Meus olhos pareciam não acreditar no que viam, nem tão pouco meus ouvidos no que acabavam de ouvir: "Eu os declaro cidadãos canadenses". Essas palavras soaram como a gaivota que sobrevoa o mar em um final de tarde no verão. Música para os meus ouvidos era o que vinha da boca daquela Juíza.
O dia: 19 de julho de 2011. O local: prédio do governo canadense no centro de Toronto. O momento: inesquecível, quase que indescritível não fosse o distanciamento que procurei ter deixando passar alguns dias do ocorrido para conseguir relatar a realização de um sonho, o fim de um ciclo. Alguém se perguntou por aqui se ao obter a cidadania estaríamos, nós imigrantes, finalizando uma etapa e foi exatamente com essas palavras que a Juíza abriu seu discurso emocionante naquele dia: "Agora vocês podem dizer que concluíram, finalizaram um ciclo e estão em casa. A casa que escolheram para chamar de sua".
Ao finalizarmos o juramento à Rainha e às leis do Canadá, a juíza iniciou seu discurso falando do fim, o fim de uma etapa. E é exatamente assim que nos sentimos. Lembrou também que até chegar ali, todas as 8O pessoas (vindas de 39 países diferentes) ali presentes haviam trabalhado duro, sofrido, encarado um duro começo mesmo para só então poder dizer essa é minha casa. Ela tem razão, imigrar não é fácil, tem muitos baixos e menos altos, muito suor e menos regalo, muita humildade e menos prepotência, muita abnegação e menos apego...
Meus olhos marejaram ao ouvir tão claro e coerente discurso para definir aquele momento que seguiria com o hino do Canadá. O meu esforço para cantar o hino foi homérico, não porque não sabia a letra mas a emoção foi tão grande que as palavras teimavam em não sair. O som teimava em não ecoar. As lágrimas teimavam em cair. Eu estava ali após muito esforço e muita abnegação. Tudo fazia sentido. O fim e ao mesmo tempo um novo começo. Novo. De novo!
É assim que me sinto. Chegando de novo e agora com duas vantagens que não tinha naquele dia 14 de setembro de 2006 quando aqui chegamos: a cidadania e a experiência e, acima de tudo, a vivência de cinco anos no país. Ah, que diferença isso faz! E com a conclusão de um projeto outros se fazem necessários e já estão sendo pensados e colocados em prática. Entretanto, carrego agora comigo o peso, a responsabilidade e o privilégio da conquista da cidadania canadense. Ainda não parece real. E esse é um dos motivos pelos quais eu fotografo, assim acredito no que vejo quando tudo parece uma obra de ficção orquestrada pelo destino e pelo livre arbítrio.
Create your own photo album |