1.10.12

Seis anos de Canadá em cores de Almodovar

Após várias tentativas fracassadas de escrever por aqui no dia 14 de setembro, hoje consigo chegar pois ainda é tempo de celebrar. Celebro não um, nem dois, nem três anos. Celebro 6 anos de vida no Canadá! Antes não consegui por aqui estar devido a inúmeras razões tão dignas e apaixonantes quanto escrever nesse que é meu cantinho preferido.

Setembro parece ter entrado para a categoria oficial do mês que sempre me traz novos começos. Há seis anos aqui cheguei e agora, no mesmo setembro laranja do outono, comecei meu trabalho voluntário em uma cooperativa educacional para crianças de 2 anos e meio até 6 anos, iniciei mais dois trabalhos de pesquisa na área em que estou estudando (educação e desenvolvimento infantil) e mais duas matérias na sequência para adquirir o meu diploma.

Sempre quando chega setembro passa um filme em minha cabeça sobre os primeiros dias como imigrante. Aliás, podem passar 20 primaveras e aqueles dias jamais se apagarão de minha memória. Entretanto, não é de conquistas e fracassos que quero escrever para comemorar. Ao invés, prefiro escrever sobre algumas coisas que aprendi enquanto cidadã canadense.

Os seis anos de Canadá mexeram com meus sentidos e me fizeram:

aprender a lidar com o paladar apimentado de quase tudo quanto é comida que se compra pronta por aqui,

amar a deliciosa mistura dos molhos "honey garlic" . Alho e mel que casamento perfeito para um prato de comida!,

passar a consumir mostarda como nunca fizera antes devido a variedade de sabores,

acostumar com o fato de acabar com a elegância de uma produção para uma festa ao ter que tirar o sapato para entrar na casa de alguém,

aprender um novo dialeto só para pedir um café ou qualquer coisa para comer no Tim Hortons,

aprendar a lavar banheiro sem ralo para escorrer a água,

tomar banho em pé na banheira mesmo não vendo sentido nenhum nisso,

a conviver com banheiros sem janela , cozinhas sem porta, a ter calor no frio e a ter frio no calor,

me acostumar a não tomar bebida alcóolica em locais públicos,

me habituar a não conseguir pronunciar nomes Indianos e Chineses mesmo depois de pedir para repetir pela terceira vez,

ter quintal aberto sem muros nem portões e ainda assim encontrar tudo do jeitinho que deixei,

ficar craque em fazer minhas próprias unhas, tanto das mãos quanto dos pés,

aprender o real significado das palavras compaixão, humildade e trabalho,

não cansar de ficar encantada com a infra oferecida pelas bibliotecas públicas e centro comunitários, 

e, acima de tudo, ter a certeza que, apesar de longo e por vezes árduo, o caminho é esse e por ele sigo em frente. Que tenha início os próximos seis anos de minha vida canadense! Parabéns para mim, para meu queridíssimo marido e ao filho que nasceu em terras canadenses e agora não somente nos ensina palavras novas em inglês mas também a "a andar pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome, cores de Almodovar, cores de Frida Kahlo, cores..."

é isso! acima de tudo, imigrar é ver o mundo em outras cores e "Esquadros" na bela voz de Adriana Calcanhotto ilustra um pouco disso. Feliz aniversário de seis anos para nós!