19.5.13

O fim de uma Era


“Tudo vale a pena se a alma não é pequena” escreveu o poeta. No entanto, o que vale a pena quando a alma ESTÁ pequena? Quando a alma grita por mudança? E quando ela, a alma, cansa do desapego e parece dizer, juntamente com o coração, que toda a energia secou. Aí vem a mente, essa senhora da razão (que a cada ano ganha mais capacidade para enxergar tudo com clareza) e  detecta os sinais da alma e do coração, visualiza a trilha bifurcada e, como um capitão disciplinado de um exército qualquer, dá o comando: Chega.

Se a mente fosse um GPS (Sistema de Posicionamento Global), além do comando CHEGA diria que a rota precisa de um giro de 360 graus. Isso porque na jornada de quase 7 anos no Canadá,  todos os atalhos possíveis e conhecidos foram utilizados. Uns mais curtos, outros mais longos mas todos utilizados. Parafraseando o ex vocalista da banda Camisa de Vênus, Marcelo Nova, Um passo para frente, dois passos para trás” virou uma máxima nos últimos anos, quase um mantra. Não que não seja possível caminhar assim, no entanto, a alma dava sinais de cansaço à mente que, por sua vez, ainda enxergava um sentido na caminhada. Até que um belo dia ela (a mente) parou e enxergou. Sim, é hora de começar tudo novo, de novo.

A mesma alma que ficou pequena e que, por sua vez não permite que a mente visualize mais motivo para seguir o mesmo caminho, debate-se buscando a resposta para o que mudou de 7 anos para cá. Seriam as prioridades? O momento de vida? Maneira de enxergar tudo? Experiências vividas? A mente não decepcionou e prontamente respondeu: “Um pouco de tudo”.  

Mas o que a alma quer? E a mente lembra dos Titãs para responder pois a música ultimamente tem massageado a alma e clareado a mente. O que queremos nesse exato momento? “A gente (alma e mente) não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte, a gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte...” A alma quer voltar a ser grande e por sua vez provocar o brilho nos olhos novamente. Cansou-se do desapego desmedido, tanto espiritual quanto material, do desnudamento, da ausência excessiva de ego, da distância radical e constante da zona de conforto, da falta de racionalidade dos acontecimentos, da diminuição desproposital das capacidades intelectuais, da relatividade do tempo e de tantas outras coisas.

Aí vem a mente novamente, aquela pensante figura de 38 anos, e se questiona se tudo isso significa que a experiência vivida de nada valeu. E a resposta é um sonoro NÃO! Ao contrário, tudo valeu, até aqui. Entretanto, a capacidade do cérebro vai além. E trata-se aqui de uma análise do futuro e não do passado. Portanto, essa parte de nossas vidas, vivida segundo o mais rigoroso manual do estilo barraco de literatura em exaltar o CARPE DIEM, só nos fez crescer, evoluir e enxergar tudo com mais clareza ainda. Afinal somos o que vivemos e a experiência nos traz isso.

Mas, e daqui para frente? Para novamente parafrasear os roqueiros Titãs, vamos continuar “varrendo a areia da praia?” A alma, como num surto desesperado, salta e grita : não. Até porque se lembra de quando se iluminava ao fazer os exercícios de meditação oferecidos nas aulas de Kung Fu pelos mestres da sabedoria. O que, por sua vez, a fez lembrar da transitoriedade de todas as coisas e da fluidez com que o rio corre e continua lindo. O mestre budista a ensinou muito sobre como tudo muda. Daí a facilidade com que a mente , já tão treinada, toma a decisão de voltar. Voltar para o que acalenta a alma. A minha alma.

E a inquieta mente questiona? O que acalenta sua alma nessa fase de sua vida?

Estar próxima de meus pais enquanto eles ainda estão cheios de saúde e oferecer ao meu filho a mesma infância que tive: muito próxima de meus queridos avós e cercada de carinho, primos e tios,

Caminhar com o meu pai em um final de tarde e termos nossas velhas conversas e teorias que parecem querer mudar o mundo,

Jogar conversa fora com minha mãe sem ter que fazer uso da tela do computador para isso, 

Receber o sorriso do meu irmão ao tirar sarro de mais um de meus devaneios,

Ver o meu filho brincar no quintal da avó e comer o maracujá que o vovô Paulo plantou,

Ver o meu filho brincar na terra roxa da fazendo da avó Neuza e andar no cavalo do vô Roque,

Retomar o conhecimento e o reconhecimento intelectual, social e cultural em uma velocidade condizente com a minha idade,

Dar risada com poucos mas verdadeiros amigos de uma vida (vocês sabem quem são)

Não cabe aqui elencar vantagens e desvantagens da escolha. Até porque sei muito bem o que ganho e o que perco ao viver no Canadá e o que perco e o que ganho vivendo no Brasil.  Entendo perfeitamente a escolha e as trocas que estou fazendo. E faço esse movimento com a mesma paixão e vontade que fiz quando aqui cheguei  naquele dia 13 de setembro de 2006. Respeito o momento de cada pessoa e desejo toda a sorte do mundo no caminho de tantos colegas que, assim como nós, vieram para o Canadá e lutam muito pelo direito de pertencer. Entretanto,  o meu momento é o do regresso. E estou muito aliviada em finalmente ter conseguido enxergar isso com muita clareza. Será sempre um prazer continuar ajudando aqueles que pretendem fazer o mesmo e quiserem saber mais detalhes de tudo sempre baseado na minha experiência claro! 

Portanto
esse blog não vai acabar. Ao contrário, pretendo continuar relatando toda a minha experiência com as idas e vindas da vida de uma alma tão habituada ao brilho nos olhos e a paixão por um projeto que, quando esse brilho acaba,  obriga a mente a enxergar que é hora de mudar. E vai continuar mudando quantas vezes forem necessárias. Foi um prazer enorme ter vivido essa riquíssima experiência no Canadá mas agora é hora de começar tudo novo , de novo.

30.1.13

Feliz 2013

Eu sei, eu sei. Estamos finalizando o primeiro mês do ano e eu aqui desejando um feliz 2013 para aqueles que ainda me seguem mesmo tendo percebido que a frequência com a qual escrevo não é a mesma com a qual eu gostaria de conseguir escrever. Entretanto, cá estou. E, de qualquer forma, ao menos para mim, hoje é sim o primeiro dia útil do ano de 2013 uma vez que viajei de férias antes do natal, portanto ainda em 2012, e só voltei agora. Sim, sim, eu mereço. Trabalhei duro para isso.

Inicio hoje mais um ano no Canadá. O sétimo. Mais um ano tentando, suando, trabalhando e criando. Longe é verdade. Longe de pessoas muito amadas e queridas. Longe do que chamamos conforto. Aquela, a zona de conforto.

E seguimos ainda ou sempre. Não sei ao certo. Aliás, muito comum não saber nada quando se começa mais um ano de imigrante vindo de férias passadas no país de origem. Sempre digo que não se deve planejar nem muito menos tomar nenhuma decisão nos dias que sucedem sua volta das férias no Brasil. Nos dias em que predomina o que chamo de ressaca de férias.

Sinto isso há seis anos. Sempre senti. Uns anos mais intenso outros nem tanto mas sempre senti essa confusão de sentimentos, pensamentos e falta de clareza. E me pergunto se trata-se de algo intrínseco, inexorável mesmo à alma do imigrante. Aliás, aqueles bravos que estão longe de tudo há mais tempo que eu (de sete anos para frente) poderiam me dizer se um dia deixam de sofrer de ressaca das férias. Alguém?

Uma pista eu tenho. O ir e vir com filho pequeno tornou tudo mais intenso. O amor, que antes existia mas mais moderado e seguindo mais à risca as normas de conduta social, hoje jorra, quase sangra de tão forte e lindo! Sinto à flor da pele, cada vez que volto do Brasil com meu pequeno (que hoje tem 3 anos e acaba de entender o significado das palavras saudades e distância), o real significado do dito popular : "quem beija meu filho minha boca adoça" (ou algo próximo disso). Não sei ao certo.

O fato é que, independente de o impacto ser muito maior quando na equação da ressaca de férias há um filho pequeno, a existência da mesma (a ressaca que, ao menos para mim, não dura mais do que uma semana) não significa que a balança vai pender mais para um lado do que outro (digo mais para continuar vivendo no Canadá ou voltar para o Brasil). Ao contrário. O mesmo fator (filho pequeno e o amor que jorra de familiares, principalmente avós e tios) que faz você chegar a cogitar a possibilidade, mínima que seja, de voltar; paradoxalmente faz com que você tenha ainda mais vontade e força para ficar.

Resumo: Filho, obrigada por você existir. Família, eu amo vocês onde quer que eu esteja.

Feliz 2013 !