9.11.12

35 dias

35 dias. Nem mais, nem menos. Falta muito pouco para que meus cansados pés se voltem para cima e não mais trabalhem duro como de costume. Trabalhar enobrece o homem já dizia o sábio. Descansar, no entanto, motiva a prosseguir. E é isso que farei em 35 dias. Descansarei.

Em seis anos de exílio, posso afirmar com categoria que não mais tenho saudades do que passara e não é mais. Posso dizer, com firmeza de propósito, que meus pés (aqueles cansados e que se voltarão para cima) estão bem certos de sua trilha nesse país que escolhi para chamar de minha terra, meu lugar: o Canadá.

Entretanto, há outra terra, outro lugar. E para lá gosto de voltar sempre para descansar, recarregar, me confortar. E esse lugar chama-se Brasil. Lá estão familiares queridos e amigos que jamais sairão de minha mente e coração. Curioso sentir que a cada vez que volto parece que nunca deixei aquelas pessoas. E nunca deixei mesmo. Sempre as amarei com a mesma intensidade de antes. São poucas essas pessoas mas elas sabem quem são.

É sempre bom voltar para as origens e lembrar quem fomos um dia. Melhor ainda é perceber que somos mutantes, seres extremamente adaptáveis a tudo! Imigrar não nos torna pior nem melhor que ninguém mas nos dá uma visão profunda dos sentidos que buscamos. É como se colocássemos uma lente de aumento em tudo que enxergamos. E, de repente, com o passar dos anos, vamos tendo a clareza da resposta para a pergunta: "que tipo de pessoa eu quero ser quando crescer"? Incrível como sair da zona de conforto nos dá esse poder extra especial.

Mas ganhar poderes especiais não é o único resultado de estar fora da zona de conforto. Sair da zona de conforto cansa, fatiga, instiga. Te faz buscar o sentido das coisas com mais voracidade. Dá movimento. E esse movimento nem sempre é positivo mas, enquanto movimento, progride. Dá trabalho construir novas realidades a cada instante, novos poucos e bons amigos de infância, cenários confortáveis longe de suas raízes. A labuta é árdua e nem sempre compensa. Ainda assim, sinto prazer em todo esse trabalho longe do que um dia eu fui. Ainda assim, sinto orgulho de viver longe do que um dia foi meu. Ainda assim sorrio ao provocar o sorriso de alguém que está longe de ser um amigo de infância que já passou. Por isso trabalho. Por isso vivo e existo no Canadá! E por isso descanso no Brasil.

Boas risadas, abraços e conversas ao pé do ouvido me aguardam. A fumaça do café que só meu pai sabe fazer. O cheiro de bolo de laranja saído do forno à lenha. Os pés descalços na fazenda e a vizinha que abre o portão para lamentar o preço da cesta básica. A minha estranheza diante de tudo que já passou e ainda continua lá. A isso dou o nome de férias no Brasil. Fui ali descansar e já volto.