3.7.06

O início do recomeço

Hoje foi um dia muito importante e simbólico para mim. O primeiro dia útil fora do meu último trabalho no Brasil. O próximo agora só no Canadá. Por isso, fiz questão de começar muito bem a minha nova rotina do último mês em Sampa.

Seis e meia da manhã lá estava eu no Parque da Aclimação alternando caminhada com corrida, alongamentos e afins... Que delícia! Éramos eu, a tenacidade dos patos no lago verde refletido pelas árvores que rodeiam a pista de cooper, os sábios orientais e seus exercícios matinais como pequenas doses da longa e saudável vida que eles sabem como ninguém levar, o canto dos pássaros, a brisa no meu rosto. Enfim, quem me conhece sabe como a natureza (mesmo que em meio à selva de pedra) e a atividade física sempre foram as minhas paixões. Combinadas então!

Sete e meia - os sábios orientais e os moços e moças em seus trajes de cooper e Ipods pendurados retiram-se. Entram em cena os pais que acabaram de deixar os filhos na escola e fazem a sua caminhada diária, a garota que leva o seu caõzinho oprimido em pequenos espaços para ter um pouco mais de liberdade e até as felizes crianças que se dão ao luxo de ir a pé para o colégio e cortam o caminho passando pelo meio do parque.


E lá vou eu feliz da vida de volta para casa! Agora sim posso começar o meu dia e a minha nova fase. Movimentei o corpo, exercitei a mente no contato com a natureza! Ufa.. faz um mês que deixei o Kung Fu por motivos óbvios e o meu corpo já gritava por exercício. Nada que o esporte mais democrático de todos não resolva - corrida e caminhada. Para praticar basta apenas vontade, um bom tênis velho, noções básicas de aquecimento e alongamento e um pouco de verde em volta. Pronto - é para lá que eu vou voltar todos os dias antes de embarcar para o Canadá.

Hoje foi dia também de burocracia (só para não perder o hábito). Fui até o sindicato dos jornalistas para a homologação da minha demissão. Pronto, mais uma diversão na nova rotina. Ao invés de pegar o carro para ir até o centro de SP, apliquei a regra básica de todos os mochilões que faço com meu querido marido - transporte público + caminhada + olhar observador.

Se os amigos de faculdade da Bruna (minha querida ex estagiária) me vissem hoje, facilmente me identificariam como estudante. Camiseta, mochila, jeans, tênis surrado e para completar peguei o meu já gasto e velho disckman (sim , ele sobreviveu à onde dos Ipods e mp3 - eu sabia que um dia usaria novamente) subi no "busão" e fiz um tour pelo centro velho de SP em direção ao sindicato dos jornalistas.

De repente me dei conta que o CD de música italiana que rodava no meu disckman era o mesmo que comprei há 4 anos quando estive na Itália para um destes períodos sabáticos (sempre planejados é claro) e de novas experiências que tanto a minha alma carece de tempos em tempos. Coincidência ou não, na última copa eu estava em Florença ouvindo aquele CD e agora, após um bom tempo sem ouvi-lo, era a minha trilha sonora no ônibus Praça da República que me levou até a Rua Rego de Freitas hoje. Não sem antes passar em pontos bem turísiticos de SP como o Mercado Municipal, a 25 de março, o largo do Arouche e por fim a Praça da República.

Após anos dirigindo casa/trabalho/casa a gente perde a capacidade de expectador, de turista de nós mesmos. É incrível como a tendência natural do ser humano é fechar-se cada vez mais em seus microcosmos. Não é uma crítica. Acontece... e é natural que aconteça!

O que deveria ser lei, com registro em cartório e tudo, é que deveriamos nos dar o direito de um periodo sabático de tempos em tempos (variando de acordo com a faixa etária - quanto mais velha a pessoa, menor o intervalo para estes periodos de transição e mudança de rotina) para que nunca perdessemos a capacidade de vermos o mundo com outros olhos que não aqueles restritos ao que convencionou-se chamar de "nossa realidade" .

Tudo isso para dizer que hoje, naquele ônibus, pude admirar o que passava aos meus olhos e agradecer São Paulo por ter me acolhido tão bem quando cheguei e ter me presenteado com momentos e pessoas muito especiais nestes dez por aqui. Quando cheguei, não tinha trabalho, não tinha amigos. Apenas a certeza de que era aqui que queria ficar. Hoje saio com amigos e tudo de melhor que pude tirar da cidade e a certeza de que quero ficar em Toronto.

E sentir este dia de hoje assim, como o início do recomeço, só me fez lembrar como a minha alma precisa destas mudanças para ficar em paz e seguir em frente.

3 comentários:

Anônimo disse...

tênis surrado, mochila, discman...pra ser cásper total, só faltava aquela camiseta do bonequinho jogando o símbolo do McDonald's no lixo! hahahaha
beijos

Paula Regina disse...

veja bem... não exageremos não é mesmo querida bruna?

Anônimo disse...

Gummer,
Tô torcendo por vocês!
É isso aí!

Abraço,

Ernani