30.5.06

A despedida do KUNG FU

Três quadras me separavam de mais um passo importante para fechar tudo por aqui. Essa é a distância entre o prédio da Johnson & Johnson e a academia de Kung Fu http://www.tatwong.com.br e eu nunca pensei que caminhar esta distância até lá fosse parecer tão pesado, triste e distante! Não foi fácil dizer adeus lá mas o velho sábio já dizia que as coisas importantes não são fáceis. Na medida em que são fáceis, não são importantes...
Ao chegar para a reunião marcada com um dos meus mestres, o mesmo me pediu que esperasse um pouco. Pronto - foi o que bastou para ter a certeza de como a convivência ali - com cada instrutor, os mestres, os companheiros de treino (os sihings e sijehs do chinês irmãos e irmãs respectivamente) - me tornou melhor, mais equilibrada, paciente, persistente. O leitor vai pensar bem mas isso afinal de contas são os valores da arte marcial. Sim, mas encontrar escolas e mestres que os vivam em sua essência mais pura é que são elas!
Enquanto esperei (foram uns cinco minutos que pareceram horas) assitia a aula de um dos ótimos instrutores de lá. Coincidentemente ou não, aquele que me ensinou os primeiros passos no kung fu. E, três anos depois, a alegria em ensinar e no trato com os aprendizes era a mesma! Incrível o que acontece quando se tem paixão pelo que faz!
Em um instante um dos meus mestres me chamou para oficializarmos a minha saída de lá. Respirei fundo, levantei, engoli seco e fui. Fiz o que precisava fazer mas são nestes momentos em que a emoção trai qualquer instinto racional e fica difícil falar, a voz não sai, embarga, enfim... feito.
E a todos com os quais convivi lá nestes três anos - entre katis, defesas, ataques, suor e lágrimas até - o meu muito obrigado. Saibam que vocês estarão sempre em meu coração! KIN LAI!

29.5.06

Últimos dois meses de São Paulo

Era um domingo de outono ensolarado, daqueles em que o céu mais parece uma pintura de tão azul e sem nuvens, quando passávamos de carro pela mais paulista das avenidas. Meu querido marido dirigia pela avenida Paulista de ponta a ponta enquanto eu, na condição de passageira, podia observar cada detalhe, cada rosto que passava.

Quem conhece sabe que aos domingos a avenida se transfigura com suas feirinhas de artesanato e antiguidade. Os ternos e gravatas, rostos apressados, pastas e laptos dão lugar aos carrinhos de bebês, cachorros em coleiras e casais enamorados debaixo da caixa de concreto mais imponente da avenida - o Museu do Masp. Estes minutos dentro do carro foram suficientes para passar um mini filme em minha mente.

Imaginando que a minha produção fosse parar nas telonas eu a chamaria de "Há dois meses de dizer tchau para São Paulo". Tudo bem vai, não seria assim uma produção Hollywoodiana. Com este nome, está mais para circuito alternativo do Espaço Unibanco de Cinema do que qualquer outra coisa. Enfim...

Enquanto meu querido marido alternava as marchas para respeitar os semáforos que abriam e fechavam, eu dizia que tenho uma relação de carinho com a Avenida Paulista afinal ali passei os quatro anos de faculdade entrando e saindo do campus de concreto da Cásper Líbero. Dos dez anos passados em Sampa, alguns deles também foram (aí já depois de formada) morando na Frei Caneca tudo alí em volta! O coração cultural de São Paulo.

E antes que isso comece a parecer nostálgico demais (apenas parecer porque acreditem , não é. A nostalgia vem quando lembramos algo que deixamos para trás e não queriamos ter deixado. Aqui é muito diferente. Existe a vontade de seguir em frente e como!) a avenida acabou, o sinal abriu e me dei conta que estavamos na Dr. Arnaldo rumo ao restaurante japonês indicado pela minha querida companheira de Faculdade Cris Mano (sim , vc já leu o nome dela em algum lugar e antes que você pare de ler o meu texto e comece a fazer pesquisas no google para se lembrar de onde, ai vai - a Cris é repórter da revista Exame e assina ótimas matérias por lá desde que deixamos a Cásper nos idos de 1998) .

Aliás, todo o trajeto da Paulista só aconteceu porque estavamos indo ao encontro da Cris Mano e seu digníssimo namorado Pérsio (queridos, vocês são especiais!) para um almoço de domingo ensolarado na área externa do restaurante japonês. Japonesa, italiana, chinêsa, indiana. Pouco importa a iguaria pedida quando estamos com a Cris e o Persio. Em nosso último encontro, em um ótimo restaurante coreano na aclimação aliás, tivemos que ser praticamente "expulsos" do restaurante pois eles queriam fechar e o bate papo não acabava.

Ontem não foi diferente! Entre sushis e sashimis, risadas e gargalhadas, terminamos muito bem nosso domingo. Cris e Persio, obrigada pelos momentos!

26.5.06

A primeira bandeira do Canadá a gente nunca esquece!

Tudo começou com meu ímpeto festivo em reunir sempre os amigos! Nos reunimos para tudo -celebrar, chorar as pitangas, dar boas risadas e falar besteira (e não duvidem da capacidade criativa daqueles que me rodeiam!) . E nada mais justo que uma bela festa de despedida (farewell party só para já entrar no clima) para os meus queridos companheiros de estrada. Muita calma nesta hora! A festa será só em julho. Mas a pergunta que não quer calar é : "Onde entra a bandeira do Canadá nisso tudo?"

Na decoração da festa! Para isso, comprei via internet (aliás pelo www.bandeira1.com.br que é muito bom e possui as bandeiras do mundo e do brasil) a minha primeira bandeira do Canadá, além da bandeira do Brasil é claro. Hoje pela manhã as recebi em casa - a da pátria mãe (já habitual desde as apresentações de jogral no sete de setembro durante a escola primária.. Nossa!) e a da pátria - ADOTADA de coração!

Esta sim, quando peguei me emocionei! Afinal nunca celebrei o British North America Act de 1867 - o marco da independência que cria o poder legislativo nos moldes do Parlamento Britânico, nem tão pouco o Estatuto de Westminster que completou a independência do Canadá em 1931!
Por enquanto vamos celebrar os amigos e as bandeiras vão fazer parte da festa temática de despedida que estou preparando! Até lá fico parada olhando para a bandeira do Canadá e me pego pensando : Air Canada aí vou eu! Só falta esperar a voz sem rosto do aeroporto repetir: "última chamada para o vôo com destino a Toronto"... FUI.

25.5.06

A novidade e o impacto nos colegas de trabalho

Fica cada dia mais emocionante compartilhar a novidade de deixar o país com amigos e colegas de trabalho! A sensação que tenho é que, a cada pessoa nova para a qual conto a novidade, fico um passo mais próxima do sonho.

Sendo assim, pelas minhas contas (lembrando que sou apenas uma operária da palavra, vulgo jornalista, e números não são o meu forte!) se existisse uma medida para a sensação de chegar próximo de um sonho como por exemplo a umidade relativa do ar, latitude ou longitude, eu diria que hoje esta medida estaria lá pelos 95% ou seria 95 mm, graus celsius? Bem , abandonemos as probabilidades matemáticas e voltemos aos fatos.

Ontem, enquanto clicava o "send" no Outlook do trabalho não me dei conta de que aquele não era mais um e-mail para tratar de alinhamento de discurso de porta-vozes para a imprensa ou sobre agendamentos de entrevistas com os executivos do marketing. Afinal, no meu dia a dia, juntamente com o telefone, o e-mail é a ferramenta mais utilizada! Ledo engano. Puro truque da mente!
Fui me dar conta mesmo de que não era mais um e-mail quando os destinatários da mensagens começaram a responder : "Nossa que legal! Parabéns! Também tenho este sonho! Canadá? Organizado , bonito , desenvolvido... " Acreditem, embora tendo o total controle da situação, longos planejamentos e certeza mais que absoluta da magnitude do que está prestes a acontecer, a real sensação chega quando você desencadeia uma série de atitudes importantes como dar o aviso prévio à faxineira que durante quase 7 anos esteve com você, liga para o seu mestre e diz que vai precisar deixar (ao menos até eu achar outro mestre de Kung Fu em Toronto) os quase três anos de kung fu, avisa os amigos mais especiais e lê em suas faces a ambiguidade de sentimentos : "Fico feliz por você mas estou triste por estar partindo".... Maio tem sido inteiro assim para mim.
Isso me faz lembrar a Dani Caldeirinha (amiga vc aí de novo) ... Quando contei a ela, a primeira definição que ouvi foi : "Paula, sou nobre o suficiente para entender o motivo de sua felicidade mas humana o suficiente para ficar muito triste porque vamos perder o contato diário"
Seis dias do aviso prévio e da chegada de outra Daniela, a Zuina, que vai ficar no meu lugar... hora de fechar tudo que comecei no trabalho. Hora dos relatórios, levantamentos e análises. Hora de partir.

24.5.06

O poder dos símbolos do novo país

O imigrante e o poder dos simbolos do novo país - Para uma mochileira de carteirinha como eu que já andou pelo mundo afora e teve contato com todo tipo de moeda estrangeira, ter em mãos, pela primeira vez, as moedas Canadenses não deveria ser tão emocionante! Em tese. A mesma querida amiga Dani Caldeirinha que me trouxe as "sobras" (a quantia total não ultrapassa seis dólares canadenses) de seu intercâmbio cultural realizado nas terras geladas, vive repetindo: "quem tem amigo não morre pagão"... Pois é Dani, você me emocionou ao me entregar as moedinhas do meu novo país!

Quando peguei a moeda de 1 cent de dolar canadense (adivinhem o simbolo cravado nela? um doce para quem respondeu a Maple Leaf...) me dei conta, naquele segundo, que aquela seria a minha moeda! Incrível a força dos símbolos quando realmente se acredita neles. Em um segundo aquela pequena moeda desencadeou um filme inteiro em minha mente. Flashs de todos os momentos de minha vida até agora me fizeram lembrar que o desejo de viver no Canadá existe dentro de mim desde sempre! Daí a força daquele simbolo!

Certa vez o jogador de futebol Cafu (inúmeras vezes rejeitado em testes de clubes famosos e nem por isso parou no meio do caminho e que, aliás, neste momento está na Suíça preparando-se para a Copa do Mundo) disse que sempre que perguntado sobre o que o motivava a continuar tendo a mesma disposição e vontade de jogar na seleção (para os que não sabem, esta será a quarta copa dele) ele respondia :"o mesmo desejo de menino de um dia jogar bola profissionalmente e ir para a seleção".....
Como entendo cada palavra do Cafu! Felizes aqueles que, desde sempre sem saber exatamente como e de onde surgiu, possuem um desejo muito forte em fazer algo (independente do que quer que seja) ! Uso a palavra DESEJO e não apenas VONTADE pois a considero mais forte (questão semântica. O que para a maioria das pessoas pode não parecer importante, para uma jornalista é, acreditem) ! O DESEJO te move em cada passo , a cada dia que levanta te move em direção a um único objetivo.
Outra amiga muito especial a Dani Zuim (Zuina para os íntimos) fala em ATENDER A UM CHAMADO!! De sua maneira brincalhona ela deu uma nova versão para o que nos move para o Canadá. Zuina querida, eu e o Maurício vamos atender a um chamado...Não sabemos exatamente a duração dele mas a prioridade é ALTA e urgente!

22.5.06

Fim de semana com amigos

O fim de semana foi cheio de atividades com amigos! Foi aberta a temporada oficial de despedidas e celebrações para a nossa saída do país. O sábado no Public Pub (aconchegante e no estilo londrino de ser) com nossos bons e velhos amigos Leslie, Renato, Shirley, Patrícia foi bem divertido como sempre.
Só faltou a traidora da Zuina que, segundo nossa amiga Patrícia, preferiu os ares baianos à nossa agradável presença. Tudo bem Zuina, continuamos colaborando para o crescimento do PIB por aqui enquanto você goza de suas merecidas férias antes de pegar no pesado também. A Zuina é a minha querida amiga e competente profissional que ficará no meu lugar no departamento da Johnson & Johnson enquanto eu e meu marido seguimos em expedição para o início da Era do Gelo na terra do Toronto Raptors, Rogers, Maple Leaf e tudo mais...
Já o domingo foi tipicamente adolescente! O trio Paula, Maurício e Leslie (a nosa companheira oficial destes programas por assim dizer rejuvenescedores. Lembra dos três balzaquianos em meio à multidão teenager no show do Linking Park no Morumbi Lé? eh larai...) chega três horas antes em um shopping de SP para assistir ao filme que mais aguardamos: O Código da Vinci. É claro que as três horas de antecedência foram só uma desculpa para almoçarmos juntos e (no caso das meninas) vermos as últimas tendências do outono/inverno nas vitrines..eheh. Isso porque o ingresso nós já haviamos comprado com três dias de antecedência!
Não me lembro de ter feito isso com outro filme antes. Bem, mas quem leu todos os livros do Dan Brawn sabe do que estou falando. O filme também vale muito a pena, principalmente para quem leu o livro... a sensação é de que vc já viu aquele filme antes de tão fiel ao roteiro do livro. Claro que guardadas as diferenças inerentes à um meio e outro.
Agora enquanto escrevo já são 7 dias para o início do meu aviso prévio no trabalho! A cada dia que passa, mais perto de concretizar um grande sonho estamos. Enquanto isso, vamos seguindo em meio à cervejas, amigos, números Fibonacci e códigos indecifráveis. Afinal são estes momentos simples e felizes (sempre rodeados de gente muito especial!) que nos fazem ser quem somos.

19.5.06

Canadá ou Austrália?

Qual motivo ou razão teriamos escolhido o Canadá? Esta também está no topo da lista das "10 mais" sobre as perguntas feitas quando conto o que eu e meu marido "oscar" estamos prestes a realizar.

Para aqueles que pensam em imigrar de modo legalizado e com o total consentimento do Consulado em questão, duas são as opções: Canadá ou Austrália. Lá atrás, há uns 7 anos, quando começamos a buscar informações sobre como poderíamos nos tornar imigrantes legais apareceram as diferenças entre um processo e outro:
  • Canadá:
  1. Processo de imigração qualificada que pode ser feito diretamente com o Consulado. Você em linha direta com o canal interessado em selecionar.
  2. Localização no Globo terrestre. Há poucos quilômetros das maiores cidades dos EUA e nada que 10 horas e meia de vôo com a Air Canada não nos traga para o Brasil em caso de emergência.
  3. Inverno Rigoroso. O que para muitos habitantes dos trópicos seria um entrave, para o casal 20 aqui, e que adora um inverno rigoroso com neve, foi exatamente o contrário. Um grande atrativo.
  • Austrália:
  1. Processo de imigração qualificada que exige (ao menos na época de nossas decisões exigia) a contratação de uma espécie de agente que te representa perante o consulado.
  2. Localização no Globo desfavorável a não ser que o seu interesse seja estar quase no Japão. E nada que uns DOIS dias pelo menos de locomoção em um vôo com escalas e afins. Em caso de emergência de retorno para o Brasil...
  3. Clima e Vegetação. Embora com suas especificidades, a proximidade climática e de natureza com o Brasil fez com que nos atraíssemos mais pelo Canadá.

Como as escolhas são sempre muito pessoais, para nós o Canadá foi a melhor opção. E sem querer plagiar a nova campanha da FORD mas já o fazendo, AMAMOS O NOVO.... O novo nos atrai porque não envelhece e nos dá sempre a oportunidade de crescermos em algum sentido. Para o NOVO chegar é preciso coragem e esta também não nos falta! Vale a pena parar e prestar atenção nesta nova campanha institucional da FORD... a primeira vez que ouvi senti : puxa parece que foi feita para mim!

18.5.06

A nossa casa é onde estamos

A mudança não sai mais da minha cabeça! Por todos os lados onde olho vejo neve, pranchas de snowboard, ursos brancos. Registre-se: ainda estamos na selva de pedra chamada São Paulo.
A partir de agora é muito mais um trabalho mental e psicológico de segurar a ansiedade daqui até o momento de embarque do que qualquer outra coisa!

Para chegar onde chegamos e realizar uma grande mudança como a de viver em outro país, muito já foi feito, planejado, guardou-se dinheiro e trocou-se informações com outros que já fizeram o mesmo. Agora só nos cabe aguardar a espera do momento em que a voz sem rosto do aeroporto vai repetir : "Última chamada para o vôo da Air Canada com destino à Toronto".

Ao dar a notícia sobre o que estamos prestes a realizar, três perguntas aparecem de cara: 1- vc conseguiu emprego lá?, 2- quando vc vai? , 3 - onde v vai morar? Vamos refletir sobre a questão número 3. O que eu respondo é exatamente o que eu sinto - eu vou VIVER no Canadá. Para o morar, prefiro ficar com as sábias definições do poeta e músico Arnaldo Antunes "A nossa casa é onde a gente está. A nossa casa é em todo lugar"...
Ah sim, lembram dos anos de planejamento? incluidos nele estão os custos e a idéia de, no primeiro mês, ficarmos hospedados em um hotel. Por hora, sigo cantando: A nossa casa não tem campainha, não é sua nem minha. A nossa casa é onde a gente está.....

17.5.06

Nasce uma era - A ERA DO GELO

A contagem regressiva começou! aos poucos vou fechando etapas e certamente novas se abrirão. Laços de anos começam e se fechar para que o sonho aconteça. Na volta do feriado do dia do trabalho veio o meu pedido de demissão no trabalho = laço de 3 anos desfeito. Para quem vai sair do país e viver em outro este pode ser considerado o dia "D" pois a partir daí vc começa a sentir que não se trata mais de um sonho e os planos começam a sair do papel e virar realidade!
Hoje enquanto inauguro este blog já cumpri a etapa 2 - aviso prévio para a pessoa que durante anos cuidou para que a minha casa estivesse cheirosa e limpinha após dias cansativos de trabalho ela colaborou para que eu me sentisse bem em minha casa = laço de 7 anos desfeito. Próximo passo: os quase três anos de Kung Fu... ali, mais do a prática semanal dos exercícios físicos, os mestres, a família kung fu. Bem , isso é o próximo passo.