu amigo e fale desse projeto. O objetivo é coletar no mínimo 1000 participantes.

Saiba mais sobre o projeto clicando neste link:
http://centrobrasilangola.org/brasilmostratuacara/chamada.asp

Eu já fiz a minha parte respondendo a pesquisa e reproduzindo a divulgação por aqui. Colabore você também!

23.5.07

Viagem à Ottawa e o presente da Rainha




Segunda que passou foi feriado nacional no Canadá em comemoração ao aniversário da Rainha e lá fomos nós para Ottawa à convite dos nossos amigos e vizinhos Liliane e Rafael (ótima pedida casal! Adoramos viajar com vocês!).

Em oito meses de Canadá, esta foi a nossa primeira viagem pelo país que resolvemos chamar de casa e depois de tanta ralação e tensão (eu principalmente estou em um momento de transição do trabalho de graça (co-op) para o possível primeiro salário. Aguardem próximos capítulos) ter Ottawa linda aos nossos pés debaixo de dias cheios de sol e rodeados de tulipas é o que eu poço chamar de um verdadeiro presente dos deuses!

Agora presente mesmo nos deu a Rainha Elizabeth. Sim, ela mesma. Como estávamos visitando o Parlamento Canadense exatamente no dia em que o país comemora seu aniversário, ela permitiu que todos os visitantes daquele dia fotografassem a biblioteca do Senado! Se você é como eu que não pode ver um livro que pira e ama uma biblioteca então vai entender o meu êxtase quando entrei lá! Para mim a biblioteca é o auge da visita ao Parlamento mas todo o resto vale muito à pena também.

Outra diversão à parte da viagem foi que ficamos hospedados em um Holiday Inn em Gatineau (na províncea de Quebec à 2.5 km do centro de Ottawa em Ontário) e a todo momento atravessávamos a fronteira entre as duas provínceas.

É surreal como a gente cruza a fronteira e estamos em outro "país", outro idioma, outra cultura e tudo. Aí aproveitamos para comer nos bistros e restaurantes totalmente influenciados pela cultura francesa para sofrimento do pobre do Maurício – único de nós que não fala francês – e das garçonetes. Deixamos as pobres loucas pois eu, o Rafael e a Liliane falávamos em francês, elas respondiam e aí vinha o Maurício falava em inglês e elas voltavam em inglês.

Nos divertimos muito com o troca-troca do idioma e com o figura do meu Marido. Aí para compensar o Maurício fomos visitar o Museu de Guerra (justamente no único dia nublado e chuvoso do feriado) que ele tanto queria ver. O meu marido ama história de guerra, lê tudo e parecia uma criança naquele gigante museu! Jesus! Passamos 4 horas lá dentro para andar os 4 pavilhões e saí de lá zonza de tanta informação.

Para quem gosta de história e principalmente história das guerras do mundo o museu vale muito à pena, é bem interativo e tem muito arsenal. Até o carro do Hitler apreendido pelo exército Americano está lá.

O Rideau Hall (residência da Governadora Geral do Canadá) também é um passeio muito interessante. Só os jardins com mais de 10 mil árvores (muitas delas plantadas por políticos do mundo todo. Até o FHC plantou árvore lá) em torno da residência valem o passeio mas também entramos na residência da Governadora em um tour (de graça) muito interessante.

Além de termos passados dias agradáveis com nossos amigos, voltamos para casa com um conhecimento muito maior sobre a história e o funcionamento do sistema político Candense. Amei!

E esta foi a viagem das curiosas coincidências. Na ida, ao pararmos na estrada para o café da manhã, encontramos a Ana Célia, o Alessandro e o Henrique no Tim Hortons. No jantar, no mesmo sábado, eis que estamos sentando em uma das duzentas mesas do MarketPlace no centro de Ottawa e ao mesmo tempo sentam ao nosso lado os nossos vizinhos Luci e Rogerio e Carol e Fernando. Eita mundão de deus pequeno! Eita feriado inesquecível...

16.5.07

Um ano de Era do Gelo

Maio de 2006 não foi um maio qualquer em minha vida (digo minha pois as datas do Maurício foram outras). Há um ano eu pedia demissão do trabalho, começava o aviso prévio e criava este blog.

E pensar neste primeiro ano de "Era" me fez voltar lá para trás meio que em uma retrospectiva e sentir que, apesar de todos os sacrifícios e esforços devotados ao projeto, estou cada vez mais certa do que fiz. Neste maio também comemoramos 8 meses de Canadá e claro que temos altos e baixos afinal de contas seria mentira se dissesse que é fácil lidar com as consequências emocionais de "largar tudo" e começar tudo do zero, principalmente neste primeiro ano.


A Luly bem escreveu certa vez em seu ótimo blog que para realizar este sonho de imigrar nós primeiro temos que dar alguns passos para trás para só depois de algum tempo (e aí varia de pessoa para pessoa mas em média pelo menos de um a dois anos eu diria) darmos os passos para frente novamente. Digo materialmente e profissionalmente falando pois em qualidade de vida demos zilhões de passos para frente sem dúvida nenhuma.

Aí lembrei-me do que gostaria de compartilhar com aqueles que estão se preparando aí no Brasil para este gigante projeto. O verdadeiro dia "D" do imigrante acontece quando se pede demissão (no meu caso de um ambiente de trabalho que sempre gostei muito e não tinha a menor intenção de deixar tão cedo não fosse o sonho maior de estar aqui) . Aí sim oficialmente começa a saga e a "ficha cai". Daí o nascimento do "Era" em maio de 2006.

Este blog nunca teve e continua não tendo pretensão nenhuma de ser algo didático ou até o que se pode considerar uma prestação de serviço. O Era nasceu da combinaçao entre a minha paixão por escrever e a praticidade em deixar os familiares e amigos informados sobre nossa vida no Canadá. Portanto, aqueles que vem me acompanhando neste tempo já devem ter percebido que realmente se trata de um "diário" (no formato e não na frequência) onde eu venho aqui ao menos uma vez por semana escrever um pouco sobre meus sentimentos, sacrifícios, momentos e afins.

Hoje, o que começou como o meu "querido diário" acabou por me proporcionar uma deliciosa experiência em receber comentários e até mesmo elogios de pessoas que eu sequer conheço. Além de poder ter conhecido pessoalmente os novos amigos daqui. Gostaria de aproveitar o primeiro aniversário do Era para agradecer aos carinhosos comentários e elogios que recebo sempre.


E quando perguntada se ao deixar tudo para trás no Brasil (trocando o certo pelo incerto) não deu uma pontinha de dúvida quanto ao que estávamos fazendo a resposta só pode ser uma - Dar, até deu mas não queriamos viver nossas vidas com a insuportável presença do "SE"... Fizemos um trato de não chegar aos 60 um olhando para o outro tentando imaginar como teríamos nos saído se tívessemos feito o que realmente queriamos enquanto ainda tinhamos força e juventude para tal! E isso é o que nos mantêm firmes e fortes na nossa luta por aqui, não carregamos o SE conosco!

10.5.07

Conhecendo a MPC

Mesmo antes de deixar o Brasil, já curtia e conhecia um pouco de MPC mas agora que moro no Canadá ficou bem mais gostoso e fácil entrar em contato direto com bons nomes do gênero.

E antes que alguém pense que estou falando sobre algo de comer, vou logo explicando que MPC é o apelido carinhoso que dei para denominar todo cantor (a) e banda de origem Canadense, vulgo Música Popular Canadense.

Ainda em solo Brasileiro ouvia alguma MPC mas sempre aquelas mundialmente conhecidas como Avril Lavigne (meu lado adolescente skatista de ser) e Rush (o Rock'n Roll que nunca morre dentro de mim).

Sem falar em uma das minhas bandas favoritas (muito famosa aqui em Toronto - afinal os caras são daqui - mas muito pouco conhecida no Brasil) que me foi apresentada pela Bruna : o Barenaked Ladies (Bruninha, sempre levarei comigo suas deliciosas sugestões musicais de bandas antes para mim desconhecidas e mais alternativas. Até hoje quando quero me animar ligo o som bem alto no Millencolin e é tiro e queda!).

Sim, sou com música assim como sou com culinária, cerveja e povos do mundo - adoro experimentar/conhecer. Mesmo que seja para depois chegar à conclusão que não é para mim. E foi em uma de minhas andanças pelos bastidores da TV Canadense que tive o privilégio de conhecer a Feist (cantora Canadense dona de uma voz de veludo que acaricia os ouvidos!) e assistir à passagem de som que ela fez com sua banda para entrar ao vivo no Breakfast TV (acordar às 5 da manhã para trabalhar tem suas vantagens!).

O som da Feist é para quem curte uma mistura de jazz, bossa nova e algo que chega perto de um indie rock. Embora alguns críticos tenham dito que no álbum Reminder (lançado no país todo esta semana, daí a ida para a TV) há muitas músicas que os amantes do gênero chamariam de mais suaves e os que já não gostam muito diriam que dão sono (tudo é uma questão de interpretação e gosto), eu gostei bastante da moça - digo do som dela e sua banda.

Quem gosta de Norah Jones (Leslie, adivinha em quem eu pensei enquanto assistia a passagem de som?) certamente vai gostar da Feist. Fica a dica de mais uma MPC para os leitores do Era que também é cultura - totalmente parcial mas é! Bom fim de semana à todos!



6.5.07

Nos bastidores da TV Canadense

Esta semana está fazendo dois meses e duas semanas que estou trabalhando na Parallel Communications (agência de comunicação e assessoria de imprensa no Brasil e Public Relations agency por aqui). Profissionalmente falando, a experiência tem sido muito valiosa pois embora o trabalho em si seja o mesmo que exercia no Brasil, o conhecimento da mídia canadense e dos contatos que surgem com ele só acontecem trabalhando por aqui.


E por conta de ossos do ofício, já comecei as minhas andanças pelos estúdios de TV Canadense acompanhando cliente em gravação de entrevista/matéria. Em dois meses de trabalho acompanhei três produções em duas emissoras diferentes.Todo assessor de imprensa sabe como isso é natural e parte rotineira do trabalho. Entretanto, o curioso é que no Brasil como a minha carreira nos últimos 4 anos estava mais focada para comunicação empresarial (dentro da Johnson & Johnson), o meu dia a dia estava muito mais ligado aos jornais de negócios e revistas de beleza.

Fiz muita TV quando trabalhei em agência mas sempre acompanhando a equipe no local do evento (os desgastantes links do Bom dia SP que tiravam todo assessor de imprensa da cama antes das 5 da manhã) mas isso há mais de 5 anos. O que está acontecendo aqui no Canadá é muita gravação e link (sim, aqui também já saí da cama 5 da manh para acompanhar cliente no BT ao vivo) direto no estúdio. Ok. Até aí tudo normal e rotineiro para o assessor de imprensa mas apenas para o assessor de imprensa.

Já havia me esquecido deste fascínio que a TV exerce nas pessoas, inclusive nos Canadenses. Uma das entrevistas ao vivo que acompanhei foi no Breakfast Television (o programa daqui que tira o assessor de imprensa da cama às 5 da manhã) em uma segunda-feira e por conta disso passei um e-mail avisando os professores do CanEX que faltaria da aula (durante o placement você precisa frequentar a escola toda segunda-feira ao invés de ir ao trabalho, ou seja, você trabalha 4 dias e vai para a escola 1) porque estaria em estúdio.

Pois bem, na segunda seguinte quando voltei para a escola fiquei sabendo que os professores tinham passado um aviso para a escola inteira (aqueles de auto-falante sabe?) informando que uma das "estudantes" estaria na TV. Resultado: tive que dar uma palestra sobre como tudo funciona em uma gravação no estúdio e tudo mais. Entretanto, o mais hilário mesmo foi a alegria e o entusiasmo com que os professores chegavam para mim e perguntavam: "Você conheceu o homem do tempo?? falou com o Frankie e com a Dina (os apresentadores)? Eu os assisto toda manhã!"

Pareciam crianças empolgadíssimas querendo saber todos os detalhes! E eu na naturalidade de todo assessor de imprensa respondi que sim que havia conversado com todos eles (confesso que por dentro estava também controlando a minha própria empolgação com tudo isso pois apesar de 8 anos fazendo isso no Brasil e conhecendo todos os famosos de lá também , agora é bem diferente em outro país, outro idioma, etc). Isso foi na primeira vez que fui para a TV.

Na segunda vez que fui para o mesmo programa, apareci em um rápido lance nos bastidores (os apresentadores tem mania de conversar com quem está nos bastidores - produção e assessores que estão acompanhando os entrevistados), o meu marido me viu na TV e falou no trabalho dele. Ah! foi o mesmo furduncio , a companheira de trabalho dele entrou na internet e baixou o video do dia. A TV realmente exerce um fascínio muito grande nas pessoas acho que por parecer algo meio inatingível, como se os apresentadores e repórteres destes programas não fossem humanos ou sei lá.

30.4.07

Primeira Visita ao Brasil - encontro com a picanha do Xitão


(da esquerda para a direita - Cris Mano, Dani "Panela", Dani "Zuina", Paty "Milk" e Lé. Euzinha estou em primeiro plano e o Alexandre tirou a foto)

Um dos marcos da minha "tour" de dez dias pelo Brasil foi o (re) encontro com as minhas amigas-irmãs em SP e com a picanha sangrenta do Xitão no Montana Grill (os vegetarianos que me perdoem mas eita carne saborosa!). Em meio à tantas figuras tão especiais em minha vida estava o único representante do sexo oposto (Alexandre, cuida bem da Panelinha que esta menina vale ouro! Adorei te conhecer).

O pobre do Alexandre passou no teste (Dani, este é para casar!) ao passar exatas 6 horas em meio à 6 jornalistas "matracas" que quando se reunem acontece a maior concentração por metro quadrado de besteirol e palhaçadas que eu conheço!

E por falar em palhaçada, eu fui a primeira a garantir a diversão do garçom da picanha no rodízio! "Moço eu acabo de chegar do Canadá e estou louca por uma picanha. Os boizinhos congelam por lá e a carne fica mais cara moço", dizia eu. O largo sorriso do garçom me fazia continuar a brincadeira cada vez que ele passava por mim com picanha de alho, sem alho e de todas as maneiras possíveis.

O resultado da amizade com o garçom da picanha foi que eu nem toquei em arroz e nem muito menos em salada. Enquanto isso, olhava para o lado e o prato da Cris (minha querida e grande amiga dos tempos de Casper Libero lá nos idos de 1995/1999 - abafa o caso né amiga?) cheio de sashimi do buffet de salada e ela só completava "Salmão para a Paula agora é arroz com feijão né amiga?". Positivo operante como diria meu excelentíssimo marido.

Saciada a "sede" da picanha sangrenta fomos prolongar nosso bate-papo lá na Vila Madalena e a nossa ligação é tamanha que parecia que eu nunca havia deixado a convivência com tão nobres figuras e tenho certeza que sempre que voltar para lá sentirei o mesmo. Como diz a própria Dani "Panelinha" - "Quem tem amigo não morre pagão" e esta turminha fez de tudo para me proporcionar momentos deliciosos e para agradecer a cada uma de vocês vou registrar por aqui um pouquinho das expressões do nosso extenso dialeto criado em tantos anos de amizade:

Foi um prazer "INANARRáVEL";
Beijos na EMENENGARDA;
Servimos bem para servir sempre;
foco no evento e no cliente ;
Frangos Alados!
Patos Alados !
Já dizia Maomé o sábio velhinho...
e até qualquer fim de semana destes!

Como a vida é feita de momentos, após muito bem aproveitados os momentos da picanha e do reencontro com as amigas, é chegada a hora de voltar para os momentos de andar tranquila pelas ruas de Toronto (sem medo de ser assaltada), atravessar as ruas sem medo de ser atropelada, receber pedidos de desculpa sem às vezes nem ao menos saber o motivo, entrar nos lugares em primeiro quando você chegou primeiro e por último quando chegou por último. Enfim, momentos estes que eu não troco mais por picanha nenhuma neste mundo!



29.4.07

Bier Market - A casa da cerveja em Toronto


Sexta-feira que passou fomos, acompanhados dos nossos amigos do Bangladesh e do Peru, para um dos lugares que já entrou para a minha lista dos "mais-mais" em Toronto - o Bier Market.


Devido à diversidade dos países representados em nossos encontros, apelidamos carinhosamente estes encontros de reuniões da ONU e desta vez eu não era a única esposa representante (Ufa! Já estava achando que eu era a única mulher apreciadora de cerveja no conselho de tão importante organização mundial!). O casal de Bangladesh até já nos convidou para, qualquer dia destes, irmos jantar na casa deles. Eu mal posso esperar para experimentar as iguarias de Bangladesh!


Logo que entrei, apaixonei-me pelo local pois além de a ambientação ser de muito bom gosto (trata-se de uma mistura de bar, restaurante e discoteca), há no Bier market nada mais nada menos que 100 marcas das mais tradicionais e famosas cervejas do mundo! Mesmo que moremos a vida toda em Toronto podemos frequentar este local por inúmeras vezes e ainda assim degustar um novo sabor!

O Bier Market não é um local para bate-papo pois é super badalado e tem banda ao vivo (o que eu adoro!). Entretanto, quem aprecia cerveja não pode deixar de passar por lá váaarias vezes...E Claro que por todas estas especificidades não é exatamente um lugar barato mas vale muito a visita e cada centavo investido.
Como as cervejas Canadenses são as mais baratas por motivos óbvios, nesta primeira visita tomei algumas "nacionais" que eu ainda não conhecia, além de ter experimentado a Belga Fruli- cerveja de morango que traz o frescor, a acidez e a cor da fruta no corpo na bebida.

Já o Maurício partiu para a "ignorância" e experimentou a Chimay (9% de alcool em sua composição) de origem belga fabricada desde 1862 com a receita original de seus criadores - os Monges cristãos da região de mesmo nome na Bélgica. Sábios monges!

No Bier Market há várias cervejas criadas pelos monges desde 1700. As escolhas são muitas. Não dá para ir lá toda hora mas a dica para quem como nós vai até lá para degustar cervejas (o restaurante também é famoso mas pelo que notei comer e beber lá não sai nada em conta!) é: coma bem em casa antes de ir e experimente umas 3 marcas diferentes assim você não deixa "as calças lá" e ainda tem mais 97 novas cervejas para experimentar em outras visitas!

26.4.07

Primeira visita ao Brasil - barreira do sonho para a realidade


Desde a minha chegada à Toronto (há sete meses e meio) muito eu ouvi falar das sensações que envolvem este "mito" de voltar à patria natal pela primeira vez após ter deixado tudo para trás. Mesmo sabendo que cada pessoa reage e expressa-se de maneira diferente dependendo de seu histórico de vida e personalidade - não somente à este "mito" mas em tudo nesta vida - confesso que estava muito curiosa para saber como eu mesma reagiria à toda a experiência.


Didaticamente falando, eu dividiria este caldeirão de emoções que eu senti em três momentos diferentes:

1 - A chegada - negação como forma de proteção e auto-defesa: os primeiros dois dias eu passei em Boituva (onde moram meus pais e toda a minha família. Ali eu nasci, cresci). Apesar de todo o clima caloroso das pessoas mais queridas de minha vida e de toda a agitação em torno do casamento do meu irmão, desde o primeiro dia o meu coração conseguia muito bem separar "pessoas/afeição" de "país/cidade/sistema/instituição" e eu já sentia "Aqui não é mais a minha casa e nem o meu país (apenas nasci aqui, vim visitar pessoas muito queridas e escolhi outro lugar para viver). Fácil não?

Agora que já estou de volta consigo entender que esta relação com a cidade onde cresci e a casa de meus pais não foi difícil para meu coração entender simplesmente porque há mais de 10 anos que lá já se transformara em um local de visita. Eu apenas aumentei a distância que passou de uma hora e meia de carro para 10 horas de vôo. Racionalmente falando é isso. Daí a relativa facilidade.

2 - Os dias em São Paulo com as amigas-irmãs e a paradoxal constatação do óbvio:
São Paulo era a minha casa antes de vir para Toronto (Boituva, meus pais e família eu já os visitava há mais de 10 anos) e aí a porca torceu o rabinho definitivamente. Como posso nutrir uma relação de amor e ódio tão intensa por SP? Aí o meu pobre coraçãozinho lembra-se novamente de separar local/cidade/instituição de pessoas/afeição. Ah tá! Complicou de novo.

A cidade que sempre me incomodou com seu trânsito caótico, poluição exacerbada e - o pior de tudo - endureceu-me ao me "acostumar" com crianças miseráveis vendendo balas no farol, deu-me a oportunidade de escolher e ter sempre comigo o que considero meu maior tesouro - as minhas amigas irmãs! Q

Quem não me conhece, ao me ouvir falar dos amigos pode ter a falsa impressão de que a família para mim não tem importância e eu não tenho carinho por ela. Muito pelo ao contrário.

Entretanto, minha filosofia não me permite colocar grupos tão diferentes em pé de igualdade em minha vida. Meus pais, meu querido irmão e minhas avós são maravilhosos por uma benção divina e me considero privilegiada por isso pois poderia ser muito diferente. Alguém aí já parou para pensar que os pais escolhem ter filhos (pelo menos na maioria dos casos ou em um cenário ideal) mas os filhos nunca escolhem os pais e muito menos irmãos?.

Já os meus amigos eu tive (e seguirei tendo) a satisfação e o prazer em escolhê-los e ser escolhida por isso os tenho em tão especial consideração e esta turminha de Sao Paulo (fiquem tranquilas que vcs estrelarão um post especial- o da comilança de picanha) é tudo!

E vocês vão me perguntar - "E o terceiro momento?" -

Ah! Este ninguém mais ninguém menos que Daniela Zuim - uma das minhas amigas-irmãs - foi a autora (sim este blog cita fontes, especialmente as mais criativas) da melhor analogia que eu já ouvi para tudo isso que senti. Segundo a Dani, no terceiro momento é chegada a hora de lembrar do desenho animado Caverna do Dragão.

A missão da turminha do desenho era a de atravessar a barreira, em forma de portal, entre o mundo do sonho e da realidade (eles sempre chegavam muito perto e por algum motivo não conseguiam) e a primeira preocupação era sempre como voltar para "casa" e a única pessoa capaz de ajudá-los era o Mestre dos Magos.

Pois é Zuim, você brilhantemente resumiu tudo. Todo imigrante ao fazer a primeira visita ao Brasil quer saber como é "atravessar a barreira e voltar". A barreia do "sonho" (Canadá) para a "realidade" (de outrora - Brasil). O que difere é quão forte e preparado está o Mestre dos Magos que cada um tem dentro de si para ajudar na passagem.

E antes que me perguntem - Ainda dá aquele aperto na garganta quando abraçamos as pessoas para voltarmos para cá mas já é bem mais administrável se comparado quando deixamos o país pela primeira vez. Afinal já começamos a construir nossas vidas por aqui mas isso já é assunto para o próximo episódio da série.

24.4.07

A minha primeira visita ao Brasil - A série

Acabo de voltar da minha primeira visita ao Brasil após ter me mudado para o Canadá há sete meses. Em homenagem aos maravilhosos momentos e intensas emoções passadas ao lado de pessoas tão queridas e a vontade de refletir um pouco mais sobre todas as sensações que envolvem este “mito” da primeira visita, inauguro hoje uma série com alguns textos sobre as minhas impressões, reflexões e constatações.

Como sempre defendi a supremacia da qualidade sobre a quantidade em minha vida, os que me acompanham neste blog perceberão que o foco principal de meus textos será “pessoas/sentimentos” e não matéria (comida, roupa, etc). Entretanto, já digo de antemão que sim, fiz todas as “coisas” (listadas abaixo), mas como consequencia de estar no Brasil e não como se isso tivesse sido o motivo principal da minha felicidade em estar lá em um momento tão importante da vida do meu irmão (o seu casamento).

Eu quase pude tocar a felicidade dos noivos, e de todos à sua volta neste abençoado momento de suas vidas, tão concreto tivera se transformado este sentimento em sua essência tão abstrato. E do meu lado, o mesmo efeito de poder enxergar a minha felicidade por dividir este momento do meu único e amado irmão (e agora minha cunhada e também irmã!) e ao mesmo tempo meu reencontro com minhas amigas-irmãs e toda a minha família.

Uma vez dito isso, antes que alguém me pergunte dos detalhes mais concretos e assim por dizer materiais, eu fiz sim tudo isso que listarei abaixo e por estas e outras resolvi transformar os meus dez dias passados no Brasil em uma série de textos “reflexão” sobre este estado do imigrante que à pátria mãe torna agora não mais como residente mas como visitante...

- Andei de pé no chão o tempo todo

- Comi bolinho de chuva na casa da minha vó (com chuva tropical caindo e tudo)

- Enchi a cara de picanha, cupim e o boi inteiro no Montana Grill acompanhada de minhas amigas-irmãs em SP

-Tomei muita cerveja gelada acompanhada de pessoas muito queridas

- Acariciei o rosto dos bebês e escutei sua tenacidade (o Vinícius – afilhado do meu irmão - tem a idade do meu projeto Canada e observá-lo lindo e com saúde merece um post na série)

- Bati altos papos com o meu pai sobre a vida, educação e todas as filosofias (como nos velhos tempos)

- Passei horas em um salão de beleza (acompanhada de minha querida mamãe e vovó) nos arrumando para o casamento

- Acompanhei os noivos nos últimos detalhes para seu novo lar (que está lindo diga-se de passagem)

- Apertei muito a minha afilhada Rafaela e sua irmã Claudia

- Ri, chorei e falei besteira junto com os amigos mais queridos do meu irmão e da Edivania em sua despedida de solteiro

- Senti o cheiro da casa das duas avós (tenho a benção de tê-las firmes e fortes acompanhando nossas conquistas)

-Falei , falei, falei e falei..... acho que vou fazer um voto de silêncio por uns dias para recuperar a voz que demonstra rouquidão e cansaço.

E com isso tudo tenho ainda mais fôlego para voltar para a luta de nosso recomeço em terras Canadenses tendo a certeza (que sempre tive na verdade) de que escolhemos o lugar certo para viver e que temos sim a capacidade de termos à nossa volta o carinho e pessoas tão queridas quanto as que deixamos no Brasil(ninguém substitui ninguém)onde quer que escolhamos para viver, além de continuarmos nutrindo este sentimento profundo que temos pelos que ficaram lá pois os verdadeiros amor, afeição e amizade não conhecem distância....


Aproveitei muito e fui muito feliz nestes dez dias mas é muito bom estar de volta para o meu marido (que também é um capítulo à parte, a melhor pessoa do mundo que eu poderia ter escolhido para me acompanhar nesta jornada) e para o País que resolvi adotar como minha casa. Aos queridos do Brasil o meu muito obrigado, até a próxima visita e aguardem os próximos capítulos da série!



11.4.07

E a vida (do imigrante) vai para as telas do cinema

Além de explorar os sabores de Toronto, com a pausa do feriado pude colocar em ordem a minha lista de filmes atrasados. Somando os alugados com os vistos na TV devo ter assistido uns 5 filmes. Adoro fazer isso para descansar o corpo e a mente!

Em meio à maratona de filmes um em especial se destaca por servir de inspiração para o exato momento que eu estou passando (estou na metade do meu placement no Co-op program) e muitos outros imgirantes companheiros de jornada já passaram ou ainda vão passar. Estou falando do excelente filme The Pursuit of Happynness.Qualquer semelhança com a realidade não terá sido mera coincidência.

No Brasil deve ter saído como “Em busca da Felicidade” o que faz sentido mas alguém me corrija se eu estiver errada porque, na grande maioria das vezes, as tradutoras dão nomes para os filmes no Brasil totalmente desconexos com o título original, o que sempre me incomodou diga-se de passagem. Outra coisa bem legal daqui para quem gosta de cinema como eu – este problema acabou .

Pois bem, a idéia desde post não é contar o filme (baseado em uma estória real o que o terna mais emocionante) mas sim deixar registrado que a perfeita combinação entre o ótimo roteiro e a comovente atuação do Will Smith (aquele que já tão bem protagonizou Ali) fazem de Pursuit of Happyness um filme imperdível para todo imigrante (na luta diária pelo recomeço) mas especialmente para quem fez, está fazendo (euzinha) ou fará um Co-op (leia-se trabalho não remunerado para ganhar experiência em sua área de atuação no Canadá!).

A personagem interpretada por Will Smith, em determinado momento de sua vida, vê-se obrigada a investir em um intership ou Co-op program (leia-se trabalho não remunerado) e o filme vai narrando a sua saga fazendo analogias em torno do texto da Declaração de Independência dos EUA cujo principal autor foi Thomas Jefferson (daí vem o nome do filme). Excelente trabalho de pesquisa.

Queria passar por aqui , antes de embarcar para o Brasil, apenas para dar esta dica para quem quer ser um imigrante ou já o é e sabe muito bem do que estou falando. Vale à pena assistir e tomar como fonte de inspiração! Claro que não chegamos à tanto (não vou contar o filme) e espero que ninguém precise chegar à situação que a personagem retratada no filme chegou. O que me veio à mente foi "se alguém chegou onde ele chegou e achou determinação e perseverança para seguir em frente devemos ter a mesma inspiração para prosseguir".

E este foi o momento reflexão do Era. Dia 23 de abril temos um (re) encontro marcado. Estarei de volta ao país que escolhi como lar, para a minha casa, meu marido e meu placement no co-op. Afinal ainda tenho muito a conquistar e perseguir por aqui.

Um grande abraço à todos e até.

10.4.07

Explorando Toronto no feriado

Aproveitamos o feriado da Páscoa para fazer uma das coisas que mais gostamos - explorar lugares novos e comidas do mundo (eita alma de mochileiro que nunca nos abandona!). E como somos recém-chegados (vamos completar 7 meses dia 14 de abril) ainda há muito o que explorar nesta cidade deliciosa que é Toronto.

E delicía foi a ordem do dia em que tiramos para explorar a parte Grega da cidade. O Greek Town fica na Danforth e a melhor estação do metrô para atingir o coração Grego da Cidade é a Chester da linha verde (leste).

Passeando por lá impossível não lembrar do divertido filme o Casamento Grego, pois alguns dos restaurantes fazem menção ao fato de a atriz principal ter passado por lá.

Almoçamos no Asteria Restaurant que está testado e aprovado. Além da comida deliciosa (oh povo que come bem este!), o preço é bem acessível (ficou $25 o casal e ainda tomamos uma cerveja) e a atmosfera simples mas bem acolhedora.

Enquanto almoçávamos a neve caía bonito lá fora (sabe aquela neve de filme linda e que tanto esperamos no natal e não veio? Pois é a natureza tarda mas não falha..) e por conta do assunto "tempo" acabamos fazendo "amizade" com um casal Canadense que estava almoçando na mesa ao lado e que já conhecia o restaurante.

Já li em algum lugar que o Canadense adora falar sobre o tempo. Quem escreveu certamente não estudou uma teoria de comunicação chamada "agenda setting" (o tempo é certamente um assunto universal que todo mundo em qualquer lugar do planeta gosta de falar/reclamar e é o melhor gatilho para o início de uma conversa entre pessoas que não se conhecem) e certamente foi o gatilho para o início de um ótimo papo com mais um casal Canadense muuito simpático (estou colecionando boas experiências) enquanto degustávamos as maravilhas Gregas.

Outra curiosidade do bairro Grego são as lojas de noivas. Para as moçoilas casadoiras que pretendem arrumar um marido por aqui e entrar na igreja de véu e grinalda este é o endereço! E para os que não vão subir ao altar vale à visita mesmo assim (há desde loja só de pirulito "Suckers" até lindas lojas de artesanato). E por falar em casamento, quinta (dia 12) este blog vai entrar em férias pois vou para o casamento do meu querido irmão no Brasil...Passarei dez dias por lá.

Amanhã ainda passo por aqui para contar um pouco mais sobre as explorações do feriado.. o cantinho Francês da cidade e o filme que todo imigrante deve assistir!

4.4.07

O dia em que o elevador parou


Há coisas na vida da gente que, de tanto utilizarmos, só nos damos conta de sua real funcionalidade quando ficamos sem. Semana passada (semana agitadinha esta!), em um átimo de segundo dei-me conta de quão interessante é quando o elevador funciona!

Durante toda a semana eu trabalhei no show office (o escritório da administração da feira Oneofakindshow - cliente da agência para a qual estou trabalhando) e perdi as contas de quantas vezes eu, a minha supervisora, a Diretora da Feira e suas assistentes subimos e descemos aquele elevador.

Tudo transcorria na mais perfeita normalidade, ou melhor, aquela sexta de normal não teve nada quando a minha supervisora resolveu me deixar "in charge" no evento o dia todo. Isso mesmo, fiquei sozinha representando a agência e recebendo imprensa no evento enquanto durante o dia ela me ligava pedindo reports (relatórios atualizados).
Se por um lado estou adorando isso de cada vez mais ela me dar mais responsabilidades, por outro brinco sempre com o Mauricio que não tem graça nenhuma está brincadeira - tamanha a "responsa".

Pois bem, após um dia inteiro de trabalho sob a responsabilidade de coordenar tudo que dizia respeito à imprensa, olho para o relógio e são 5 da tarde. Como já cantou o lendário Joey Ramone pensei "Hey, Ho, Let's Go".

Quem me dera... entro no elevador para chegar até o escritório e pegar minhas coisas e nada de subir. O "indivíduo" resolveu ficar parado entre dois andares.
Enquanto eu me dava conta do que tinha acontecido (estava sozinha no elevador), só ouvia a voz da diretora da feira do lado de fora - "Ah não , toda feira este elevador dá problema!" E mais que prontamente (ainda sem saber que eu estava lá dentro) o assistente dela já acionava o rádio e pedia ajuda aos "universitários".

Eu - que também estava com rádio sintonizado no mesmo canal da diretoria - ouvi e pensei - "bom entao agora é só esperar pelo resgate". Passaram-se dez minutos e nada. Olhei para o rádio e ele olhou para mim...Lá vou eu...

"Show Office, Show Office ...Paula na escuta e presa no elevador. Vocês sabem se alguém já foi mandado para resolver o problema? A graçoca da Mad pergunta: "Paula, você está dentro do elevador?" (até então ela sabia do problema mas desconhecia o fato de haver alguém preso dentro) Paula responde - "YEP".

"Estamos acionando o Fire Department ok?" Eu disse ok e pensei (mas eu estou ótima, não sou claustrofóbica, estou sozinha e não tem nada pegando fogo aqui rsrs) mas vamos aos procedimentos!

Menos de meio minuto depois chega o Fire Fighter (leia-se FF) e começa o que seriam os 30 minutos mais surreais e engraçados dos útlimos tempos. Inicia-se o procedimento do resgate:

FF - " Qual o seu nome? Você tem celular aí? Quantas pessoas estão aí?

Passei as primeiras informações e ele começou...

FF - "Paula, eu estou aqui do seu lado e não vou mais sair daqui enquanto não chegar a pessoa que vai arrombar o elevador ok? Vc está bem?"

Paula - "Sim, sim estou bem moço."

alguns minutos depois e o FF prossegue:

FF- "Vc está sentada? As luzes estão acesas? Você trabalha aqui?

e lá fui eu respondendo tudo na maior calma .. (se tem uma coisa que não adianta nestas horas é nervoso. Afinal eu estava com uma equipe inteira trabalhando lá fora e toda a diretoria/staff da feira acompanhando pelo rádio - EXCELENTE!).

25 minutos depois eu brincava com o bombeiro...

"Tá tudo bem moço, podia ser pior... eu poderia estar no escuro e o elevador poderia ser menor .. A diretora da feira poderia estar aqui.. eu já estava indo embora mesmo"

FF- "Podemos te pagar um café depois.."

Paula - "Não carece não moço..."

30 minutos depois ouço os primeiros movimentos do arrombamento da porta do elevador..
Quando saio percebo que, além do bombeiro, havia um paramédico , o cara que arrombou o elevador e um segurança que pegou meu nome completo , endereço e telefone.

FF - "Está tudo bem mesmo..?" e eu na maior normalidade "Está sim moço eu aproveitei para meditar um pouquinho." Ele ria e logo me liberou para ir embora..

Resultado dos 30 minutos presa no elevador - excelente networking.. Não há um cristo em todo o staff da feira que não me conheça pelo nome depois dessa!



3.4.07

Barterapia

Sexta-feira que passou fomos ao Einstein (bar nos arredores da Universidade de Toronto frequentado pelos estudantes) acompanhados do Aldo (o Peruano metaleiro gente boa), do Tom (o Alemão que mais parece um vocalista de banda de rock) e o Faruqe (de Bangladexe -sim, está correto, a forma em português escreve-se com "X" - apaixonado por futebol e capaz de escalar os times brasileiros de todos os tempos).

Como conseguimos reunir tantas figuras? Eu mesma fico me perguntando mas como já escrevi por aqui antes "figura atrai figura" e desta vez a culpa é toda do Maurício que fica conhecendo os "elementos" mais curiosos e imprescindíveis em uma mesa de boteco. Estes ele conheceu no Job Start (um destes cursinhos oferecidos ao imigrante e que frequentamos logo no nosso primeiro mês por aqui).

E esta foi a genuína mesa de bar. O Einstein é alternativo, descontraído e frequentado pelos estudantes, portanto meninas e meninos que estão em Toronto "solos" é o local ideal para paquerar. E para aqueles que - como este casal não querem paquerar mas adoooram uma boa e velha mesa de bar para a descompressão semanal - este é o local.

Nada contra os Pubs mais estilosos pois frequentamos muito em São Paulo e desde que chegamos em Toronto temos ido à alguns por aqui e tido momentos agradáveis com a turminha brazuca. Entretanto, sempre achei que os bares (mais rústicos e alternativos) são os melhores lugares para juntar uma turminha de "figuras" e jogar conversa fora tomando uma cervejinha sem nenhum compromisso. Os bares tem outra atmosfera.

Se alguém me perguntar do que eu mais estava sentindo falta nestes 6 meses por aqui eu vou responder da verdadeira mesa de bar com "figuras" jogando uma boa conversa fora, falando besteira e dando muuita risada! Fazíamos muito isso em Sampa, os meus queridos e sempre amigos que deixei em Sampa que o digam (Zuina adivinha em quem eu mais pensei que faltava nesta roda?)

E antes que aqueles que não me conhecem comecem a cogitar a possibilidade do alcoolismo, vou logo dizendo que trata-se de pura terapia totalmente controlada e que faz muito bem para a alma! Tudo bem vai, pode não ser a melhor terapia para o corpo mas para este existem os exercícios físicos. Já para a alma, nada melhor que boas gargalhadas sobre assuntos totalmente descompromissados acompanhadas de cerveja em um bar como o Einstein!


Sempre valorizei muito estes momentos e o melhor de tudo foi perceber como uma boa atmosfera, cerveja e alguns assuntos universais como futebol (havia 3 sul-americanos, um Europeu e outro de Bangladexe apaixonado pelo assunto na mesa), música e besteirol em geral une as pessoas. Haveria menos guerra entre os povos se houvesse mais mesas como estas e com mais frequência!


Era a primeira vez que eu me encontrava com a turminha da pesada e parecia que já conhecia aquele povo há um tempão. Eis o milagre da atmosfera de um bom boteco com a companhia agradável e com um bom repertório de besteirol.


Fica aí a dica para quem gosta de descontração e cerveja mais barata por se tratar de um bar de estudantes no centro. E o melhor de tudo é sair dos bares daqui sem ter os cabelos e a roupa impregnados de cheiro de cigarro!

31.3.07

A primeira festa Canadense

Como prometido no último post, vou contar um pouco como foi a minha primeira festa Canadense na quarta-feira que passou. Gosto de brincar que nesta festa só havia "Roots" (com licença poética da música roots bloody roots do Sepultura - eu uso o termo para Canadenses nascidos aqui).

Pois bem, à convite da Natalie - dona da agência onde estou trabalhando (ainda de graça mas já valendo muito o esforço e investimento) + colega de trabalho + "figura" (aliás, dizem que "figura" atrai figura então estamos nos divertindo um bocado) - lá fui eu para a festa da Bombay Sapphire no Gardiner Museum.

Imaginem um espaço com cerca de 100 pessoas (entre jornalistas, assessores, designers e formadores de opinião), imprensa cobrindo o evento, DJ, luzes, uma decoração de muito bom gosto focada no azul safira da bebida britânica que estava patrocinando a competição de designers de copo (sim, vocês leram direito) e coquetéis chiquetérrimos nos copos desenvolvidos pelos designers (nem preciso dizer que experimentei os dois mais famosos da festa).

Nos primeiros minutos da festa a minha sensação era de estar em uma entrevista de emprego de tão tensa que eu estava, preocupada com todos os detalhes (como me portar, cumprimentar as pessoas e interagir) mas graças a desenvoltura da minha "chefa" que conhece todo mundo no meio e ia me apresentando à todos, com o tempo fui me sentindo muito em "casa". Afinal de contas este era o meu meio no Brasil. Quando vi estava lá eu me comunicando com os "colegas" daqui.

Após umas três horas de festa algumas constatações de verdades universais no meu meio profissional e no comportamento humano:

Jornalista é tudo igual só muda o idioma (tem a chefe de redação desvairada, a elegante editora de estilo, a hippie fashionista, a desbocada e por aí vai) e é justamente este contato direto com esta mistura de gêneros que eu mais adoro na minha profissão de assessora de imprensa, transitar em meio a tantos perfis diferentes e tantas figuras! Estava com saudades disso.

Assessor de imprensa (jornalista em sua essência exercendo outra função da comunicação) também não fica atrás. Adora uma festa, bate-papos descompromissados, pessoas de diferentes estilos e transita bem em qualquer roda (a melhor amiga da Natalie era a assessora de imprensa desta festa e outra canadense muito do bem e doida no melhor sentido, se é que vocês me entendem)

Mulher em ambiente de festa muda muito pouco também. Fala de um tudo, elogia o sapato da amiga (aliás, o povo que está aqui já percebeu como as Canadenses adoram elogiar os sapatos?) Das duas uma, ou eu realmente estou usando sapatos que elas gostam (querida mamãe ainda bem que trouxe os seus sapatinhos de festa ehehe) ou elas tem uma tara pelos acessórios que devo confessar também curto um pouco, além de bolsas é claro.

Os Canadenses (ao menos no meu meio de trabalho) se beijam quando se cumprimentam sim! Claro que ali eu estava em uma festa onde todos já conhecem (por isso eu mesma apenas apertava a mão das pessoas uma vez que era a primeira vez que os encontrava) mas queria registrar isso aqui porque nunca achei justo este papo de generalizações como este "povo" (seja ele Canadense, chinês ou britânico) é frio e não se cumprimenta, blá , blá , blá....

Sempre achei (e pude comprovar em alguns mochilões por este mundão de deus) que é tudo uma questão de tempo e de você , enquanto estrangeiro, se inserir de verdade na sociedade em questão para vivenciar as suas qualidades. Afinal o que seria do amarelo se todos gostassem do azul?

25.3.07

Show de Metal em Toronto - o cúmulo da civilização

Quem se lembra daquelas brincadeiras por meio das quais ficávamos tentando encontrar o cúmulo das coisas? Pois é, esta semana que passou descobrimos é o cúmulo da CIVILIZAÇÃO - um show de heavy metal em Toronto.

Antes de contiuar, preciso contextualizar um pouco para ajudar a leitra daqueles que não nos conhecem. O casal aqui sempre foi um casal Rock´n Roll. Esta que "vos" escreve na verdade sempre foi muito musical (é mais fácil apontar os gêneros de música que eu não gosto. Embora a minha essência mesmo seja Rock´n Roll) já o marido, também rock´n roll mas mais focado em sons - digamos assim mais pesados - é um grande apreciador de bandas como Metallica, Iron Maiden, Black Sabath, Sepultura, Megadeth e por aí vai.

O marido ficou sabendo do show que o Dio (vocalista que sucedeu o Ozzy Osbourne no Black Sabath) faria em Toronto e seria aberto pelo Megadeth, consultou a esposa "topa tudo" e também louca para voltar para um show de rock´n roll (montanha-russa e show de rock´n roll sempre foram minhas duas técnicas preferidas para descarregar tensões) e lá fomos nós para o cúmulo da civilização, digo, show de heavy metal em Toronto.

Como foi no Air Canada Centre (a casa do Toronto Raptors e do Maple Leafs), havia a configuração pista e cadeiras numeradas. Por uma combinação muito conveniente entre ingresso mais barato e cadeira (no começo confesso que estranhamos um pouco assistir a um show de rock pesado sentados) mas sempre abertos à novas experiências lá fomos nós.

Já no metrô (PRIMEIRO sintoma de civilização - o acesso tranquilo, rápido e direto ao Air Canada Centre que tem conexão com a estação do metrô) começamos a cruzar com nossos companheiros de show. Adolescentes vestindo camisetas pretas, trintões ("é nois na fita"), quarentões e por aí vai por conta do Black Sabath.

Entrada do show (SEGUNDO sintoma de civilização - revistas individuais para evitar a entrada com garrafas de água e qualquer objeto potencial de ferir alguém e todos seguindo os procedimentos na maior tranquilidade). Como fomos com um amigo Peruano do Mauricio (foi divertido os três sul-americanos falando inglês o tempo todo), ficamos batendo papo nos barzinhos dentro do Air Canada antes de começar o show de abertura do Megadeth quando, de repente, ouvimos o "grito" da guitarra e nos dirigimos para nossos lugares. Eis o TERCEIRO sintoma de civilização.

Entramos - já estava escuro pois o show de abertura havia começado há cinco minutos - e precisávamos achar as cadeiras 10 e 11 na fileira 26. Foi aí que percebi que consigo me comunicar em inglês literalmente "gritando". Podem imaginar eu na fileira 26 (já com todos sentados e o show em andamento) falando com o canadense sentado na primeira cadeira enquanto o Dave Mustaine (ex Metallica) cantava?

Pois é, agora estou craque em falar inglês sussurando como já escrevi aqui antes e gritando rsrs..Entrei na fileira 26 e a cada 4 pessoas que passava eu perguntava que número é esta cadeira pois não enxergava nada.. e assim fui até achar as duas cadeiras lindamente vazias (QUARTO sintoma de civilização) em meio a todos sentados!!

Eu simplesmente amo esta cidade, ou melhor, este país! Sentamos felizes, curtimos muuuito o nosso primeiro show no Canada e para quem curte Black Sabath, o Dio fez um excelente show acompanhado de duas lendas vivas da formação original do Black Sabbath (esta banda que vimos chama-se Heaven and Hell por questões de business entre ex membros e membros atuais) - Geezer Buttler e o Tony Iommi além de um monstro na bateria (que nos presenteou com um solo de 20 minutos!! puro êxtase!).

Este post ficaria mais longo ainda se eu fosse citar todas as cenas de educação e civilização que eu presenciei em pleno show de Heavy Metal. Certamente este foi apenas o primeiro de muitos shows de rock que iremos por aqui.
No próximo post contarei um pouco da festa canadense que fui esta semana que passou à convite da Natalie (my boss). Outro capítulo à parte.

18.3.07

Cheques "Assustados"


Alguém aí tem notícia de proprietário de imóvel que esquece de depositar o cheque do inquilino e demora uns quinze dias depois da data combinada para fazê-lo? Tudo bem vai, isso não é lá muito comum mas acontece vez ou outra. Fica pior, que tal proprietário que perde 7 cheques (de março até o fim do nosso contrato) de uma vez? Este é o ilustríssimo proprietário do nosso apartamento!!

Sim, ele teve a capacidade intelectual! Não tentem fazer isso em casa pois exige muito treino e dedicação para que sete cheques criem perninhas e saiam todos juntos voando! As imagens são impressionantes! Isso porque por aqui é muito comum você já deixar os cheques pré-datados e nominais dos respectivos meses do aluguel até o final do contrato com o proprietário.

Quinta-feira por volta das dez e meia da noite voltando do meu curso no Seneca (já com o cérebro mais do que derretido e querendo logo descansar) pego o recado da Janet (ainda bem que ela existe! é a nossa corretora aqui e nos representa junto ao corretor do proprietário do imóvel) pedindo para eu entrar em contato sem deixar mais detalhes. Eu logo pensei - "aí vem problema". Vamos à ele. Eis que a Janet me conta o até então para mim era inimaginável!

Sexta de manhã lá fui eu para o banco falar com o gerente e após bater um papo agradável do tipo "então menino, você consegue imaginar que o proprietário do meu apartamento conseguiu perder 7 cheques!. Eu quero outro "landlord" este é muito desorganizado", brincava eu com o gerente que acompanhava o meu inconformismo e de volta me perguntava "Onde você está alugando?"

Para sustar (o incorreto mas famoso e engraçadíssimo "assustar") um cheque no nosso banco aqui custa $10 por folha. E graças à minha mania de manter documentos organizados e à preciosa dica da Janet de fazer cópia dos cheques emitidos eu tinha guardado toda a numeração dos cheques "alados" e resolvemos isso de uma maneira muito simples.

Uma vez que vou ter que emitir todos os cheques novamente, os $70 serão descontados do preço do aluguel em um dos cheques e lá vou eu novamente fazer a cópia de mais 7 cheques e guardar muito bem guardado. Vai saber se estes também não resolvem dar uma voltinha por aí antes de serem depositados na conta do proprietário!

Para "assustar" um cheque por aqui basta chegar no caixa (aqui conhecido como Teller) e usar o termo STOP PAYMENT (literalmente parar pagamento dos cheques em questão ou seja não receber aqueles cheques). "Elementar meu caro Watson!". A simplicidade e lógica aplicadas ao idioma inglês nunca vão dar chance para termos incorretos mas engraçados como os cheques "assustados!" e neste caso voadores.


14.3.07

6 meses de Canadá

Hoje estamos comemorando meio ano de Canadá e estamos muito felizes e satisfeitos com a escolha que fizemos. Desde que chegamos muito já fizemos e conquistamos e temos certeza que muito ainda há para aprender, viver e conquistar neste grande desafio que é imigrar.

E para não deixar passar em branco esta data passei para registrar nossas reflexões desta semana sobre tudo que estamos vivendo. Estava eu dizendo ao querido marido que quando eu estou no meu dia a dia por aqui (no trabalho e na escola à noite falando e interagindo em inglÊs) não sou “eu” Paula (aquela Paula que ficou no Brasil) mas sim outra “Paula”(a Paula daqui). É incrível como esta relação entre as emoções e o idioma é forte. Alguém já parou para pensar porque alguém que domina mais de um idioma quando fica muito bravo ou nervoso solta o palavrão no idioma mãe – por mais que domine o segundo idioma? Pois é...

Aí vem o marido e completa brilhantemente a reflexão – “Claro que você é outra pessoa pois você não somente está agindo em outro idioma mas esta se reconstruindo”. Isso! O imigrante se reconstrói a todo momento se é que vocês me entendem. Reconstruímos nossas rotinas, nossos hábitos, alimentação, colegas de trabalho, clima, roupas, literalmente tudo.

E por falar em relação das emoções com o idioma, esta semana conheci os dois lindos perdigueiros da minha “chefa” e quando vi estava brincando com os cães e falando com eles obviamente em inglês pois estávamos eu, ela e um primo dela. No momento me pareceu muito natural brincar com o cão e dizer “Hey buddy...” mas depois me peguei pensando “meu deus como é estranho brincar com cachorro em outro idioma!”

Outra técnica que a sobrevivência no trabalho nos faz desenvolver é cochichar em inglês! Sabe quando você está falando sobre alguém e de repente abaixa o tom quase que sussurando? pois é cada vez que me pego nesta situação (obviamente provocada por terceiros) eu paro e penso "agora a casa caiu!" e na maioria das vezes ela cai mesmo aí é só sorrir concordar e seguir em frente! São estes detalhes simples que tornam a experência de viver em outro país tão rica pois as mínimas coisas que fazíamos de um jeito agora estão sendo reconstruídas de outra maneira e por conta de ser em outro idioma sentimos isso de maneira mais forte ainda.

8.3.07

A maçã fashion

Conforme disse no último post, “ganhei” (enquanto trabalho para a agência é claro) um mac muito fofo para levar para casa todos os dias. Quem me conhece melhor sabe como eu amo tecnologia e se juntar design então sai de baixo!
Como diz o meu marido - eu adoro o mundo "fashion" (seja tecnologia, pessoas, roupas, embalagens).

É verdade, gosto mesmo e desde quando morávamos no Brasil, sempre que aparecia um mac nos filmes eu dizia que queria tanto ter um porque aquilo sim era computador "fashion" não aqueles PCs cor de burro quando foge em cima de nossas mesas - jesus!

Aí vinha o marido e me trazia para a realidade – “Paula, aqui no Brasil não é muito interessante porque a maioria tem PC e aí vc vai ter uma crise de compatibilidade além de ser mais caro né”. Tá bom marido mas ao menos o direito de desejar um eu tenho né e virou mexeu ficava brincando que um dia eu ia ser “fashion” e ter um daqueles.

Durante anos fui convivendo com isso e aquilo sempre voltava. Em nossa primeira semana por aqui (nos idos de setembro de 2006) quando ainda estávamos andando pela cidade para conhecer Toronto entrei naquele antro de perdição que é a loja da Apple no Eaton Centre! Lá atrás, sem sequer imaginar o que aconteceria depois, repeti para o marido - "Agora que não estou mais no Brasil posso ter um Mac um dia né?... e claro um Ipod também ai ai.. depois que eu arrumar emprego etc e tal... "

Cinco meses se passaram e cá estou eu feliz da vida, vivendo uma experiência valiosíssima de trabalhar na minha área (ainda que por enquanto sem ganhar para comprar um Ipod rsrs) quando minha “Supervisor” (me recuso a escrever a palavra chefe - ops!) pede para eu ir até a loja da Apple – aquela mesma o antro da perdição – ir buscar o “meu” ibook (estava lá fazendo um upgrade) e começar o meu treinamento no Mac.

Sim, querida supervisor, farei este SACRIFÍCIO de passar duas horas naquela loja fashion, fancy e ultra mega moderna recebendo treinamento !! Não é possível, só pode ser coisa de destino brinco eu com meu marido. Fui lá fiz o treinamento básico incial e sexta passada voltei para a casa com o novo brinquedinho.

Como todo brinquedinho tecnológico acaba precisando de reparo em algum momento. Resumo – o bebê está de volta na UTI para reparos e só esperando para voltar para as minhas mãos! Cá estou eu de volta ao bom e velho PC (de casa mesmo que eu tenho levado para o trabalho porque a minha "supervisor" é muito fashion e tem outro mac).
Alegria de pobre dura pouco mesmo!

3.3.07

O primeiro dia de trabalho no Canadá

Aquele domingo (26 de fevereiro) parecia que nunca mais teria fim. Eu andava para lá e para cá no apartamento, pulava, cantava e não conseguia conter a minha ansiedade. O paciente e sempre companheiro marido que o diga! Afinal, após quase 8 meses fora do mercado de trabalho (desde o momento que saí da Johnson no Brasil para cuidar dos preparativos da vinda para cá até agora) eu voltaria para a ativa!

Só sosseguei quando peguei a mensagem da Natalie (my new boss) no meu celular dizendo que ela me pegaria no metrô. O marido já começou - "Mais é incrível mesmo, além de trabalhar no centro a "chefe" ainda pega no metrô no primeiro dia!". Incrível como aquele telefonema me acalmou e ela finalizava assim - "I can´t wait!" , ou seja, ela estava tão ansiosa quanto eu. Bom saber, isso torna a relação mais humana e menos tensa no começo.

Manhã gelada e branca de segunda e lá estava eu dentro de uma SUV gigante com a Natalie batendo papo como se já nos conhecessemos de longa data. Quando ela estacionou na agência entendi porque ela quis me pegar no metrô no primeiro dia. A entrada fica nos fundos de um conglomerado de galerias de arte.

Ela vinha me atualizando que acabou de mudar e as pessoas tem dificuldade em chegar e que por isso fará uma festa na primavera que levará os convidados com limosines até lá. "Aqui do lado é o restaurante francês onde eu levo os clientes novos para almoçar", continuava ela. E eu ah tá, desculpa! Aliás a região toda ali é muito elegante neste sentido, se estivéssemos em São Paulo capital, guardadas as devidas proporções, seria algo como a Vila Madalena aqui em Toronto é Annex.

Mesmo com toda a simpatia e alto astral da Natalie, primeiro dia de trabalho não deixa de ser primeiro dia seja aqui, na China ou em São Paulo. Bom seria se pudéssemos começar a trabalhar do segundo dia em diante mas como não dá encaramos esta tensão. Se no Brasil já era assim vocês podem imaginar por aqui em outra cultura e tal!

Tudo parecia um sonho para mim pois quando me dei conta estava ali de volta ao mundo que eu tanto gosto, o mundo da comunicação e como estou em uma agência pequena (tenho a minha "boss" e uma colega de trabalho muito especial - a Janette Ewen é editora de estilo da revista Chocolat e por conta disso e das parcerias da agência ela mais viaja do que fica lá na agência) não dá para me disfarçar de samambaia e nem muito menos não interagir o tempo todo com a dona da agência - o que eu estou achando ótimo!

Em pleno primeiro dia já estava eu em meio a uma reunião de um cliente novo fazendo media training, ajudando a Natalie com Q&A e debatendo o plano do novo lançamento! Participo ativamente de tudo que acontece lá justamente por se tratar de uma agência pequena e neste momento de recomeço de carreira aqui não poderia ter melhor lugar para eu estar! Claro que no fim do primeiro dia o meu cérebro tinha derretido mas a cada dia que passa (completei apenas a primeira semana) vai ficando melhor.

Até cartão da agência com o meu nome a Natalie já veio me mostrar que vai mandar fazer e o melhor de tudo - o meu computador é um ibook da Apple que posso trazer para casa todos os dias. Resultado - estou me inserindo em um mundo que sempre amei - o mundo maravilhoso da tecnologia da famosa maçazinha mas isso já é assunto para outro post .

1.3.07

É a neve de março fechando o inverno


A cidade de Toronto está vivendo hoje a pior tempestade de neve deste inverno de 2007. Digo está vivendo porque só estou escrevendo agora pois fui dispensada mais cedo do trabalho (como quase toda cidade a contar pelo caos que estava lá fora) por conta do tempo.

Enquanto escrevo, o vento "uiva" lá fora juntamente com a neve que cobre a cidade. Normalmente eu uso o metrô e um trechinho pequeno de ônibus para ir e voltar da agência. Neste sentido sou uma das privilegiadas que trabalha no centro da cidade. O Maurício mesmo está , neste exato momento (17h43), na estrada desde às 15 mais ou menos. Não se preocupem está tudo bem (acabo de falar com ele) o negócio é que os carros precisam andar em passo de tartaruga e nem tem como ser diferente.

Bem, voltando à cidade. Esperei por meia hora no ponto de ônibus e claro que nada de ônibus. O cenário era de carros parados, não se via a diferença entre calçada e rua e havia muita neve acumulada e ainda caindo. Foi aí que resolvemos, eu a moça que também esperava, literalmente socar o pé na neve e ir caminhando para o metrô.

Claro que devidamente preparadas de bota de neve (que eu troco pelos sapatos decentes quando chego na agência e troco novamente para sair. Já me habituei a mais esta nova rotina) e capuz fomos lá para a nossa caminhada de quinze minutos até a estação do metrô mais próxima. Mesmo com toda a neve acumulada, andavamos mais rápido que qualquer um que estivesse dentro de um carro naquele momento.

No caminho encontrei donos das casas já tirando o acúmulo de neve na frente das calçadas, ciclistas (sim, ciclistas) que também iam mais rápido que os carros e a frente e os telhados das casas cobertos de branco! Claro que por se tratar ainda do meu primeiro inverno aqui acho essa paisagem muito linda (mesmo em um dia de caos como hoje) mas tenho certeza que podem passar duzentos invernos e eu vou continuar achando muito lindo.

Ao chegar em casa, mais cedo que o de costume, lembrei-me de uma das canções mais belas já compostas (Tom Jobim) e tão lindamente interpretada por Elis Regina - Águas de março. Como por aqui em março não cai água, a licença poética vai me permitir dizer que a paisagem de hoje "É a neve de março fechando o inverno" (fechando "numas" também licença e esta meteorológica)

A partir de amanhã, quando completo uma semana no novo trabalho, vou inciar uma série contando a minha experiência por lá. Adianto que estou AMANDO e além de já estar em plena atividade ainda por cima a minha "chefa" (Caldeirinha, usei este termo em sua homenagem. Embora continue achando que quem tem chefe é índio) pratica snowboard, surfa e é muito gente boa!

23.2.07

A batalha dos flocos de neve

Ontem era para ser apenas mais uma tradicional manhã de inverno na casa do casal Paula e Maurício em Toronto. Toca o despertador às seis e meia da manhã e ambos se preparam para suas atividades diárias - Maurício vai para o trabalho e a Paula vai para a sua última semana na escola do Co-op - Teria mesmo sido rotineira não fossem dois fatos extras combinados :

1- O meu marido, nesta manhã, ao invés de ir para o escritório saiu cedo para um mega evento de confraternização da empresa. Imaginem que a Rogers juntou cerca de 700 funcionários e levou para passar um dia inteiro em uma estação de esqui, há duas horas de Toronto, com tudo pago pela empresa (esta Rogers é uma mãe!)

2- A tempestade de neve

Todas as manhãs, o único trecho que eu caminho pela superfície (é, em fevereiro é de fato bem interessante esta conexão subterrânea do prédio com o metrô) leva apenas cinco minutos de caminhada pois a escola fica do lado da estação do metrô. Pois bem, estes cinco minutos naquela manhã foram muito interessantes e surreais em minha vida.
Mesmo antes de sair de casa já havia visto pela janela que nevava muuito! Então vesti minha super jaqueta impermeável e as excelentes botas de neve que neste mês mais parecem parte do meu corpo de tanto que tenho usado (e estão aprovadíssimas, não levei um tombo sequer até agora) e lá fui para a aula.

O trecho que andei entre a estação do metrô e a escola debaixo de neve foi suficiente para ver o cenário caótico e aproveitar para me divertir com ele. Não pode mudar o cenário? Divirta-se com ele!

Era cada flocão de neve! Fazia PLOFT PLOFT quando caía na minha cabeça bem protegida pelo capuz impermeável.

Em segundos vi guarda-chuvas - ou melhor "guarda-neves" - todos iguais, quero dizer brancos! A calçada se confundia com a rua, a minha calça jeans que costuma ser azul marinho ficou branca, o casaco também azul adivinhem que cor ficou? O negócio é que, pela primeira vez, andei debaixo da tempestade de neve contra o vento! Parecia que eu estava em um daqueles cinemas tridimensionais que os objetos saem da tela e vem com toda velocidade em sua direção. A diferença é que os mega flocos realmente atingiam meu rosto.

Aproveitei o que minha fértil imaginação chamou de "a batalha dos flocos de neve" para brincar com os flocões "inimigos". Testava onde eles iam me acertar conforme o movimento que fazia com a cabeça. Se olhasse para o chão os flocões atingiam meus lábios (hum, praticamente uma raspadinha fresca, só faltou a groselha) . Ao levantar a cabeça atingiam meus olhos. Hum ,aí não há nada de gostoso nisso. Melhor ficar com a cabeça ereta mesmo e tomar uns flocões na bochecha de vez em quando. Diversão garantida ou seu dinheiro de volta. Claro que só me diverti deste jeito porque o tempo de exposição foi pequeno né! Isso foi pela manhã.

Quando voltava do curso que estou fazendo no Seneca , lá pelas 10 e meia da noite, não tive mais que efrentar os FLOCÕES.. agora eram apenas floquinhos. Ah que pena! agora não podia brincar de batalha da neve. Entro no ônibus e escuto na secretária eletrônica do meu celular a mensagem mais surreal da minha vida deixada pelo marido.

"Paula, o passeio foi ótimo. Esquiei o dia todo mas agora estamos presos na estrada em uma tempestade de neve. Então vou chegar tarde em casa, ou melhor, nem sei se vamos chegar hoje. Te ligo mais tarde".

Foi uma mistura de cena surreal com algo do tipo - já esperava por isso pois se os flocões estavam atacando Toronto porque não atacariam as redondezas? Uma hora mais tarde o marido chega também feito uma criança feliz contando a nova experiência de vida!

É, certamente, nesta quinta-feira vivemos experiências de um dia de inverno de verdade! Ainda assim continuo preferindo a neve à chuva, as tempestades de neve às enchentes. O inverno ao verão (gosto do verão e aproveito muito quando ele chega mas gosto mais do inverno). Como dizem as minhas queridas amigas que deixei no Brasil - "Paula, você não nasceu para o clima dos trópicos"

19.2.07

As Barganhas de Toronto

Imagine uma rua inteira tomada de lojas de roupas e sapatos dos mais variados estilos para todos os públicos e gostos. Adicione aí uma palavrinha mágica para o recomeço de vida do imigrante que está economizando - "outlet"- mais conhecido como ponta de estoque mesmo. Isso, nesta rua só há ponta de estoque. Imaginou?


Se você mora em São Paulo capital provavelmente pensou na rua José Paulino no Brás (ZEPA para os íntimos) mas para nós aqui de Toronto trata-se da Orfus Rd. A nossa nova colega Liliane nos deu mais esta boa indicação. Aliás, o post de hoje só foi possível devido às preciosas dicas de onde encontrar as barganhas de Toronto que nos foram dadas pela Liliane - a nova colega de trabalho do Maurício (do jeito que vai daqui um tempo o controle acionário da Rogers vai parar nas mãos de brasileiros!rs).


Para se ter uma idéia do que estou falando, compramos dois pares de luvas de couro para o Maurício por $10 enquanto que um único par de luvas do mesmo modelo e marca não sai por menos de $30 nas lojas comuns (já haviamos pesquisado antes). Os Canadenses que lá estavam faziam compra para o próximo inverno o que, aliás, é muito inteligente fazer agora quando as sobras de inverno das lojas estão indo parar nos outlets!


E para deixar a andança das compras mais apetitosa ainda paramos na Grand Cheese Factory loja italiana especializada em queijos também localizada na Orfus (abençoada rua!) Eu e meu marido sempre fomos dois apreciadores de queijos mas desde que chegamos por aqui este "hobby" se tornou um tanto quanto impossível devido aos preços praticados pelos supermercados. Agora tudo mudou! Precisa ver a cara de felicidade do meu marido voltando para a casa com uma peça de 5 libras (cerca de 2 kilos) de mussarela que pagamos 23 doletas - metade do preço do supermercado. Sem contar a variedade de queijos e antipastos que há lá. Vale à pena a visita mas NUNCA, mas nunca mesmo, entre lá com fome.


Outro lugar que vale a visita é a Value Village. Trata-se de uma cadeia de lojas de roupas usadas e utensílios domésticos. Claro que precisa-se gastar um tempo lá e garimpar mas acha-se coisas em muito bom estado por 3, 4 dolares. Desde calça, sapato e acessórios até bicicleta, patins, torradeira. De um tudo! Boas compras ou melhor boa economia!

14.2.07

De volta ao mercado de trabalho !!!!!!!!!!!


O dia 14 de fevereiro nunca mais será o mesmo em minha vida. Não importa quantos anos se passem eu sempre lembrarei desta data com muito carinho. Há exatos 5 meses eu e meu querido e amado marido chegávamos no Aeroporto Internacional de Toronto com duas malas cada um, inúmeras incertezas e uma única certeza - de que estávamos fazendo a coisa certa para a qual nos planejamos muito e sempre sonhamos.

Hoje, Valentines´s Day (equivalente ao dia dos namorados por aí) e com muita mais muita neve pelas ruas, eu consegui o meu primeiro emprego Canadense!!
Ainda é um estágio não remunerado de três meses resultado do Co-op que eu comecei a semana passada mas o melhor de tudo é que a vaga é exatamente na minha área. Trata-se de uma agência de comunicação mais conhecida por aqui como PR agency.

Eu estou muito feliz! Não encontro palavras para expressar o que sinto pois cada passinho que damos por aqui significa muito e o mais difícil foi feito. Quebrei a primeira barreira de entrar na minha área e utilizar as minhas habilidades para fazer o que gosto muito de fazer. Agora depende só de mim, das minhas capacidades e vontade de aprender e seguir em frente e isso eu tenho de sobra.
O melhor de tudo é que a dona da agência que foi quem me entrevistou disse que vai precisar contratar alguém em alguns meses mais para frente. Agora é arregassar as mangas para que ela queira ficar comigo e o que hoje é um estágio um dia vire trabalho pago.

Bem, como eu estou meio anestesiada e sem palavras para expressar tamanha alegria, vou apenas agradecer e como diz o meu marido - Hoje a casa está feliz! E como!

Além de agradecer à todos que, de uma maneira ou outra, torceram e sei que ainda torcem por mim, a minha mais pura gratidão vai para:

Povo da Johnson & Johnson - queridos Lala, Re, Danis, Leslie, Bruninha, João Ricardo e Valdir. Cá estou eu de volta aos eventos, releases, entrevistas, enfim ao mundo maravilhoso da comunicação e saibam que vocês continuam no meu coração e serão parte da minha história sempre!

Luiz Carlos Franco e povo da Primeira Página - o meu primeiro mestre e toda a turma que riu , chorou , sofreu e trabalhou muuuito comigo! Lembrei muito de vocês neste recomeço aqui, afinal foi aí que comecei a carreira no Brasil.

Família querida - meus pais e querido irmão que apesar da distância sempre entenderam e apoiaram a minha decisão de deixar o país.

Os novos amigos e "família" daqui - Fabi e Luly nós estamos fazendo fama de estudantes aplicadas e boas profissionais no Canex. Luci, obrigada pelas preces e torcida. Mirela, Mauro e Mariana, Carol e Pinho, Dani e Rafa. E a todos os outros que torceram e não deu para listar por aqui.

E finalmente o meu muito obrigado para a pessoa mais especial da minha vida. Aquele que eu escolhi para dividir cada momento. Sem o apoio diário e constante deste ser lindo e especial que é o meu marido eu não teria a mesma força para lutar e seguir em frente. Mesmo em momentos em que eu mesma duvidava de mim mesma ele sempre estava lá me lembrando que sim que eu era capaz. Mauricio neste Valentine´s Day eu só tenho uma coisa a dizer EU TE AMO MUITO!
Happy Valentine´s Day!

11.2.07

E o lago congelou


Este sábado tiramos a tarde para passear à beira do lago Ontario e um dos mais belos espetáculos da natureza foi o que nossos olhos e mentes registraram para sempre! Para quem mora em Toronto, e é apaixonado pela natureza como eu, vale o espetáculo.

Em meados de setembro do ano passado quando chegamos o lago estava assim





Cinco meses depois ele se transformou. Está inteiro congelado.



Para completar o delicioso passeio terminamos a tarde jogando conversa fora com uma Canadense que fotografava a linda paisagem de inverno. Enquanto batíamos papo com a simpática senhora, outro Candense estaciona o carro e se aproxima carregando um saco de ração para patos. Enquanto o mesmo alimenta os patos, a gentil senhora logo chama o senhor para a nossa conversa e nos apresenta para ele.

O bate-papo com o segundo Candense durou o tempo que ele demorou para alimentar os patos e passar a seguinte instrução - "se vai alimentar os patos dê a comida correta , nunca pães"(Por aqui até os patos são mais chiques). Despede-se, entra no carro e vai embora. Sim, ele comprou ração, saiu de sua casa foi para a beira do lago apenas para alimentar os patos. É o cidadão cuidando do bem comum à todos.

Adoro estas cenas surreais que encontro por aqui sempre.

4.2.07

A fumaça barulhenta


Cinco e meia da madrugada de sábado para domingo. O casal acorda com o som mais estridente que pode existir e ser suportado pelo ouvido humano.


Já sabendo se tratar do alarme de incêndio (aqui em Toronto mais apropriado chamar de detector de fumaça) do prédio, ambos se dirigem para a sala na espera pelas orientações da voz sem rosto que consegue se comunicar com cada apartamento do prédio por meio dos auto-falantes que ficam sobre nossas cabeças nos tetos dos apartamentos.

O marido liga a TV e coloca no canal que nos mostra a movimentação na recepção. Nada de orientação e o som mais estridente do mundo toca incessantemente. Ao menos temos um recurso interno de abafar o som dentro do apartamento enquanto ele toca mais violentamente lá fora.

A voz chega - “O problema parece vir do térreo e o corpo de bombeiros já foi acionado. Aguardem mais intruções” e o alarme toca. Não há como voltar para cama. Ficamos de plantão junto com o staff e toda a população do prédio.

Em menos de cinco minutos chegam os Bombeiros (equipe de 5 toda equipada e agora sim me senti em um filme - isso que dá ser cinéfila). O Marido ainda observou - “Se estivesse pegando fogo em algo já teríamos todos percebido” . Os Bombeiros fazem o seu trabalho e de repente ecoa a voz que invade o seu apartamento - “Aqui quem fala é o comamdante do corpo de bombeiros, isso foi um alarme falso e estamos desativando o sistema”

Ótimo! Agora podemos voltar a dormir. Deitamos e após cinco minutos toca novamente, agora sem mais nenhuma instrução. Apenas temos que levantar para abafar o som novamente. O interruptor que deveria ficar na parede do quarto fica no hall de entrada do apartamento.O episódio descrito acima me fez lembrar outro. Morávamos em SP mais ou menos na mesma disposição de prédios bem vizinhos dentro do mesmo condomínio. Em uma manhã de domingo perfeita para dormir, o querido e aplicado marido acorda cedo para fazer compra e deixa a esposa dormindo.

Horas depois ele volta me acorda e pergunta - você não viu o que está acontecendo lá for a? A esposa enquanto responde um sonolento não levanta-se e abre a janela. O prédio vizinho tinha sido evacuado por conta de uma explosão de gás. Era corpo de bombeiro, todos os vizinhos para fora, helicóptero do Datena sobrevoando nossas cabeças e eu? Dormia meu merecido sono de domingo (adoro dormir mais nos fins de semana). Tudo foi resolvido lá fora e eu pude continuar dormindo.

Na província de Ontario é lei que todas as casas e apartamentos possuam detectores de fumaça e, quando acionados, os bombeiros chegam na mesma hora. O meu vizinho Rogerio falou sobre a relação da cidade com os bombeiros certa vez.

Longe de mim criticar o trabalho de tão nobre profissão e que por aqui é muito ágil. Mas que o sistema de detectores de fumaça do prédio poderia ser um pouco mais inteligente e menos pertubador Ah isso sim!.
Deveria ser assim :
o alarme toca só para o staff
staff averigua se chama os bombeiros ou não e também se aciona o alarme para o prédio todo ou não mesmo antes da chegada dos bombeiros.
Os bombeiros avaliam se o prédio precisa ser evacuado.
Jesus! Desta maneira não precisariamos acordar à toa e participar inutilmente de algo que não está acontecendo de verdade!

Esta semana mesmo, estava eu cozinhando ovos quando disparou o alarme do prédio inteiro. Como era primeira vez que eu passava por isso me assustei e pensei -"puxa será que a fumaça da água quente fez tudo isso e agora o que faço?" Cinco minutos depois veio a voz que mora com você - “Desculpem o inconveniente . Trata-se de um teste do alarme “

Parece que ainda não resolveram o problema. E pelo jeito adeus manhãs de domingo como aquela de SP. Snif, Snif…