27.7.07

A indústria da imigração - reflexões

Mencionei no post anterior sobre a indústria que gira em torno do imigrante aqui em Ontario. No entanto, fiz isso meramente levando em conta minhas próprias percepções e experiências em quase onze meses como “alvo” dela - a indústria. Sequer imaginava eu que, um dia depois, leria a constatação do que venho repetidas vezes dizendo e me questionando desde que cheguei.

Logo nas primeiras semanas de qualquer imigrante que chega nas mesmas condições que chegamos, ou seja, com duas malas de roupas, economias, uma mão na frente e outra atrás como se diz na minha terra – o pobre se vê em meio à um turbilhão de siglas e centros comunitários prontos a ajudar. E sim, de fato eles ajudam e muito!

O ponto não é este. O caso é que, conforme o tempo vai passando, vamos percebendo que na realidade estes centenas de centros comunitários (Costi, NoW, Job Start, JVC, ACCES, isso só para ficar nos mais famosos) fazem exatamente a mesma coisa e possuem a mesma idéia. No final das contas, estão todos lutando por fundos repassados pelo governo para garantir sua existência. Até aí, sem problemas, estão “na deles” para usar a gíria dos adolescentes.

O que não sai da minha cabeça desde que cheguei, ou melhor, uns 4 meses depois e de frequentar dois dos programas, entender o emaranhado de siglas e propósitos, é a seguinte questão – “Por que é tudo tão pulverizado? A causa é nobre, as intenções boas e o dinheiro existe. Entretanto, porque não juntar forças e orçamento e unificar um pouco mais?”

Ajudaria os pobres dos imigrantes que ficam mais perdidos do que "cego em tiroteio" em sua primeira semana – fato que, no nosso caso, só foi amenizado porque o marido em nosso terceiro dia por aqui foi até o Centro de Informação Comunitária Brasil Angola do Gean que faz um trabalho digno de nota por lá – e principalmente otimizariam os recursos humanos e financeiros injetados.

Eis que pela manhã me deparo com a notícia de que o ministro da pasta da Imigração e Cidadania Canadense - Sr. Mike Colle – acaba de retirar-se do cargo à 11 semanas das eleições de Ontario devido à um “probleminha” na administração do repasse de verba aos chamados centros comunitários multiculturais!

Ponto positivo disso tudo? Estamos no Canadá e, desde que o jornal Toronto Star começou a série (que este blog vem acompanhando de perto) focando este problema, as coisas vem estourando o que culminou no fato de hoje. O que certamente vai colocar o assunto em voga para debate.

Outro ponto muito positivo? Nunca aproveitei tão bem um verdadeiro período sabático "forçado" em favor do meu Ócio Criativo como tão bem batizou Domenico de Masi em um de seus melhores livros de mesmo nome.

Ótimo fim de semana!

25.7.07

Cutucando a "ferida" - Reflexões

O economista chefe do Toronto Dominion Bank, Don Drummond, deu hoje uma entrevista ao jornal Toronto Star como poucos já deram - ao menos nestes quase onze meses de minha nova vida por aqui.

O executivo toca em uma "ferida" que, sinceramente, deveria ser mais "cutucada" por formadores de opinião como ele. O chavão - "O imigrante é a chave do sucesso para o desenvolvimento da economia Canadense" - quase que cristalizado em todas as matérias, entrevistas e, principalmente material promocional de escolas e toda a indústria que gira em torno dos imigrantes por aqui.

Eu nunca, em nenhum momento dos quase dez anos de sonhos e planejamentos para chegar onde estou hoje, cheguei nem sequer perto de ter como o motivo da mudança a minha carreira!

Claro que, uma vez que cheguei estou me esforçando o máximo e fazendo de um tudo para me recolocar no que gosto de fazer. Entretanto, quando perceber que vou começar à bater cabeça mudo de rumo sem nenhum problema . Afinal de que valem todos os meus outros dons e paixões? Para serem utilizados quando necessário. Entretanto, seria egoísmo demais da minha parte tratar e pensar nisso como apenas um "problema" particular.


Daí eu ficar sempre refletindo. Trata-se de uma análise mais macro que apenas somos capazes de fazer quando vivemos aqui e conforme o tempo vai passando. Quando li este artigo pensei – admiro este diretor! Me deu vontade até de escrever um e-mail para ele elogiando a iniciativa, aliás acabo de decidir que vou fazer isso.


É senhor Drummond, eu também não entendo!

Boa leitura à todos!

24.7.07

Life-Long Learning

Três palavrinhas, três “Ls” e inúmeras conotações! Pergunte ao gerente de Recursos Humanos de qualquer multinacional e ele vai dizer que trata-se das 3 palavrinhas mágicas que ele quer ouvir de todo candidato à uma vaga. Leia os panfletos publicitários de cursos de especialização no Brasil e verás “Educação continuada” – os “continuing education courses” daqui.

Traduza literalmente (aprendizado por toda a vida) ao caboclo da roça e ele vai dizer – “Vivendo e apredendo!” e eu venho acrescentar à sabedoria matuta do caboclo a palavrinha mágica SEMPRE! Se no Brasil que, em tese, a minha situação estava relativamente confortável e “estável” (questionável), já era parte integrante da minha filosofia de vida o “Life-long learning” e o fazia com prazer. Agora então faz até mais sentido!

A verdade é que a equação livros + sala de aula + professor sempre exerceu sobre mim um forte poder de sedução, quase que magnético! Por toda esta minha inquietação com o aprendizado, aos 7 anos de idade estava lá eu nas salas do FISK cantando one little two little three little indians...e lá fui eu até os meus 15 anos passando por todos os livros imaginaveis de lá. Nunca mais parei. Depois veio a influência de um professor que falava francÊs na faculdade e lá fui eu para os quase quatro anos de Aliança Francesa. Não muito tempo depois fui para o Instituto Italiano de cultura aprender a origem dos meus antepassados.

Veio a vida adulta e a carreira foi tomando rumo para o que é hoje a minha paixão – Comunicação empresarial. Trabalhava PARA e com marketing (e não EM marketing como quase o mundo todo confunde) então vamos fazer um curso para entender de marketing e “falar a mesma língua” lá fui eu para os cursos de educação continuada da ESPM e da FGV. Essa sou eu! Louca, alucinada? InfluÊncia de muito professor na família? Freud deve ter alguma teoria, que eu ainda não li, para explicar isso. Mas quem quer explicação científica se eu mesma já tenho a minha. Estudar, ler e conhecer para mim são verdadeiras paixões e estão longe de ser um sacrifício! Funcionam como terapia, sério!

E nada melhor do que uma "terapiazinha" para o meu momento atual. Dez meses após minha chegada, de ter feito um curso de writing skills no Seneca só para ter certeza que a escrita está apurada, ter feito todos os cursinhos para o imigrante possíveis e imagináveis, Co-op, trabalho de graça, "Canadian experience" e tudo mais, chegou a hora de eu fazer um curso na minha área profissional!

Após meses de pesquisa, muita leitura para entender o sistema de compra de cursos à granel dos Colleges de Ontario, muita troca de informação com profissionais da minha área aqui em Toronto que foram unânimes em afirmar ser o programa do HUMBER college o mais famoso entre os meus potenciais empregadores e o melhor na minha área, começo em agosto o Certificate in Corporate Communications Program. Em um ano, após cursar 7 matérias obrigatórias terei não somente o certificado (uma especialização) mas ampliado a minha rede de contatos na minha área e o meu conhecimento claro. Além de ter feito a minha terapia do conhecimento para ajudar a controlar a ansiedade enquanto o tão sonhado primeiro trabalho remunerado na minha área não chega!

Não vejo a hora! Estou feito criança no primeiro dia da escola que já quer comprar a lancheira, o caderno e o livro novo, o lápis, a borracha e o apontador. Só falta eu querer também o lápis de cor com 36 cores que tinha o verde-piscina que todos queriam na minha época ahaha...

19.7.07

Pesquisa acadêmica direcionada à comunidade Brasileira

Por meio do blog do Gean, tomei contato com o trabalho de pesquisa que a Iara Costa está conduzindo como parte dos requisitos para que ela obtenha o seu diploma de mestrado em psicologia e aconselhamento pela Universidade de Toronto.

O estudo tem por objetivo investigar como o modo pelo qual os imigrantes Brasileiros se adaptam ao Canadá influencia a ocorrência de sintomas de depressão. Eu já fiz a minha parte respondendo ao estudo e você também pode ajudar. Para tanto basta preencher os seguintes critérios:

Ser Brasileiro/a e imigrante de primeira geração no Canadá
Já ter se tornado cidadão/ã Canadense ou ser residente permanente do Canadá (imigrante com documentos, ou refugiado/a, ou aguardando pedido de refúgio)
Morar na Área da Grande Toronto (GTA)
Ter pelo menos 16 anos de idade
Falar Português ou Inglês

Basta acessar o link http://www.surveymonkey.com/brazil

Futebol Poliglota

Sai hoje o adversário Argentino (ops!) da já finalista República Tcheca pelo Campeonato Mundial Sub-20 que esta sendo realizado aqui no Canadá e acompanhado de perto por esta apreciadora de um dos esportes mais democráticos do mundo. Basta uma bolinha de meia, um campinho de terra batida, duas riscas de gol no chão e lá estão, no mínimo, 22 pessoas se divertindo enquanto praticam esporte!

O jogo entre Argentina e Chile aponta para a vitória do arqui-rival e, consequentemente, para o sexto título (quarto dos últimos seis campeonatos) do país que consagrou “Dieguito” e o mesmo fez e ainda faz bastante esforço para se “desconsagrar” perante o mundo. Vamos combinar que imagem de atleta é o que menos vai ficar do que um dia foi um dos maiores jogadores do mundo!

Pevisões à parte, o fato é que morando em Toronto o futebol também ficou poliglota o que eu adoro! Temos acompanhado todo o campeonato pelas telinhas da CBC e da TLN o que significa uma verdadeira babel no que diz respeito aos idiomas dos narradores e também dos comentaristas!

A TLN (Telelatino) é um caso à parte e me diverti muito assistindo as partidas por lá. Assisti jogos com narração em espanhol (divertidíssimo o entusiasmo do narrador. Pelota para lá, pelota para cá), em italiano (não tão divertido mas com o mesmo entusiasmo e o meu intersse pessoal em recordar da penúltima copa do mundo quando estava na Italia e aprendi todos os termos em italiano) e o clássico estilo de narração britânico pela CBC que, muitas vezes, mais se parece com as legendas da Folha de S.Paulo em sua obviedade de ser! Foto com cachorro atravessando a avenida e a seguinte legenda: “Cachorro atravessa a avenida” Faça-me o favor! Até bandeira de objetividade em jornalismo tem limite, tudo nesta vida tem limite! Acho o caso da Folha até pior que a narração no futebol.

Até porque com a narração em inglês só tenho a ganhar com a apuração do ouvido e saber depois comentar em mesa de boteco em inglês os lances do jogo. Agora divertido mesmo é ouvir o narrador Mexicano dizer GoLaço , Golaço , Golaço.. em um som todo característico, além das expressões em espanhol que apesar de entendermos soam muito engraçadas pelo fato não as usarmos naquele contexto. É tudo de bom !

Nos jogos do Brasil pela Copa América então foi o auge! Que tal assistir à uma partida do Brasil com transmissão em espanhol e comentários em Português? Pois é, O TLN transmitiu jogos com o divertidíssimo e empolgado narrador Mexicano e o comentarista Brasileiro. O interessante é que eles não interagiam, um narrava, dava espaço e o outro entrava falando português muito surreal! Adoro morar aqui! O canal telelatino está se superando em sua salada de idiomas no mesmo jogo!


Agora, a única coisa que irrita mesmo destas transmissões é que, quando você menos espera, eles cortam o jogo no meio e entra um comercial! E é muito amador! Não raras vezes o narrador está falando e, sem sequer perceber, é cortado no meio para a inserção de um comercial que ocupa a tela cheia e você lá perdendo lances importantes do jogo! Ai os padrões de qualidade Globo! Ai se eles fizessem isso com os jogos de Hockey!

Quanto à final do Sub-20, antes que alguém me pergunte para quem vou torcer já vou logo dizendo que todas as minhas opções de torcida foram saindo uma a uma (Canadá, Brasil, Estados Unidos e Espanha). Entretanto vamos aguardar para assistir um bom futebol dos arqui-rivais mas não me peçam para torcer para eles não! Até apreciar um futebol bem jogado tem limite!


Ah! e o futebol Canadense? Pelo que tenho acompanhado das crônicas dos analistas por aqui, o quente mesmo é o futebol feminino Canadense que promete ao disputar o mundial Sub-20 que começará na China agora em Setembro. Taí outra coisa que eu adoro daqui, a mulherada jogando é valorizada. Elas jogam, fazem matérias, elas aparecem na TV, escolinhas de meninas jogando bola aparecem na TV - o máximo!

13.7.07

Na TV, nem tudo é o que parece ser!

Estava lendo o Betsy's PR Recruiting, um dos vários bons blogs que acompanho sobre o meu mercado de trabalho aqui no Canadá, quando, ao deparar-me com o post "BBC job interview error - Oldie but Goodie", não pude conter um ataque de riso sobre a situação em que o pobre coitado que se dirigia para uma entrevista de trabalho - por si só uma situação naturalmente tensa - foi exposto!

Se eu fosse o responsável pelo processo de contratação o teria contratado na hora devido à sua extrema flexibilidade e poder de adaptação à situações inesperadas, apesar de sua impagável expressão quando a repórter começou a entrevistá-lo no lugar de outra pessoa!

Para terminar a semana com bom humor!

Tenham um excelente fim de semana!

11.7.07

Formatura no CanEX - mais um passinho para frente








Juntamente com o final do meu estágio não remunerado de 4 meses que me deu a tão acalamada “Canadian Experience”, acabaram as sessões de toda segunda-feira de manhã que eu, carinhosamente, apelidei de reunião dos A.A.A. Carinhosamente devido ao importante papel emocional que este contato e troca de informações com outros imigrantes, na mesma senão em pior situação que a sua, exerce sobre você .

O Maurício até dizia que os dias em que eu voltava desanimada por algum movito em meio à saga na luta pelo meu espaço era porque eu não tinha ido para as reuniões de segunda (perdi apenas duas por conta de outros compromissos) e ele tinha razão!

Entretanto, no dia 25 de junho, a turma que riu, sofreu e chorou (é cada história que realmente se vai às lágrimas!) junto reuniu-se para celebrar o final do programa – sim, mais uma formatura. Será que agora já posso ir para o kindergarten? – e para receber os certificados.

Por falar em ceritificados, não contente em receber um eu recebi dois! Os professores criaram alguns prêmios especiais para os destaques da turma (chique não? Definitivamente eu posso ir para o kindergarten!) e entre eles havia um para a melhor apresentação em power point realizada durante o curso. Foi este que recebi (abafo o caso que em 7 anos de carreira no Brasil eu fazia apresentação de power point de baciada) e tem mais? E esta é a melhor parte! Por ter realizado a melhor apresentação em power point eu ganhei um gift-card da Chapters no valor de $25 !! Saí pulando de alegria pois compraria meu primeiro livro Canadense IUPI!! Após dez meses comprando apenas comida e coisas para a casa finalmente a recompensa!

Comprei, já estou lendo e recomendo para aqueles que querem enteder um pouco mais sobre o “Canadian Way” e o que faz do Canadense o que ele é, o livro The Unfinished Canadian – the people we are do jornalista e autor Canadense Andrew Cohen também autor do best seller While Canada Slept que já está na minha lista. Quem sabe ganho outro prêmio em um outro curso para passar do kindergarten para o pré-primario! Como este livro acabou de ser lançado completei os $25 do cartão que ganhei com $6 doletas – Excelente negócio!

9.7.07

O imigrante bebê

Havia prometido há dois posts que contaria um pouco mais sobre a entrevista que dei para um autor Canadense que está escrevendo um guia para Newcomers – como são conhecidos os imigrantes com até 3 anos de vida no Canadá – e que será publicado pela Oxford.

Ao deparar-me, em minha leitura diária dos jornais de Toronto, com o último artigo da série do Toronto Star sobre estratégias de políticas de imigração, lembrei-me da longa conversa que tive com o autor do livro a ser lançado e que foi desencadeada pela seguinte pergunta que ele me fez – “Qual o conselho você daria para o candidato à imigração que está em seu país de origem se preparando para chegar?”

Ainda brinquei repetindo o velho e sábio dito popular: “Se conselho fosse bom não daríamos, venderíamos” e fui mais longe ainda lembrando-o que conselho é uma forma de nostalgia então não costumo dar a não ser quando requisitada. Era o caso, ele realmente queria ouvir o que eu tinha para falar. Ok, então senta que lá vem história!

Claro que não posso falar por todos os imigrantes do mundo que chegam das mais diversas nacionalidades e costumes, nem tão pouco – na maioria dos assuntos - por todos os Brasileiros que chegam pois apesar de termos crescido na mesma cultura trazemos conosco percepções, experiências e consequentemente diferentes valores perante à vida. Entretanto, duas coisas eu digo que para nós Brasileiros – especialmente aqueles que chegam e são da área de Humanas – duas coisas chocam bastante no começo, ao menos para mim chocaram e foram difíceis de administrar: ser tratado quase o tempo todo como criança/bebê e ter que trabalhar de graça para “provar” que você tem “experiência” na área em questão que você está querendo atuar por aqui.

Antes que os meus queridos e especiais leitores me lembrem que trabalhar de graça não é o fim do mundo e que muitos já fizeram estágios gratuítos no Brasil enquanto estavam na faculdade, vou logo me adiantando que trata-se de algo totalmente diferente! A relação é outra, a sua situação é outra e muito mais delicada! E sim, há várias situações desta durante a faculdade no Brasil – o que faz todo sentido pois você realmente não tem a experiência em questão – aqui não é exceção, é regra. Então, ou você entra no sistema ou você entra no sistema para ganhar a Canadian Experience. Se esta é a melhor maneira de receber o imigrante “qualificado”? Como eles gostam de dizer aqui – DEBATABLE!

Entretanto, como o foco deste post não é o trabalho gratuíto e nem muito menos ir contra o sistema (afe, que coisa de adolescente revoltado..rsrs) até porque eu fiz tudo direitinho como precisa ser feito e bem gradativamente já estou colhendo resultados decorrentes dele, mas sim responder a pergunta do autor Canadense e dividir com vocês qual foi a minha resposta, aí vai.

Anota aí moço, dizia eu, os muitos guias que tenho visto no mercado direcionados para este público perdem muito tempo com questões muito básicas e quase que sem relevância – se comparadas às reais dificuldades enfrentadas no começo – como por exemplo dizer que o Canadá é um país muito frio e isso pode ser um problema para a adaptação dos imigrantes que chegam de países onde não há o frio do Canadá!!!!!!! E como diz a minha mais nova e divertidíssima amiga Katiane, com aquelas dicas super ultra mega úteis do tipo “Olha meu bem, traz um casaquinho porque aqui faz frio viu?”

HELLOOOO!!! O ser humano que planeja uma mudança de vida tão drástica como esta há de saber a posição geográfica do Canadá e as consequências climáticas disso! AFE! Não que não haja necessidade de colocar este tipo de informação nestes guias, mas o assunto é tratado como se fosse o principal entrave para nós que aqui chegamos quando na realidade o buraco é bem mais embaixo.

Quando será que os guias, instituições e até mesmo as palestras dos orgãos oficiais que são dadas mundo afora “convidando” a galera para imigrar, vão começar a tratar de assuntos um pouco mais sérios e que seriam de extrema valia para quem está se preparando para um movimento tão importante e sério de suas vidas?

É simples, é só começar a explicar como funcionam os Co-ops, que se quando você chegar a sua área não estiver em tanta demanda assim o sistema que você certamente seguirá para entrar no mercado é este, etc e tal...E que, mesmo com demanda (eu mesmo vejo vaga na minha área toda semana) quando você (nós da área de humanas) chega você precisará sim colocar no seu currículo a “Canadian experience” independente de sua experiência anterior, onde você trabalhou, estudou e se o que você fazia no seu país de origem é tão universal que é feito exatamente da mesma maneira aqui (meu caso) e mesmo assim você, caro imigrante, vai precisar da Canadian experience (vulgo trabalho de graça, etc e tal). É isso!

Outro coisa muito comum por todos os lugares onde você passa desde que chega, é o equívoco gigante em confundir o estatus de novo no país (newcomer) com novo na vida! Há uma importante e grande diferença nisso. Daí a minha resposta para o autor do novo guia ter sido esta. Meu conselho? Esteja consciente de que você, no começo, será tratado como um bebê e muitas vocês se sentirá um acéfalo, além de precisar entrar no sistema "Canadian experience" que envolve alguns sacrifícios emocionais.

No meu caso, maravilha porque quando saímos do Brasil já sabíamos que eu demoraria bem mais para ter uma renda por aqui (isso na minha área porque trabalho é o que não falta e fome ninguém passa neste país!) e o maridão conseguiria trabalho na área dele (Engenheiro de Telecomunicações) nos 3 primeiros meses e foi exatamente o que aconteceu!

Agora estou escrevendo isso e tocando neste assunto porque fico pensando nas pessoas que - ou vem sozinhas e são da área de humanas ou o casal mesmo mas que , ao invés de ser como o nosso caso, ambos estariam na minha situação. E aí? Claro que sabendo disso tudo antes lá do país de origem daria a estas pessoas muito mais preparo para a “bucha” inicial. E, ao contrário do que muitos podem pensar, isso não faria aqueles que realmente querem lutar por uma nova vida aqui desisitirem do sonho. Ao contrário, ganhariam os imigrantes, a sociedade Canadense que teria os mesmos economicamente ativos em um tempo mais curto. E aqueles que desistissem seria porque realmente chegaram a conclusão que não teriam forças emocional e financeira suficiente para aguentar o tranco. À isso chamo serviço público.

Daí a minha resposta ao autor – Parem de tratar o imigrante como se ele fosse bebê e coloquem nos guias o sistema dos co-ops e da Canadian experience. Se ele vai me ouvir e publicar? Não sei, o que sei é que fiz a minha parte. Ele perguntou e fiz a análise e o próprio ainda finalizou a entrevista dizendo: "Sabe, só hoje você é a terceira que menciona a mesma coisa! Preciso pensar seriamente neste assunto". Eu pensei – mas claro que não disse – AH VÁ!!

Boa semana á todos!

3.7.07

Explorando o noroeste de Ontario no feriado

O nosso primeiro feriado em comemoração ao Canada Day não poderia ter sido melhor. Marcou a nossa volta às trilhas e ao estilo de viajar que mais amamos: o de viajantes independentes com mapas na mão, pé na estrada e espírito explorador. Melhor do que viajar desta maneira só viajando acompanhado de outro casal que aprecia e tem como hábito o mesmo estilo de viajar.

Todo o trabalho de pesquisa do roteiro extremamente bem calculado e inesquecível foi mais uma realização da agência KEEP GOING (Rafael, vou querer comissão pelo reposicionamento de mercado com a criação do novo nome agora mais global J!) que tem como sócios proprietários os vizinhos e companheiros de aventuras Rafael e Liliane (sendo esta sócia majoritária com 51% das ações na TSX e Nasdaq). Esta foi mais uma excelente parceria casal!

Para que outros viajantes independentes tenham o mesmo privilégio de botar o pé na estrada, vou dividir os destaques do roteiro. A começar pela grande estrela da viagem – o Golf do Rafael rodou os 1.205 km com apenas um tanque de diesel custando para tanto míseros $53 dolares! Se alguém me contasse eu não acreditaria! Medalha de ouro em economia para este carro.

Três dias depois de momentos hilários, paisagens de tirar o fôlego (confiram os destaques no segundo álbum de fotos do blog), travessia de barco, colheita de blueberries e o momento auge do encontro com o urso – o black bear - em seu habitat natural graças aos olhos atentos do Maurício e a velocidade de reação do Rafael, cá estamos de volta à Toronto com as energias renovadas!

Saímos de casa às 5h30 da manhã do sábado com direção ao Killarney Provincial Park que fica à nordeste da Peninsula de Bruce que, por sua vez é banhada à leste pelo círculo da Baia Georgiana (formada pelo Lago Huron). Daí o amigo americano que fiz no barco dizer que estávamos fazendo o “big circle” ou seja, a volta na baia formada pelo lago Huron.

No Killarney fizemos a trilha The Crack e, entre ida e volta, “investimos” 4 horas de nosso tempo e disposição física por lá. Não fossem os pontos íngremes da trilha de 6 km para atingir o pico das brancas e maravilhosas pedras espalhadas pelo caminho, a trilha poderia ser considerada fácíl. Entretanto, o parque classifica a trilha como difícil devido aos pontos íngremes de escalada. Quanto mais se sobe e se chega perto de “deus” (sim, porque independente de qualquer crença, para mim, quando atinjo estes pontos nas trilhas chego mais perto do que quer que seja que você queira chamar de algo superior à nós mesmos. Pode até ser a natureza em si! Puro êxtase!) melhor é a vista. E no meio do caminho dá-lhe colheita de blueberries!

Após tanto esforço físico vale a parada para o almoço no tradicional e famoso Fish ‘n’ chips da marina de Killarney. Apreciados os carnudos e apetitosos peixes e fritas sequinhos, seguimos para Sudbury onde nos instalamos, jantamos e passamos nossa primeira noite. Em Sudbury visitamos o Big Niquel e as instalações da INCO-CVRD.

No segundo dia nos deslocamos para South Baymouth para a travessia à bordo do Chi-Cheemaun para um encantador passeio de duas horas até Tobermory na Peninsula de Bruce, prontos para explorar o Parque Nacional da Península de Bruce. Aqui o meu marido teve seu primeiro contato com um réptil Canadense : a Eastern Massasauga Rattlesnake - uma das mais de 180 espécies em risco de extinção em Ontário. Novamente os olhos sempre atentos do Maurício para a fauna. Confesso que durante as viagens em meio à natureza os meus olhos se encantam muito mais com a flora. Especialmente a paisagem que vi no Bruce National Park! Claro que o urso lá no primeiro dia de viagem foi exceção! Isso tudo na trilha em volta do Cyprus Lake acompanhada de magníficas vistas e penhascos da Georgian Bay.

Não contentes em chegar ao extremo norte da Península, lá fomos nós, levados pelo “comandante” Rafael e sua fiel escudeira Liliane, para o Dyer Bay e Cabot Head Lightstation - ponto extremo da Península (o caminho até lá vale a paisagem e mais um centímetro além do que estávamos só de barco mesmo). Passamos a segunda noite em Owen Sound.


No terceiro e último dia do roteiro já estávamos descendo em direção ao sul novamente e fomos parando para conhecer as praias de lago de Ontario: Sauble Beach (poderia ser qualquer cidadezinha do litoral norte de SP exceto pelo ausência de salubridade e no diferencial de temperatura da água por razões óbvias de localização geográfica!). Até caminhar na beira da “praia” com os pés na água eu caminhei. Passamos pela badalada estação de esqui Blue Mountain que, no verão, estava em plena atividade com os campos de golf e hotéis cheios de hóspedes devido à bela localização, Collingwood, Wasaga Beach, Barrie e finalmente Toronto.

Excelente passeio independente pelo interior e “litoral” de Ontario. Se você é como nós que ama uma trilha em parques, além de um estilo mais independente e consequentemente mais barato de viajar, estando em Ontario não pode perder este roteiro nota DEZ!

Procurou pela foto do urso e não encontrou? É, nós também lamentamos a viagem inteira termos perdido o momento celebridade do urso (o carro que passou uns dois minutos antes de nós teve mais sorte para fotografar). O único lugar que ficou gravado para sempre a imagem do primeiro urso que vimos em seu habitat natural (em zoologico não vale) foi em nossas mentes de viajantes independentes. Daí eu amar tanto viajar e ter certeza de que é o melhor investimento que podemos fazer com nossas economias - o que vimos e vivemos vai conosco para sempre. Ninguém tira de nossas memórias, nunca!