21.10.07

Lendo e Pensando a barganha da imigração

“I would say that it’s a bargain we make with this nation, and that this nation makes with us, and both sides have to live up to the bargain… We will work hard and try to learn your customs and peculiarities, cope with your winter and our children will be Canadian. And you will treat us equally, fairly; you will not treat us differently simply because of our accent, language or the country we came from”.

O depoimento acima foi extraído da edição de maio de 2007 do tablóide Canadian Immigrant. Além de indicar esta boa leitura para quem está chegando e sofrendo com todas as dificuldades inevitáveis do começo para se estabelecer por aqui, estive lembrando o quanto refleti na época em que li a opinião da Iraniana-Canadense Ratna Omidvar ao afirmar que o estabelecimento do imigrante no Canadá é uma frágil barganha entre o mesmo e o País.

Tenho lido o Canadian Immigrant (a publicação é gratuíta e distribuída todos os meses nas estações de metrô de Toronto) desde que cheguei no Canadá e quando li o trecho da entrevista acima estava começando o meu co-op (pagando para trabalhar e ser tratada como “iniciante/estudante” mesmo tendo 7 anos de experiência no que estava fazendo) e já sentindo na pele a frágil barganha da qual a entrevistada falava.

Sim, pensava eu, ela tem toda razão, fazemos sim uma barganha e da muito frágil com o País quando aqui chegamos. Estava eu lá – em maio quando ela deu a entrevista – dando a minha parcela da barganha no Co-op que mais tarde faria com que eu começasse a ser chamada para as entrevistas que me levaram ao meu emprego de verdade (agora pago e sem ser tratada como estudante/iniciante no que faço).

Aliás, esta prática de nivelar todos os imigrantes que aqui chegam por baixo e os tratá-los como inépcios (e aí estou falando do sistema todo da imigração desde os cursos do governo até os co-ops da vida) seria bem melhorada na minha opinião se, de todos os profissionais envolvidos em receber os imigrantes e dar as primeiras orientações, fosse exigida a leitura do excelente livro que estou lendo agora – The Emerging Markets Century. How a new breed of World-Class Companies is overtaking the World.

Eu não pude evitar a correlação quando Antonie van Agtmael – autor do livro e criador do termo Emerging Markets que substituiu o pejorativo Third World – abre o livro contando que em 1974 – em uma das palestras no Bankers Trust Company em Nova York – ele ouviu a seguinte afirmação “There are no markets outside the United States!” (não há mercados fora dos EUA).

Embora a afirmação tenha sido feita há mais de 30 anos, parece que hoje ainda há na America do Norte (e aí incluo o Canadá especialmente no trato com seus “qualificados” imigrantes) quem esqueça da excelência mundialmente comprovada de países como India – que está entre os 6 únicos países no mundo capaz de construir satélites - China, México, Argentina, Brasil, Russia. Só para ficar em alguns exemplos.

Será que os profissionais dos projetos de apoio ao imigrante que recebem engenheiros e profissionais Indianos, Chineses, Brasileiros e Russos já ouviram falar do BRIC? Aposto que não! O que isso tudo tem que ver com os profissionais imigrantes que chegam de todas estas partes do mundo e são tratados como se para trabalhar no Canadá tivessem que morrer e nascer de novo? Simples, estes profissionais estão vindo de verdadeiros centros de excelência em diversas áreas de negócios e ler este livro dá uma lista infinita de exemplos como a Mexicana Modelo que vende mais cerveja (Corona) para Americanos do que a Heineken, o fato de a Inbev-Ambev (maior fabricante de cerveja do mundo que deixou as “velhas” cervejeiras Européias impressionadas com a eficiência dos parceiros Brasileiros). A lista não tem fim.

Claro que para tudo há exceções mas na minha opinião bastaria um pouco mais de conhecimento sobre o que o mundo “emergente” tem realizado na esfera empresarial nas últimas décadas - independente de fortes crises econômicas, pobreza e corrupção – para se ter uma melhor noção de que os profissionais que aqui estão chegando tiveram uma boa base educacional e principalmente capacidade de superação perante às adversidades. Acho que dá para mudar um pouquinho a presunção de que não há vida inteligente fora do Canadá não? Pois é mais ou menos assim que a lavagem cerebral acontece até que você consiga entrar para o mercado de trabalho. Não que não dê para sobreviver, eu sobrevivi, muitos sobreviveram e você também pode mas que poderia ser diferente, ah isso poderia!.

O livro The Emerging Markets Century é um bom começo.

Excelente semana e boa leitura!

14.10.07

A minha primeira semana de trabalho no Canadá

“Se eu quiser fumar eu fumo...se eu quiser beber eu bebo.
Pago tudo que eu consumo, com suor do meu emprego. Confusão eu não arrumo mas também não peço arrego...Eu estou descontraído...não que eu tivesse bebido. Nem que eu tivesse fumado, para falar da vida alheia. Mas digo sinceramente...na vida a coisa mais feia é gente que vive chorando de barriga cheia.” (Maneiras : Zeca Pagodinho – Silvio da Silva)

É exatamente assim que estou me sentindo após a minha primeira semana de trabalho aqui no Canadá. De barriga cheia! Portanto, sem nenhum motivo para reclamar e com a minha tão preciosa independência (e aí não falo só financeira não mas principalmente de espírito e intelecto) recobrada.

Parafrasear o Zeca Pagodinho - um dos meus “mentores” espirituais – foi a melhor maneira que encontrei para transmitir o que sinto. Brinco que ele é meu mentor espiritual mas a parte que gosto muito das letras e até do som deste “Zé e poeta do Povo” é a mais pura verdade.

Bem, quem me conhece de verdade sabe que é perfeitamente possível eu gostar de Metalica, Black Sabbath, Arnaldo Jabor, Zeca Pagodinho e Jorge Aragão ao mesmo tempo! Coisas de quem gosta de brincar de ser “esponjinha” absorvendo tudo que pode e tirando o melhor desta vida. Acaba que fica gostando de coisas tão diferentes:)

Agora que já me apoiei no poeta do povo para transmitir a minha alegria ao fazer parte do “povo” e da sociedade Canadense, vamos um pouquinho aos motivos de tanta alegria:

1 dia de trabalho na Redknee:

Um time inteiro de 16 pessoas (por lá o depto de Comunicação está totalmente imerso em Marketing inclusive fisicamete no mesmo andar e espaço – modelo ideal estudado nas escolas e que não raro é deixado de lado pelas empresas) muito empenhado em fazer com que a natural sensação de inadequação que sentimos no primeiro dia de qualquer trabalho em qualquer parte do mundo seja minimizada.

Tanto que logo neste primeiro dia já estava eu almoçando fora com o meu time mais direto (7 pessoas me incluindo) à convite da minha supervisora para quebrar o gelo. Tarefa muito fácil quando se está entre comunicadores diga-se de passagem.

2 dia – e lá já estava eu participando das reuniões de departamento e brincando de “esponjinha” absorvendo tudo à minha volta extasiada com a organização e infra da empresa! Coisa de outro mundo!

Resto da semana – já envolvida com tarefas para dois projetos em torno de eventos que vão acontecer – um na Africa e outro em Chicago nos EUA – e me sentindo totalmente em casa.

O resumo desta primeira semana é este. Claro que há muitos detalhes no meio mas isso vou contando aos poucos por aqui. Daria para escrever um livro só da primeira semana.

Eu não poderia estar mais feliz com tudo - a empresa, meus colegas de trabalho, a estrutura e os desafios que vou encarar por lá já logo de cara sendo envolvida na parte estratégica dos planos de comunicação – a minha paixão! Sem contar com o ambiente muito descontraído e gostoso entre os gerentes de produto com todo o resto do departamento. Há dois Britânicos que sentam do meu lado muito “figuras” (adoro trabalhar com “figuras”) que estão o tempo todo fazendo brincadeiras. Enfim, é muito fácil perceber que há muita satisfação no ar e com isso até as tarefas mais difíceis do dia a dia ficam melhores de se completar. Como vocÊs podem perceber não há do que reclamar pois aí estaria ferindo uma das leis da minha filosofia baseada na letra do Zeca.

Um excelente domingo e um melhor ainda recomeço de semana à todos pois os meus serão todos assim daqui para frente.


8.10.07

Visita mais do que especial!

Fim de semana passado tivemos o privilégio de receber a minha querida "amiga-irmã" em nossa casa. A Cris Mano fez jornalismo comigo na Cásper Líbero (1994-1998) e desde então não nos desgrudamos mais e como ela mesma costuma dizer acabam acontecendo várias coincidências felizes que não nos deixam ficar distante - mesmo fisicamente. Podem chamar ao que quiserem, à isso chamo almas que não se separam.


Amiga, ficamos muito felizes em recebê-la para um fim de semana muito especial. A Cris é editora da Exame e veio para Toronto para entrevistar uns executivos para uma matéria que ela está preparando e antecipou o vôo um fim de semana para passarmos estes momentos juntos. Claro que aproveitamos para dar uma de "turistas" e fomos, após um ano por aqui, conhecer a CN Tower e levar a Cris para passear nos nossos lugares preferidos de Toronto.


Ficaram os inesquecíveis momentos juntos como sempre e Cris, eu vou parafrasear a nossa outra grande amiga-irmã Dani Zuim - "Até qualquer outro fim de semana destes!"


2.10.07

Extremely Makeover

Sexta feira que passou fui brincar de deixar a Paula que tanto lutou sofreu e carregou tanta pressão nos ombros - em um ano de busca pelo meu espaço - para colocar outra no lugar: mais leve, moderna e pronta para a nova etapa!

Digamos que fui brincar de jogar todo o cabelão fora e dar um novo formato no meu rosto:)

Há muito que já não aguentava mais o cabelão! Uma coisa é manter cabelão bonito e forte no Brasil com todas as mordomias e estilo de vida completamente diferente, outra totalmente diferente é manter as longas madeixas por aqui.

Aí, juntei o utilíssimo ao agradável. Afinal, acho que no fundo sempre sonhei (principalmente depois de passar um ano na vida de imigrante que não tem como se preocupar muito com o visual) em participar de um dos meus "realities" preferidos What Not to Wear (para quem não conhece eles pegam os casos mais "trashs" de pessoas sem noção e largadas no visual e dão um banho de loja, maquiagem e cabelo nos fulanos), especialmente a parte que o participante senta na cadeira de um mega cabeleireiro de Nova York e fala coloque o seu conhecimento em prática e faça o que achar melhor! Eu só estava esperando eu conseguir o meu emprego para marcar a nova etapa da minha vida com estilo!

Antes de ir até o House of Lords (para quem mora aqui em Toronto fica na Yonge/Bloor)e dizer para a Krista (minha nova cabeleireira por aqui) "gosto disso, não quero aquilo, quero curto e faça o que você achar melhor" é claro que fiz minha lição de casa né? Além de dizer que eu queria o corte "POB" - uma mistura do assimétrico e moderno BOB hair cut com o POSH hair cut, a última moda do outono entre as estrelas de Hollywood (pensa o que - eu sou chique benhÊEE, e fiz minha lição de casa antes para saber os termos direitinho do que eu queria, como eu queria a franja, etc. Afe, imigrante tem que estudar até para cortar o cabelo!) Vocês também não estavam pensando que eu ia entrar na primeira porta e fazer isso né? Eu sou arrojada mas não doida!

A Krista já havia cortado o cabelo da Luly e da Fabi que eu já havia visto e reconhecido as mãos de um bom cabeleireiro nos cortes. Na época disse para as minhas vizinhas que quando fosse fazer a minha transformaçao pegaria o contato e foi o que fiz. Fabi, valeu a dica!

O lugar é um achado! Para quem não curte locais alternativos não vá mas para aqueles que gostam de um ambiente meio louco-descontraído como eu você vai achar o máximo! O proprietário manteve toda a decoração e ambientação dos anos 80. Ah! e se você não gosta de música alta no seu ouvido também não vá porque a sensação que se tem enquanto corta o cabelo é de que está em uma disco dos anos 80. Eu achei muito divertido, sem contar que a Krista tem os braços todo tatuados multi-coloridos, piercing na orelha e um cabelo todo style, além de ser uma gracinha. Ficou toda feliz quando disse que saí do norte da cidade e fui até o centro apenas para cortar o cabelo com ela. Batemos um papão enquanto ela cortava o meu cabelo.

Fabi, ela mandou agradecer a recomendação e me disse - fique à vontade para me recomendar para os seus amigos. Tá dado o recado. Ah, para escolher um cabeleireiro específico é preciso marcar hora antes. Sem esquecer do detalhe mais importante de todos - este foi o corte mais barato (e com qualidade, vejam eu não cortei as pontinhas apenas, eu mudei o corte e para isso precisa ser um bom profissional)que eu já vi na cidade $32 doletas (com as taxas incluídas). How cool is that?

Aqui em casa nós aprovamos! Agora confiram vocês



1.10.07

Programa familiar de domingo - jogo do Blue Jays

Dois fins de semana se passaram e eu não havia tido a chance de registrar por aqui a nossa ida ao primeiro jogo de beisebol. Graças à uma combinação de vários acontecimentos (comemoração de um ano de Canadá, do meu primeiro emprego, a visita da Cris –este post sai ainda esta semana) muito felizes todos ao mesmo tempo, está difícil acompanhar a velocidade dos fatos por aqui mas vamos à eles em um exercício de retrospectiva!


No domingo – 14 de setembro –graças à gentileza dos queridos Rafael e Liliane que nos cederam um par de convites muito dos VIPs (ficamos à dez fileiras do gramado), fomos ver o Blue Jays (time de beisebol de Toronto) perder para o Orioles. Entretanto, o resultado do jogo pouco importou levando-se em conta que era nosso primeiro jogo de Beisebol em Toronto (e ainda por cima de graça, sim porque para gastar $120 - este era o preço dos nossos lugares vips, há ingressos bem mais baratos - com ingresso o casal só se for com basquete da NBA e mesmo assim ainda em um futuro um pouco distante. Bem, agora nem tão distante assim com a renda do casal um pouco melhorada graças ao meu emprego:).


O que valeu mesmo foi o espetáculo, a nossa imensa alegria (lembram que estávamos comemorando neste dia ao mesmo tempo um ano de Canadá e o meu primeiro emprego) e a sempre gentileza dos nossos queridos amigos que coincidentemente acertaram a data do jogo com todos estes acontecimentos marco em nossas vidas em terras Canadenses.


Como tudo isso já não fosse suficiente, ainda tivemos a oportunidade de ver de pertinho um dos nossos ídolos do Toronto Raptors (o time de basquete de Toronto que disputa a liga da NBA). Lembram-se dos lugares vips? Pois é, o Parker e toda a sua família estavam lá bem pertinho (confiram o slide). Vocês não tem noção o que este cara jogou na última temporada da NBA (estou louca para que ela recomece e o Raptors volte em ação!).


Preocupado com a veloooooooooooooooocidaaaaaaaaaaaaaaadeeeeeeeeeee do jogo de beisebol? Aqui na América do Norte (EUA e Canadá) os seus problemas se acabaram porque "oh" povo para saber envolver e fazer aquele espetáculo em torno de qualquer esporte e apresentação! Eu nem percebi as quase três horas de jogo até porque a diversão garantida no beisebol é ver o desespero dos torcedores em conseguir pegar a bolinha cada vez que o Pitcher arremessa e manda a bolinha na platéia. Acontece isso o tempo todo! Haja bolinha para uma partida...