31.1.07

No submundo das marcas


Philip Kotler e seus “pupilos” - estudantes e profissionais da arte de administrar o posicionamento estratégico das marcas - vão nos perdoar mas desde que entramos para a categoria “Imigrantes”, não fazemos outra coisa senão consumir produtos que eu carinhosamente os posicionei como pertencentes à categoria - SUBMUNDO DAS MARCAS.

Basta bater os olhos nas gôndolas por aqui para identificar duas “marcas” que, por razões óbvias de preços mais acessíveis, fazem a felicidade do imigrante e tornaram-se predominates em nosso lar Torontense - No Name (como o próprio nome diz “Sem nome”) e PC (President´s Choice - por mim batizada de a marca do presidente) ambas marcas do Loblaws o mercado onde faço compras.

Eu nunca fui uma pessoa muito ligada em marca. Sempre fui mais pela relação custo-benefício “ficou bem em mim ou gosto + posso pagar?” independente de marca. Claro que em nossa posição econômica mais confortável no Brasil acabávamos nos permitindo uma marquinha preferida aqui e outra acolá no que dizia respeito à comida e alguns accessórios.

Agora se tem uma coisa que eu nunca consegui me convencer de comprar no Brasil é OMO que custava o dobro comparado à outras marcas por conta de posicionamento de mercado. Não havia profissional de Mercado no mundo que conseguisse me convencer que as bolinhas azuis com cheiro do ártico custavam o dobra devido à sua múltipla ação de limpeza! Passa mais tarde. OMO baby??? Até nicho de Mercado tem limite.

Então, mesmo no Brasil, sabia bem que nem sempre uma marca bem posicionada e mais cara poderia me entregar melhor o benefício do produto se comparada à outras mais baratas. Por aqui, tem sido interessante constatar que, não raras vezes, produtos No Name acabam sendo mais gostosos (no caso de comida, sim porque vc encontra de um tudo desta marca ou não marca) comparados à marcas bem conhecidas.
A minha útlima constatação foi no duelo achocolatado em pó da Nestlé (marca exclusiva do Mercado daqui que não me lembro agora o nome) X achocolatado em pó No Name. O primeiro eu achei sem gosto e sem açúcar, já o da No name foi direitinho no meu paladar. Resultado - além da economia, no fim das contas, algumas coisas acabam sendo até mais gostosas.

Claro que conforme vamos conseguindo respirar um pouquinho mais por aqui, a tendência é que voltemos a usar determinadas marcas de produtos famosos e que estávamos habituados. Entretanto, muitos ítens do submundo das marcas tenho certeza vão acabar ficando e é por isso que eu acho que os “pupilos” do Kotler por aqui poderiam começar a pensar no seguinte claim - “No Name e PC - entendem a necessidade básica do imigrante em economizar e entregam os produtos com os melhores preços do Mercado” . Algo nesta linha.

29.1.07

Celebrando o Inverno


Sábado que passou fomos, acompanhados de nossos vizinhos, aproveitar as atrações gratuitas do Festival de Inverno de Toronto. Até o dia 8 de fevereiro a cidade vai “celebrar” a estação com inúmeras atrações entre shows, exposições, teatro, dança e, como não poderia ser diferente, vamos aproveitar ao máximo o que a cidade tem para oferecer.

Eu particularmente estou AMANDO o inverno daqui e nada melhor do que um Festival de Inverno (de verdade!) para curtir ainda mais o clima. E lá fomos nós para a Nathan Philip Square apreciar o espetáculo da cia Italiana de teatro. Encanta aos olhos e agrada aos sentidos. Sem contar a neve que contribuiu para tornar o cenário ainda melhor.

Conferimos também a colorida exposição de pintura no Gelo, o grande globo de neve instalado na praça e nos divertimos muito na companhia agradável dos nossos vizinhos. Nos restam ainda mais dois fins de semana para aproveitar e muitas atrações para conferir e o que é melhor - gratuitamente.

24.1.07

Você se lembra dos meus cabelos?

Ai os meus cabelos…Você se lembra dos meus cabelos? Eu me lembro bem de quando eu podia mantê-los longos e bonitos apenas à base de shampoo, água fria e com a visita periódica ao salão de beleza para manter o corte e a hidrataçao.

Os tempos são outros. O clima, a água e o estilo de vida também. Ah! Eu também sou outra (de acordo com a filosofia budista a cada minuto que passa somos seres modificados por tudo que vemos e sentimos) e nada mais apropriado e justo com as minhas madeixas - que sofreram os ultimos 4 meses com toda a falta de cuidados de alguém que estava mais preocupada em arrumar lugar para morar, alimentar-se, ou seja, com coisas mais vitais nos primeiros momentos da saga do imigrante - do que uma visita ao salao de beleza.

Ah o salão de beleza! Neste momento de minha vida terei que discordar do bom cantor e compositor Zeca Baleiro que um dia ousou compor que “há menos beleza num salão de beleza do que a própria beleza (sua) que é bem maior do que qualquer beleza de qualquer salão”. Poético.

O que para mim já estava mais para tragédia grega do que para romance, era um cabelo pesado e morto devido aos 5 meses sem ver uma boa tesoura, aos sistemas de aquecimento necessários no inverno daqui e ao próprio tempo seco de Toronto. Lá fui eu para o salão de beleza. Lembram dos meus cabelos? Eram longos… a Megy cortou. Adorei o corte Canadense - mais prático e fashion também - claro que não dá para dizer que ficou curto. Entretanto, para quem tinha cabelos longos como os meus, cortar duas palmas das mãos inteiras - cerca de 10 inches para a Megy - foi uma excelente operação resgate necessária.

Aos poucos a vida vai entrando nos eixos e só quem já está aqui sabe como detalhes aparentemente sem importância no começo vão nos deixando mais confortáveis. A cada dia que passa e barreiras que vamos quebrando nos sentimos mais confiantes (não sei quem inventou que tudo que vamos fazer pela primeira vez temos que duvidar se de fato vai ficar bom ou não.. Deixo para o pai da psicanálise tentar explicar isso) .

Com o corte do meu cabelo não foi diferente, fiz minha tarefa de casa (como iria dizer gosto de usar franjão, pode cortar uns dez dedos?), pesquisei os preços, lugares e no fim, quando já não aguentava mais tanto cabelo caindo de fraco, entrei no salão aqui do lado de casa e passei umas horas muito agradáveis lá. Havia me esquecido como fazia bem este bate papo niilista de salão de beleza. Bem, já tenho a minha cabeleireira em Toronto.

Agora só faltam o dentista, o gineco, a manicure……

19.1.07

Domando o idioma de Shakespeare

Não que eu tenha domado completamente o idioma de Camões, Machado de Assis, Fernando Pessoa, Guimarães Rosa, José Saramago e tantos outros mestres da última flor do lácio, inculta e bela. Entretanto, ter nascido em solo brasileiro, adquirido o gosto pela leitura desde a mais tenra idade e, mais tarde, ter escolhido uma carreira que prima pelo uso do idioma, deu-me a capacidade de poder, senão domar totalmente, dominar um pouco o nosso, muitas vezes, tão surrado português.

E uma vez que escolhi para viver, trabalhar e estudar (sim, estudar sempre!) um país, digo uma província dentro de um país, onde o idioma ingles é falado, nada mais adequado ao meu perfil (quem me conhece melhor sabe o quanto amo livros, escolas, estudos e idiomas em geral) e aos meus objectivos de vida do que aprofundar-me no idioma de Shakespeare.


Para tanto, ontem dei os meus primeiros passos nesta longa e prazerosa (pelo menos para mim o é) caminhada. Comecei um curso de writing skills no Seneca College onde estarei às terças e quintas das 7 às 10 da noite até o fim de março. Pela primeira aula já pude ter certeza que trata-se de um ótimo curso que aproveitarei bastante. Vinte alunos em sala, uma excelente e nativa professora e um livro de primeira, totalmente adequado ao meu grau de domínio do idioma, ou seja, o pré teste que eles me aplicaram para dizer quais os módulos de cursos que eu estou apta à frequentar funciona.


O Maurício também vai estudar lá mas em um outro curso, não somente porque temos grau de domínio do idioma diversos, mas também por conta de uma de nossas filosofias de, sempre que podemos, não frequentarmos a mesma sala de aula para um não atrapalhar o desenvolvimento do outro, afinal somos pessoas diferentes com habilidades e necessidades diferentes. Ele só está esperando começar a turma apropriada para ele.


Enfim, já estou adorando a escola, o curso e principalmente o fato de ir à noite. Para quem já está aqui no Canada e ainda não andou em meio à uma região alta (como em volta da Seneca) com bastante neve acumulada ao redor durante à noite, eu RECOMENDO! A neve acumulada fica mais bela ainda durante à noite! E a fila ultra mega organizada no ponto de ônibus (que ainda não havia chegado) e que continuou daquela maneira quando o ônibus parou para todos entrarem. Sem comentários, ou melhor não aguento, estes são daqueles pequenos detalhes que eu mais aprecio e fazem toda a diferença no cotidiano!

Este post foi uma homenagem ao meu querido irmão Pedro Paulo (outro amante das letras) que dia destes, em conversa sobre as fases de paciência que o imigrante precisa passar no início de sua jornada, citou trechos de duas obras do FERNANDO PESSOA : "Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À PARTE ISSO, TENHO EM MIM TODOS OS SONHOS DO MUNDO“. (in Tabacaria) e “Cada coisa a seu tempo tem seu tempo. Não florescem no inverno os arvoredos, Nem pela primavera Têm branco frio os campos." (in Cada coisa a seu tempo tem seu tempo).

15.1.07

E a neve chegou!


Hoje finalmente tivemos a primeira tempestade de neve em Toronto. Tempestade é o termo que os meteorologistas usam quando nevou o suficiente para acumular neve nas ruas. E desta vez, entre 5 e 10 centímetros de neve eram esperados e vieram.

Eu já havia visto neve antes mas na condição de turista e em estação de esqui o que não é a mesma coisa. Agora sim, não sou mais turista, moro onde sempre quis morar e tenho neve no meu dia a dia durante o inverno como sempre sonhei. Justamente por isso não poderia deixar de registrar o momento.

Já sabendo que toda a magia do branco da neve acumulada vira lama pura depois do pisa-pisa das pessoas e do movimento dos carros na rua, esperei a tempestade diminuir e saí dar uma volta pelos quarteirões de casa. Fiquei uma hora caminhando sobre a neve, fotografando e sentindo tudo!

Claro que escolhia sempre a neve fresquinha e branquinha para pisar, uma delícia ! Imaginem eu, que sempre fui mais de frio do que de calor, caminhando em volta de casa com tudo branco e geladinho. Como não havia vento estava uma delícia para passear com o cenário em volta. Não encontro palavras para descrever o que senti.

E mesmo sabendo que esta neve branquinha passa por vários estágios variando de lama até zonas de perigo para escorregarmos nas ruas, continuo gostando muito dela pois carrega consigo a mesma essência da água dos rios na natureza - está em constante mudança.

Inverno seja muito bem vindo!

12.1.07

E o País do Hockey abre espaço para o Futebol...

Como amante dos esportes em geral (especialmente de futebol) que sou, não poderia deixar de registrar o que estou vendo nos jornais e telejornais por aqui após o anúncio da ida, em agosto de 2007, do David Beckham - 0 atleta/modelo (os meninos me desculpem mas mesmo uma senhora bem casada e resolvida como eu não poderia deixar de notar a elegância do moço além campo) para o L.A Galaxys da California.

Foi a primeira vez, em 4 meses, que vi o Hockey perder espaço para o SOCCER (nosso futebol). E eu, na categoria de imigrante recém-chegada que, além de gostar de esportes, quer integrar-se e bater papo furado com Canadenses o mais rápido possível, já estou até começando a entender um pouco das regras do Hockey e acompanhando a NHL .

Mas hoje lembrei-me da paixão pelo futebol. Eis que estou aqui no meu horário de almoço assistindo ao jornal quando entra, ao vivo, a coletiva de imprensa com os executives do LA Galaxy colocando o marido da ex-spice girl para falar. Saem os jogadores desdentados (sério!) de Hockey , entra um David Beckham em traje de gala e com todos os dentes em seu largo sorriso, além do sotaque britânico que eu adoro ouvir.

De repente percebi que é por isso que gosto do Hug Grant e do Hugh Laurie (o Dr. House do meu seriado preferido). Amo o sotaque britânico!

Enquanto escrevo, o jornal continua a falar de SOCCER !! Impressionante o efeito de um jogador Europeu chegando em um país que não tem tradição no esporte. Não em nível mundial como países Europeus e Latinos mas basta passar uns meses nos EUA para perceber como o esporte é praticado nas ruas e nas escolas e o mais legal pelas MENINAS! Foi o que mais adorei ver quando estive por lá. Desde criança sempre detestei rotulações “isso é para menina e isto é para menino” (erg)

E quando soube do anúncio fiquei só imaginando a empolgação daquelas pequenas praticantes do esporte quando Beckham visitar suas escolinhas e vamos combinar que até os meninos vão adorar! O que não é difícil pois o mesmo já possui uma escola de futebol na terra do Tio Sam.

Outra coisa que me veio à mente é que os Estados Unidos estão se tornando um celeiro para os atletas quando querem dar início às suas aposentadorias. Vide o malemolente Romário. Claro, sei que ele vai jogar mas vamos e venhamos né? Quem jogou no Manchester e no Real Madrid(o time das estrelas milionárias) jogar no LA Galaxy está mais para desacelerar e curtir o estrelato em Hollywood do que qualquer outra coisa.

Felizes devem estar os paparazzi e as meninas praticantes de futebol nos Estados Unidos !!

Ótimo fim de semana para todos!

11.1.07

Está faltando TV para os moradores do condomínio


Explico - eu e meu querido marido temos ido para as instalações de atividades físicas do condomínio (piscina e academia com aparelhos de musculação, esteira, afins e TVs). Quando ele chega do trabalho vamos. Ele todos os dias e eu dia sim, dia não.

Confesso que eu preciso me esforçar um pouco para fazer exercício em locais fechados. Sempre amei fazer atividade física mas sou muito mais uma pessoa outdoor do que indoor (assim que eu puder e meu dinheiro der, quando for gente grande aqui no Canadá vou esquiar!). Enquanto isso…

Devido à mudança nas condições normais de temperatura, pressão e umidade relativa do ar, estou trabalhando para readaptar meus hábitos a fim de movimentar o corpo. Apenas lembro alguns fatos - por volta das 19 horas, a temperatura lá fora nesta época do ano está por volta de 7 graus negativos, o aluguel que estamos pagando nos oferece estas instalações, ou seja, não gasto com academia, acompanho meu marido e ainda me divirto observando cenários priorescos. EXCELENTE relação custo benefício.

Ah! E quando os 7 graus negativos viram 0 ou até 1 grau positivo aí sim eu vou patinar no gelo á céu aberto (também sem nenhum custo adicional). Tem acontecido às vezes mas a tendência agora com a chegada de fevereiro é eu fazer cada vez menos isso - se o aquecimento global deixar é claro.

Uma vez dito isso, não podia deixar de registrar as cenas que tenho acompanhado por lá. É um que faz exercício de agachamento assistindo aos seu seriado preferido (independente do estilo, confesso que tenho um bloqueio para séries com aquelas risadinhas forçadas ao fundo - quem sabe agora me acostumo pois é o programa preferido dos frequentadores da academia) .

O outro que pedala vendo o jornal e comentando nos mais variados idiomas existentes na face da terra. A predominância é asiática (alias, asiáticos na academia é covardia! com aquele biotipo magrinho deles só servem para deixar os não asiáticos iludidos pensando que malhando chegam lá.. Haha). No meu caso é só para oxigenar o sangue mesmo e trazer alguma adrenalina para que o cérebro processe e mande a famosa sensação de bem estar tão importante para equilibrar situações de stress na vida. Química pura!

E por falar na Ásia, dia destes a simpática mocinha deste canto do planeta (falo isso para não correr o risco de errar - ainda não consigo diferenciar chineses de koreanos pela feição mas em um ano morando aqui prometo que serei capaz. Já consigo perceber a diferença do som quando eles falam) pára sua corrida vira para o nosso lado (estávamos eu e o Mauricio um em cada esteira ao lado dela) e pergunta - posso mudar de canal?

O Mauricio prontamente diz - claro que sim e eu prontamente penso (claro que sim, para assistir o meu programa preferido na TV eu fico em casa. Aqui ela é apenas uma distração - tantufass!) . Quando ela olhou no relógio, mudou o canal e o filme que começava era Kill Bill comecei a suspeitar sua origem.

Só pude tirar uma conclusão - na casa dela há muita gente para pouca TV e ela vai fazer esteira exatamente na hora que o filme favorito começa. Não deixa de ser esperto mas vamos combinar que é no mínimo curioso!

Este post foi uma homenagem à minha querida amiga e companheira de tantos anos Leslie Diorio. Lé, não dá para subir em uma esteira e não lembrar de você! Beijos e espero que o seus tornozelos a estejam permitindo praticar os exercícios e caminhadas de sempre!


RECADO PARA O GUSTAVO (ASSESSOR DE IMPRENSA QUE ME PEDIU DICAS) - Gustavo, eu adoraria te ajudar mas você se esqueceu de deixar o seu e-mail. Fica muito extenso postar aqui a minha resposta. Assim que vc me mandar o seu contato lhe envio o que pediu ok?

9.1.07

Os meus primeiros passos como potencial funcionária padrão

Meu querido diário (alguém lembra disso?),

Hoje resolvi escrever sobre as fases de adapatação que o imigrante (com o meu perfil e mesma área de atuação profissional no Brasil) encara para entrar no mercado de trabalho em Toronto. Em algumas horas vou para a info session (eles gostam de chamar palestra que passa informações desta maneira) sobre o co-op que pretendo começar a frequentar dia 5 de fevereiro.

Fatos que elucidam e facilitam a vida de quem me lê e nunca me viu “mais gorda” (sempre achei esquisita e engraçada ao mesmo tempo esta expressão):

CO-OP Placement Program (pareceria entre escolas e empresas) - maneira elegante que Toronto adotou para entitular os ESTÁGIOS NÃO REMUNERADOS e que acaba sendo utilizada ou por estudantes que nunca trabalharam e precisam ganhar experiência na área de estudo (além de ganhar créditos para o high school) , por trabalhadores mais velhos que por um motivo ou outro ficaram muitos anos fora do Mercado e ……TCHARAN...Imigrantes recém-chegados que não possuem CANADIAN EXPERIENCE e atuam em áreas mais, vamos dizer, HUMANAS e/ou em menor demanda.

Por motivos óbvios e ululantes, para os profissionais de EXATAS (os Its, engineers e analistas da vida) a inserção no mercado de trabalho acontece de maneira mais rápida. Não vou dizer que é mais fácil porque seria uma tremenda de uma injustiça, pois quem está aqui e acompanha estes meninos (meu marido incluído) sabe o valor deles e o quanto de trabalho e transpiração há por trás dos empregos que eles conseguiram. Mesmo para uma área onde 4+4 = 8 em qualquer lugar do mundo.

Bem, mas voltemos à minha pessoa que sempre amou ler, escrever e falar e sempre foi muito melhor no ofício com idiomas em geral (vou morrer, ou melhor, viver estudando idiomas estrangeiros!) que fazendo continhas. Já dizia meu querido pai nos meus tempos de colégio- “Filha, foque nas suas habilidades. Cálculo é um dom. Estude apenas o suficiente para passar no vestibular e fazer o curso para o qual você realmente possui habilidades”. E o meu sábio pai estava certo! As always…

A minha formação é em jornalismo (Faculdade Cásper Líbero) e a área de atuação onde possuo, ou melhor, possuía no Brasil 7 anos de experiência é um dos ramos da Comunicação conhecido como assessoria de imprensa. Dentro dele há a categoria empresarial (dentro das empresas) e atendimento ao cliente (em agencias de comuniçação).


Neste ramo, atuei 3 anos em agência (dos quais sempre lembrarei com carinho do primeiro mestre Luiz Carlos Franco e dos eternos amigos Leslie, Renato, Francini, Jota, Jorge, Flor, Patricia, Zuina que fiz lá e que trago até hoje comigo) e os últimos 4 anos de Brasil mais focados em comunicação empresarial na Johnson & Johnson de onde trago comigo as amizades da ex gerente Lais Mazzola sempre alto astral, do Re, Bruninha, Caldeirinha, Leslie e Zuina (sim estas duas de novo lá da agência)

No Brasil, havia direcionado a minha carreira para o que mais gosto de fazer - consultoria em Comunicação empresarial. Passei os últimos 4 anos fazendo isso na Johnson & Johnson. Adorava o que fazia mas quando deixei a patria mãe tinha plena consciência de que o estava fazendo não em busca de carreira, dinheiro, cargos e tudo mais. Sim, eu sei, precisamos trabalhar (e para mim trata-se muito mais do que apenas pagar contas mas como realização intelectual mesmo de fazer o que gosto que sempre foi o caso), crescer, etc…

Mas o que quero dizer é que a minha saída do país não guarda absolutamente nenhuma relação com o campo profissional. Tanto que quem me conhece há mais tempo sabe que saí do Brasil topando até mudar totalmente de ramo de atuação caso precisasse. Se eu fosse uma pessoa que tivesse a carreira como o motivo número um de realização pessoal deveria ter ficado no Brasil mas como não sou cá estou….

Quase 4 meses depois de ter aterrisado em Toronto, frequentar curso de introdução ao mercado e à sociedade canadense, viver a própria sociedade , acompanhar noticiário, hoje posso dizer que dá para atuar na mesma área do Brasil mas não sem antes seguir os BABY STEPS para tal. Caso contrário, volto à regra do Brasil de mudar de ramo sem problemas..
Mas vamos à caminhada, ou melhor, engatinhada para tal...

1- Frequentar por um mês o NOW - etapa cumprida!
2- Aprender novas técnicas de abordagem na busca por emprego e deixar kit pronto - etapa cumprida!

3- Aprender os nomes usados para as vagas que encaixam no que fazia no Brasil. Parece detalhe mas nas aplicações e buscas on-line faz toda diferença.

3- Pesquisa de Mercado e habilidades que empregadores candadenses buscam na minha área - em andamento e aí começa o “pipoco”. Naturalmente, o mercado daqui guarda muitas diferenças de técnicas que preciso buscar e estudar e que no Brasil não precisava.

4- CANADIAN EXPERIENCE - por mais experiência que eu tenha na minha área de atuação ela é toda no Brasil e aqui precisamos comprovar tudo isso.. Dá-lhe traduções, cartas de referências, estudos e muito mas muito trabalho… O mais engraçado é ler os anúncios das vagas pedindo exatamente o que tenho (ou melhor tinha no Brasil) de tempo de experiência e saber que sou capaz de fazer tudo que eles pedem MAS…………………lack of Canadian experience. Aí entra o Co-op.

5- Retomar o meu Francês - em 98% das vagas na minha área o francês, além do ingles é claro, é um diferencial e tanto. Não somente psicológico, dobram os salários das vagas para profissionais bilingues (leia-se inglês-francês) . Bendita vocação de adorar idiomas e já ter feito 4 anos de francês no Brasil por puro prazer e continuarei aqui, quando der, unindo o útil ao agradável.

6- Começar o estágio e colocar a mão na massa literalmente!

O resumo da ópera do imigrante (gostei, no lugar de ópera do malandro) é este.
Para quem pretende imigrar, na minha opinião, o mais importante de tudo é ter um real e bem firme propósito e saber muito bem a razão e/ou razões pelas quais está deixando o Brasil, além de ter a plena consciência de que imigrar é uma cartilha de RES - RENASCER, RECOMEÇAR, REINVENTAR, REPLANEJAR e READAPTAR SEMPRE!

Assim fica até mais fácil voltar a ser estagiário (e não remunerado) depois de 7 anos na labuta …Segredo ? viver o agora e aproveitar ao máximo as chances que aparecem. O ontem? Ficou para trás… só ficam comigo os bons momentos vividos, os queridos amigos e família e os conhecimentos adquiridos. Misturo bem e utilizo da melhor maneira possível na minha atual realidade. Isso costumam chamar ADAPTAÇÃO.




7.1.07

Quebrando recordes bons e não tão bons assim

Nesta semana que passou dois recordes foram batidos, um pelo Canadá e outro por Toronto. Um bom, outro não tão bom assim.

A boa notícia. De acordo com o Statistics Canada, o país fechou 2006 com uma taxa de 6.1% de desemprego, a mais baixa em 30 anos e o melhor comportamento do Mercado Canadense desde o ano de 2002, com a criação de 345 mil postos de trabalho. Veja o estudo na íntegra.

A não tão boa assim. Dia 5 de Janeiro de 2007 entrou para a história de Toronto por ter batido o recorde de temperatura mais alta para a estação desde o ano de 1997. Durante o dia, a temperatura chegou aos 11 graus POSITIVOS quando a máxima deveria ser de 2 graus NEGATIVOS!

Não se fala em outro assunto nos telejornais e com razão. Por conta dos já tão perceptíveis efeitos do aquecimento global, as estações de esqui e resorts de inverno estão sofrendo o impacto em seus negócios. A estação de esqui Blue Mountain, maior de Ontario, cortou 1.300 functionários após ter fechado suas operações no meio do inverno pela primeira vez em 65 anos de existência.

Dá pena de ver os Zambonis (caminhões que passam pelas pistas de gelo tirando o excesso de neve) descarregando água no lugar de neve. A maior pista de gelo no centro da cidade esta semana virou piscina devido às altas temperaturas.

Pode até parecer gostoso, à curto prazo, curtir um dia mais agradável por aqui mas é certo e preocupante que, à longo prazo, a natureza vai dar o seu revés. Se a neve não chega agora, em algum momento e fora de época, ela poderá vir mais forte ainda dizem os especialistas. É, parece que o mundo vai precisar começar a rever suas políticas ambientais sériamente ou então terei que tomar duas providÊncias…

- MUDAR O NOME DESTE BLOG e ME MUDAR PARA O ALASCA em busca de neve e mais frio.

Espero não ter que fazer nem uma nem outra.

3.1.07

E o moço do gás bate à porta...

Não, não aquele do famoso caminhão que ecoa a musiquinha estridente e repetitiva responsável por me acordar domingo sim, outro também nos tempos de Brasil! Imaginem como eu adorava aquilo! (sim, sei a origem da música mas mesmo assim).

Pois bem, um dos vendedores que bateu à minha porta dia desses foi literalmente o do GÁS - a commodity sabe. Ah tá…. Vamos à realidade nua e crua dos fatos :

DIA 1

O casal ouve dois sonorous “KNOCK KNOCK” on the door… A esposa abre a porta sem utilizar o “olho mágico” (isso que dá não morar mais na tensão diária de SP “capitar“).

Do outro lado, o moço de dois metros de altura usando um sobretudo preto, um crachá até então não identificado por mim e com um sorriso de orelha a orelha inicia o diálogo da inusitada cena em minha vida.

- Hi…. Estou procurando pela pessoa responsável pela conta da Enbridge (fornecedora de gás natural e energia elétrica). Ao ouví-lo, mais que prontamente disse - sou eu mesma moço (esta conta esta em meu nome).

- Posso ver a sua conta?

Coincidentemente, eu estava com a Enbridge na cabeça me perguntando se um dia eles vão querer cobrar o nosso primeiro mês e nos enviar a conta para que possamos pagar. Nossos vizinhos já haviam nos alertado que o sistema de contas por aqui é bem confuso de entender no começo e difícil de planejar. (Ai que saudades do tempo em que eu sabia a data de vencimento de todas as contas!)

Voltei para dentro de casa e, ingenuamente, disse ao marido se tratar do pessoal da Enbridge e que eu estava aproveitando para entender quando viria a nossa primeira conta…..Ser imigrante é padecer no paraíso!

Quando voltei para o Neo e conversei um pouco mais com ele pude entender que não se tratava da Enbridge mas sim da Direct Energy que, no dia seguinte fui entender que nada mais é do que a dona da Enbridge , compliciou? Você é normal.

Vamos lá - A Enbridge apenas distribui o Gás natural que chega às nossas casas e a Direct Energy é a “dona” do gás, fornece a commodity para a Enbridge.

- Moço, veja bem, não vou preencher e assinar um formulário inteiro de um plano “sei lá das quantas” sem antes falar com o meu marido (Encenar a esposa “submissa” sempre foi uma das técnicas milenares por mim utilizadas para me livrar de vendedores e ganhar tempo para pensar e entender melhor as coisas - neste caso a segunda alternativa é muito mais verdade. )

- Eu mesmo preencho para a senhora , bla, bla , bla…
- Eu tenho um prazo para fazer isso?
-2 semanas
-Então pronto . Pode deixar comigo que eu entro em contato. Boa noite, passar bem e recomendações aos seus.

Peguei o folheto de 4 páginas cheio de asteriscos no rodapé, guardei e disse ao marido que seria a minha tarefa de casa ler aquilo e entender melhor pela manhã.

DIA 2

Dois dias depois, mais ou menos no mesmo horário, bate à porta outro moço muito parecido (desta vez utilizei o olho mágico)… Parafraseando o vizinho Wander, o moço era “Matrix” total - só faltavam os óculos escuros pretos.

Pensei comigo, ele já voltou?

Não , era outro cara de outra empresa e concluiríamos, depois de estudar o assunto por algumas horas, que se tratava de uma concorrente oferecendo o mesmo plano.

- Neo fala - quem é o responsável pela conta do gás?
-Paula responde - está falando com a pessoa certa ..(Lá vou eu de novo ..)

O sujeito agora representa a Ontario Energy Savings e, ao contrário do primeiro, foi bem mais vendedor explicando tudo , mostrou gráficos (sabe que a minha paciência para isso ficou bem maior depois que mudei para cá pois sempre penso que estou praticando inglês nas situações mais variadas do cotidiano e a grana que custava para simular isso tudo em escolas de idioma com professores não nativos lá no Brasil) comparou os preços do gás natural de 2000 até 2006...

Pegou o meu nome e fone e disse que a empresa me ligaria em duas semanas….Entrei processando as informações e disse - marido, esta era outra empresa me parecendo oferecer a mesma coisa só que me pediu para assinar um papel dizendo que os autoriza controlar e garantir que a Enbridge não praticará variação nos preços mensais do gás pois enquanto commodity, o mesmo varia de acordo com o Mercado (bendito estágio na Bloomberg e curso de jornalismo finaceiro que fiz na BM&Fno início da carreira!!).

-marido - o que estava escrito no papel que assinou ?

-esposa - Exatamente o que acabei de dizer e também que eu estou protegida pelo Consumer Protection Act, 2002 que diz que eu posso cancelar qualquer coisa (mesmo tendo assinado) em dez dias a contar da data de hoje….

- ele te deu algo? Papel , recibo ..
- nada

Um olha para a cara do outro e o outro para a cara do um … sensação esquisita de não entender o que está acontecendo (a gente se acostuma com ela na condição de imigrante recém-chegado mas ela continua sendo esquisita).

Esposa inquieta coloca no canal da TV que nos mostra o entra e sai da recepção (sim, temos big brother particular) e visualiza o moço que ela assinou o papel saindo….

-Esposa temendo se tratar de um SCAM - Vou até a recepção perguntar quem é e de onde é este sujeito(já achando super esquisito baterem nas portas de todos em um condomínio .. Lá em SP os murais do condominio nos avisavam.. Hoje vc receberá a visita da dedetizadora x , etc… mas é a tal história,, somos novos aqui, não sabemos ainda como o sistema funciona e vamos dançando conforme a música ou a ausência dela).

Esposa - Marido vamos comigo.. Quatro ouvidos e dois cérebros ouvem e entendem melhor o que se passa ou não…

Nos preparávamos para descer quando dei de cara com o outro representante no corredor.

Não tive dúvidas, agora entra em cena a Paula repórter de campo (por redirecionamento de carreira, a última vez que fiz isso profissionalmente faz muito tempo mas faço diariamente na vida eheh) ..

Paula perguntava e marido ouvia…

-oi, vc poderia me explicar melhor umas coisinhas…(para que meu marido tambem ouça…o jogo da esposa “submissa” de novo).

Quem vc representa? Como isto funciona ?

Assinei um papelzinho com o seu colega que acabou de sair e ele não me deu nada…

Como não!!! Então aquilo que você assinou não me vale nada… (eu pensei UFA!)

Bem, aí fomos entender que o moço que batera na minha porta era novo no ofício, atrapalhou-se e não fez nada do que era para ter feito.

Perdemos mais um tempo com este que nos apresentou a empresa, os folhetos, deixou a proposta conosco, etc…Voltamos mais aliviados por entender um pouquinho mais tudo o que estava acontecendo..

Conclusões

- Pelo que percebi o condomínio permite que representantes de empresas devidamente uniformizados e com crachás batam de porta em porta para fazer o famoso ‘door to door selling” (era isso que eu temia, a volta dos tempos do interior quando eu morava em casa e batiam na minha porta direto… esta era uma das pouquíssimas vantagens que eu encontrava em morar em prédio em SP.. Nem o cara da pizza podia subir por razões óbvias de pânico até de nossas sombras.. Como aqui não há isso…)

- A Enbridge distribui o gás natural, processa e envia a minha conta mensal ou bimensalmente ou quando eles concluirem que já está muito grande o gasto (jesus!)-A Direct Energy é fornecedora do gás natural que a Enbridge distribui e também sócia majoritária, vulgo dona da Enbridge.

-E a Ontario Energy Savings é outra fornecedora do gás (concorrente da Direct Energy - eles dizem que não mas é).- Em Ontario, a energia elétrica é subsidiada pelo governo, portanto os preços controlados pelo mesmo. Já o gás natural , enquanto commodity, não passa pelo controle do governo e o preço oscila de acordo com oferta e demanda e intempéries do Mercado. (daí as ofertas de planos para controlar isso)- Os representantes que batem à sua porta são todos figurantes e dublês do Neo no filme Matrix…

- Saudades das contas da Light (famosa ELETROPAULO) . Não dá nem mais para brincar usando os termos da minha terra para o marido dizendo “Apaga a luz do banheiro, vc é sócio da LIGHT”?

- E até o caminhão do butijão azul com sua musiquinha estridente que tantas vezes me acordou, me veio à mente em meio ao turbilhão de novas informações que estamos adiquirindo e experiências que vivemos para entender o sistema de distribuição e comercialização do gás e da eletricidade em Ontario.

EM TEMPO - todos os representantes foram extremamente educados e prestativos mas em nehum momento, nehum deles subiu pelas paredes feito o Neo em Matrix. Magoei. -