23.7.11

Cidadã canadense

Meus olhos pareciam não acreditar no que viam, nem tão pouco meus ouvidos no que acabavam de ouvir: "Eu os declaro cidadãos canadenses". Essas palavras soaram como a gaivota que sobrevoa o mar em um final de tarde no verão. Música para os meus ouvidos era o que vinha da boca daquela Juíza.

O dia: 19 de julho de 2011. O local: prédio do governo canadense no centro de Toronto. O momento: inesquecível, quase que indescritível não fosse o distanciamento que procurei ter deixando passar alguns dias do ocorrido para conseguir relatar a realização de um sonho, o fim de um ciclo. Alguém se perguntou por aqui se ao obter a cidadania estaríamos, nós imigrantes, finalizando uma etapa e foi exatamente com essas palavras que a Juíza abriu seu discurso emocionante naquele dia: "Agora vocês podem dizer que concluíram, finalizaram um ciclo e estão em casa. A casa que escolheram para chamar de sua".

Ao finalizarmos o juramento à Rainha e às leis do Canadá, a juíza iniciou seu discurso falando do fim, o fim de uma etapa. E é exatamente assim que nos sentimos. Lembrou também que até chegar ali, todas as 8O pessoas (vindas de 39 países diferentes) ali presentes haviam trabalhado duro, sofrido, encarado um duro começo mesmo para só então poder dizer essa é minha casa. Ela tem razão, imigrar não é fácil, tem muitos baixos e menos altos, muito suor e menos regalo, muita humildade e menos prepotência, muita abnegação e menos apego...

Meus olhos marejaram ao ouvir tão claro e coerente discurso para definir aquele momento que seguiria com o hino do Canadá. O meu esforço para cantar o hino foi homérico, não porque não sabia a letra mas a emoção foi tão grande que as palavras teimavam em não sair. O som teimava em não ecoar. As lágrimas teimavam em cair. Eu estava ali após muito esforço e muita abnegação. Tudo fazia sentido. O fim e ao mesmo tempo um novo começo. Novo. De novo!

É assim que me sinto. Chegando de novo e agora com duas vantagens que não tinha naquele dia 14 de setembro de 2006 quando aqui chegamos: a cidadania e a experiência e, acima de tudo, a vivência de cinco anos no país. Ah, que diferença isso faz! E com a conclusão de um projeto outros se fazem necessários e já estão sendo pensados e colocados em prática. Entretanto, carrego agora comigo o peso, a responsabilidade e o privilégio da conquista da cidadania canadense. Ainda não parece real. E esse é um dos motivos pelos quais eu fotografo, assim acredito no que vejo quando tudo parece uma obra de ficção orquestrada pelo destino e pelo livre arbítrio.








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13.7.11

Desigualdade de renda

Os ricos estão ficando mais ricos. Os pobres e a classe média estão perdendo território, digo poder de compra. Cenário bem conhecido dos brasileiros não? Entretanto, estou falando do Canadá. Sei que o Brasil de hoje já avançou bastante no quesito dar mais acesso aos menos favorecidos e isso deve ser realmente comemorado, mas por décadas o país (Brasil) vivenciou o que, na minha modesta e não especialista opinião, pode acontecer de pior para um país: a enorme distância entre a renda dos que ganham mais e a dos que ganham menos.

Digo e repito, não sou economista nem tampouco especialista em ciclos econômicos de poder (leia-se renda) mas parece que a nova ordem mundial é crescimento econômico acelerado (o que também não deixa de ser preocupante do ponto de vista econômico) e aumento de poder aquisitivo aos países subdesenvolvidos (taí o BRIC que não nos deixa mentir) e desaceleração econômica e aumento do intervalo na renda dos países desenvolvidos, ou seja, uma maior distância entre a renda dos que menos ganham para os que mais ganham no país.

O Conference Board of Canada soltou hoje um relatório dizendo justamente isso e para quem interessar pode ler a notícia na íntegra aqui. Fiquei muito triste ao ler o que, na prática, já venho observando por aqui, especialmente entre os imigrantes, que tendem a ser aqueles que mais "frequentam" a linha dos que possuem menos, ao menos em seus primeiros (muitos) anos por aqui. Embora, outro relatório tenha lembrado que 30% das pessoas mais ricas do Canadá nasceram fora do país. Ótimo, mas não confundamos alhos com bugalhos já diria sei lá quem:)

Elementar meu caro, em um país formado por imigrantes a grande maioria não nasceu aqui então fica relativamente fácil encontrar esses 30% em uma amostra tão grande. Depois de algumas décadas no Canadá aqueles mais empreendedores, por dom ou necessidade mesmo, acabam fazendo parte da camada mais rica. Já os nascidos aqui ( a chamada segunda geração), como meu pequeno Arthur, ainda tem um tempinho para participar da população economicante ativa do Canadá.

Mas e o resto? E a grande maioria? Essa perdeu poder aquisitivo. O relatório observa que, entre 1976 e 2009, a renda média canadense cresceu apenas 5.5% de $45.800 para $48.300 e, no mesmo período, o espaço entre os 20% que ganham menos e os 20% que ganham mais aumentou de $92.300 para $177.500, a prova de que a renda está cada vez mais sendo desigualmente distribuída.

Não dá para comparar Brasil com Canadá nesse quesito pois ambos possuem realidades e história bem diferentes, entretanto, fiquei muito triste ao ler a notícia porque já vivi a realidade de um país onde os que tem menos tem muuuuuito menos que os que tem mais e sei que o cenário não é nada bonito. Aqui no Canadá esse "muito" ainda não é tanto assim mas de qualquer maneira, independente do país, essa notícia vai ser sempre muito triste para mim. Deveria ser lei universal, nenhum país no mundo deveria ter esse tipo de problema. Falou a Pollyanna dentro de mim:)