14.9.09

3 anos de Canadá

O tempo não anda para trás. A mente é que possui uma capacidade inesgotável de lembrar o que passou e, para tanto, não categoriza. Lembra o bom, o ruim, o feliz, o angustiante...Enfim, revive. Claro que nossa vontade ajuda a deflagrar o que estava guardado disparando as sinapses que nos interessam mais.

Eu particularmente nunca fui muito de datas e rituais formais. Não é de hoje. A última celebração mais formal de uma data específica que me lembro ter participado foram os meus 15 anos. Nada contra grandes e mais formais celebrações, acho até bonito - para os outros. Choro em casamentos de amigas minhas e conhecidos mas eu mesma casei apenas no civil e de lá segui direto para a minha lua de mel (ah, essa sim valeu!). Participo de formaturas e continuo achando lindo, mas em todas as minhas formaturas eu nunca quis participar dos momentos solenes. E nunca participei.

Sou assim. Prefiro achar que todo dia tem algo de muito especial que vem junto com eles e que observo à minha volta quando sinto o cheiro da flor, caminho em meio às arvores, vejo o sorriso de uma criança e sou acolhida no abraço de quem me ama. Sou mais o viver o dia a dia como se fosse o último do que ficar celebrando em excesso determinadas datas em um específico dia pré-determinado.

No entanto, há uma data que eu faço questão de celebrar e lembrar sempre! Ah, essa é sagrada. O tempo de vida que tem o nosso projeto de viver no Canadá. E hoje é o dia em que, há três anos exatos, aterrisávamos no Pearson (o aeroporto de Toronto) para arriscar, sonhar, chorar, sorrir, apostar, acreditar, crescer, aprender, ensinar, tropeçar, cair, levantar e cair de novo. Enfim, viver a mais enriquecedora de todas as experiências de nossas vidas - a imigração.

E como vivemos! E ainda estamos vivendo firmes e fortes na certeza de que fizemos a coisa certa. Aí você se pergunta se a coisa certa é imigrar para o Canadá. E eu respondo não! A coisa certa é seguir os seus mais profundos desejos mesmo que para isso você precise enfrentar enormes dificuldades e ser feliz por estar vivendo o que você escolheu para si e não o que lhe foi impingido!

Estar feliz por saber que, mesmo que a caminhada seja longa (e ela é), os primeiros passos foram tomados e não prorrogados. Que mesmo tendo tropeçado muito no início, a estrada vai ficando menos tortuosa com o passar do tempo. Que mesmo que a saudades de familiares e queridos amigos seja sua eterna companheira, seus entes queridos (aqueles que de fato te amam) estão felizes por saber que você está escrevendo a sua história!

E sempre lembrando que, ao contrário do tempo que não anda para trás e a montanha que insiste em ficar lá parada (como canta meu eterno ídolo Arnaldo Antunes), nós temos a obrigação de continuar escrevendo o nosso enredo de acordo com a melodia que mais nos encanta ao coração. Por isso, vamos pegar as sementinhas que plantamos nestes últimos 3 anos de Canadá e trabalhar duro para que elas um dia gerem frutos nessa vida que escolhemos para nós. Mesmo que para isso tenhamos que esperar os mesmos 10 anos que o pé de jaboticaba do quintal dos meus pais demorou para dar os primeiros frutos. Resultado : hoje, 24 anos depois, o pé continua lá dando belas e doces jaboticabas... Sempre!

Feliz aniversário de 3 anos para nós!

1.9.09

Férias de imigrante

Estive pensando. O estado de ser imigrante deveria estar catalogado entre as profissões como engenheiro, médico, enfermeiro e assim por diante. E, regulamentado como tal, o imigrante "profissional" deveria, obrigatoriamente, gozar de férias frequentemente para manter sua sanidade mental em dia. Claro que as regras deveriam ser claras, como já diz Arnaldo Coelho, ou seja, em dois anos na carreira de imigrante a obrigatoriedade de férias pelo menos uma vez por ano e a partir de 3 anos na labuta, duas vezes por ano e assim sucessivamente.

Quanto mais tempo na carreira de imigrante mais importante para a sanidade mental do imigrante sair de férias. Detalhe importante da nova lei promulgada por mim : o destino das férias não pode ser qualquer um mas sim o país de origem do imigrante em questão. Portanto, no caso de brasileiros imigrantes espalhados mundo afora o destino: Brasil. Sim, porque não se trata apenas de visitar locais nunca dantes navegados ou explorar novos destinos, situações e culturas. Lembrem-se, isso o imigrante faz todos os dias em sua carreira exploradora e muitas vezes sofrida.

As férias neste caso seriam de um estado mental e emocional de ser imigrante que , por mais que o tempo passe e o mesmo se adapte à tudo em sua volta, lá onde ele está, em qualquer que seja a parte do mundo longe de suas origens, ele sempre será imigrante! Aos pouquinhos cresce, adquire mais conforto, faz amigos e as coisas vão melhorando mas mesmo assim, eternamente o estado de espirito está lá.

Aí, o imigrante volta para o seu local de origem para passear. E essa sou eu agora, gozando de merecidas férias do estado mental de imigrante na minha terra natal. Prestes a completar 3 anos na carreira de imigrante (dia 14 de setembro mais especificamente), revigoro meu espírito quando ando pelas ruas de uma pequena cidade do interior de SP que, mesmo vindo uma vez por ano, as referências todas de minha vida pré - imigrante estão lá. Além, é claro de pessoas que (aqui estou excluindo familiares e amigos. As chamaria de conhecidos) fizeram parte de toda a minha história e até hoje, não importa quanto tempo fico longe, tratam-me com o mesmo carinho e sorriso no rosto de outrora. Isso revigora, dá forças e energia para, no pós férias, voltar para a carreira de imigrante.

Quem já imigrou, está ao menos um ano longe de suas raízes e já gozou de suas férias de imigrante, sabe bem a diferença entre a atmosfera vivida pelo "profissional" imigrante em sua árdua batalha mas que nem por isso deixa de ser prazerosa por vezes, e aquela vivida em sua terra natal, independente do tempo de "profissão" .

Sim, gozo de férias no Brasil neste momento e vivencio como se fossem os últimos cada momento vivido onde não sou apenas mais uma imigrante mas sim alguém com história, passado, referências. Não que andar para frente, explorar e ter planos não sejam importantes mas é que isso, uma vez que se é imigrante, faz-se a cada segundo por todo sempre e, pelos primeiros 5 anos apenas construindo alguma história, ou seja, sem passado no local escolhido. Aí , naturalmente faz falta voltar de vez em quando para onde você enxerga no rosto do outro o que outrora passou.

E claro, sem falar em quão revigorante é dar uma passadinha na feira para comer um pastel, bater um papo descompromissado no boteco da esquina, molhar a horta, sentir o cheiro da terra e viver o momento das férias para, no retorno , continuar a enriquecedora mas muitas vezes desgastante "profissão" de imigrante!