6.8.06

O Queijo, o Vinho e a Gratidão

O casal, acompanhado por suas duas amigas, entra pela sala. Em torno de trinta pessoas confraternizam-se ao redor de uma mesa farta de queijos, vinho e frutas. O casal anfitrião recebe os convidados. À meia luz, rostos e bocas se agitam quase que em um balé orquestrado e que tem como cenografia os cálices de vinho.

No canto esquerdo, amparado por um pedestal em S que suporta um abajour, descansa um convidativo tapete com almofadas, livros e um aparelho de som espalhados pelo chão.


Os quatro amigos – o casal, a esguia moça de tez clara com seu par de muletas e a outra com os cabelos negros e lisos – elegem o cantinho esquerdo como seu “lar” naquela confraternização.


Já abraçados pelo clima acolhedor daquela noite, o casal ouve do anfitrião: “Vocês serão os últimos a sair daqui hoje! Quando lembrei-me que este é o nosso último evento antes da partida de vocês, senti um aperto em meu coração.” A esposa ouve isso e sente um afago em seu coração, como uma mão macia de bebê que toca o rosto da mãe e a única resposta que consegue dar é “Isto é uma ordem e será cumprida com todo o prazer!”


Já era um hábito, nestes mais de seis anos de amizade, aquelas quatro pessoas reunirem-se em torno de mesas fartas de vinho, queijos e carinho. Motivos nunca faltavam para conversar, rir e simplesmente sentir a doce magia daqueles que, ao acaso, encontram-se e permanecem juntos e intimamente ligados, não se sabe exatamente por qual motivo ou razão. Por isso mesmo, o dono da casa naquela noite em que só a lua brilhava mais que os próprios corações daqueles quatro amigos e cúmplices, criou o já tradicional “Queijos & Vinhos”.


Ali, naquele canto esquerdo rodeado de almofadas e livros, os quatro cúmplices formaram uma roda e, em determinado momento, aquele círculo não mais se desfez. A esguia moça de tez branca dizia que já nem sentia mais a sua perna amparada pela cadeira para amenizar o peso do gesso. Ela ria e parecia esquecer de sua condição “especial” naquele momento. Em torno dela, o jovem marido de olhar sereno e sempre atencioso servia a amiga de todos os momentos.


Completavam a roda a esposa orgulhosa e feliz em ver que os mesmos amigos que um dia ela encontrou são especiais para o marido também, a moça de cabelos lisos e negros que gentilmente pousavam os seus ombros e o anfitrião. E ali ficaram, horas e horas madrugada à dentro rindo, recordando e deliciando-se com uma cumplicidade que não se explica, sente-se. Não se ignora, prioriza-se. Não se busca, acontece!


Quando finalmente, alguém lembra-se da relatividade do tempo (anos passaram-se nas conversas em cerca de cinco horas), o jovem casal, que parte em busca de seus ideais, valores e sonhos em outras terras mas leva consigo a magia destes momentos e o carinho destas pessoas, ouve dos anfitriões : “Vou dizer apenas boa viagem”. A esposa, já traída pelas fortes emoções da despedida, abraça os anfitriões e diz : “Prefiro mesmo ouvir um boa viagem e até mais”.

Aquele abraço deu início à três momentos daquela inesquecível noite para o casal que parte:

1- O afago dos abraços sem palavras e cheios de embriaguez, a melhor de todas elas – a embriaguez da admiração, do carinho e amizade de tantos anos do casal Renato e Shirley.

2- O aperto de mãos que a moça de cabelos lisos pousados sobre os ombros, a nossa querida Daniela Zuim, ofertou à esposa. Dani, vou levar aquele conforto comigo para onde quer que eu vá viu?

3- E, por fim mas não menos importante, o beijo na esguia e bela moça ancorada em suas muletas. Leslie Diorio, muito obrigada por tudo.

E como já dizia um colega de profissão : "não há nada melhor, para nós que somos “operários” da palavra, do que a escrita como ópio para fortes momentos de emoção como estes...

5 comentários:

Dani e Rafa disse...

De toda a expectativa do processo a despedida é o qual mais nos balança!!! Seja forte, tenha certeza de que é um até breve, e que logo logo todos estarão na sua nova casa te visitando..

Boa sorte!

Dani e Rafa disse...

De toda a expectativa do processo a despedida é o qual mais nos balança!!! Seja forte, tenha certeza de que é um até breve, e que logo logo todos estarão na sua nova casa te visitando..

Boa sorte!

Anônimo disse...

Meus amigos queridos,
Agora quem chorou fui eu. Devo confessar uma coisa: quando saí do carro naquela madrugada de sábado, meus olhos estavam marejados. Fingi que aquele encontro não era o último, que eu ainda poderia correr para casa de vcs para o bate-papo costumeiro, que no carnaval do ano que vem estaríamos juntos novamente no Guarujá, que eu ainda poderia comemorar diversos aniversários em Boituva (nunca faltei em nenhum e aprendi a amar cada pessoa da família de vcs). Fingi. Mas quando eu e minha muleta nos aproximamos do final da rampa do estacionamento do meu prédio, olhei para trás e vi o azeitona manobrando pela última vez em minha rua. E naquele momento fechei os olhos e disse um caloroso "vão com Deus meus amigos". Sei que nossa jornada não terminou porque amigos que são amigos ficam ligados a vida inteira. Amigos que são amigos ficam ao seu lado nos momentos alegres e tristes. Vcs não sabem o quanto foram importantes para mim durante estes sete anos de convivência! E não sabem o quanto tem sido importantes particularmente nestes últimos meses, quando até mesmo uma ligação inesperada somente para saber como eu estou me trouxe alegria e vontade de dar risada. Vocês podem ir para Toronto, para o Japão, para a Conchinchina... mas nunca vão sair do meu coração. bjs da amiga chorona Le

Anônimo disse...

Paula e Maurício, tanta coisa pra dizer.. A primeira é que vou me empenhar para deixar (de verdade) o post aqui e nao perdê-lo no "limbo" virtual..rs

Como disse no sábado, eu nao quis me despedir.
Pra mim, como disse a Lé, aquele era só um tchau, só até o próximo encontro, a próxima pizza e a próxima desculpa que arrumaríamos para rir juntos..
Mas esse não foi o último dia em que estivemos juntos. A diferença será o prazo para o próximo grande encontro.

Com o sentimento de quem adora reunir pessoas e compartilhar momentos e que também já passou pela experiência de ficar longe dos amigos, o que posso registrar, acima de tudo, é que vocês são muito queridos, muito especiais, inteligentes, alegres..e o continuarão sendo nas nossas conversas quando vocês estiverem longe, nas nossas fotos, nas nossas conversas por e-mail, por tel ou qualquer outra forma.

Registre isso, Paulinha, o período que começa dentro de alguns dias na vida de vocês será intenso, inspirador, alegre, triste, quente, frio, acolhedor, solitário..será tanta coisa que um dia ele passa a ser uma só: INDESCRITÍVEL.
Só vendo pra saber, só vivendo pra entender.
Por isso, minha querida, vá e viva esses momentos com todos os sentimentos que fazem parte do pacote.

A sua inspiraçao filosófica, o Maurício (ligeiramente..!) bêbado com aquela cara que ninguém consegue imitar, dançando sabe-se lá o que na sala do Renato.. isso não tem preço. A mim cabe guardar tudo isso com muito carinho e esperar o próximo encontro.

Antes que vocês pensem que estão livres de mim, que fique registrado, estarei em Toronto "as soon as possible" porque afinal quero checar de perto o resultado da minha consultoria imobiliária.

Amigos, levem da minha amizade o máximo de carinho que vcs conseguirem. Essa é a medida exata.
Da minha parte, ficarei com a lembrança de duas queridas pessoas. Queridas no exato sentido da palavra. Pessoas a quem estimo e quero muito o bem.

Fiquem com Deus!
Dani Zuim

Anônimo disse...

Extra, extra......

Nota fresquinha aqui da redaçao J&J:

Acabo de saber que amanhã vai rolar delivery de mesinha para computador em casa de Daniela Caldeirinha!! Tô dentro!!...rs

Nao disse, eu sabia, sábado era só um tchauzinho, até breve, a gente se vê!!

Beijos!!
Até amanha!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!