7.7.06

A coragem, os gatos e o carro sujo

Este último mês e meio, desde que contamos a todos sobre o que estamos prestes a fazer (Viver no Canadá), não tenho feito outra coisa senão responder indagações. Muitas delas se repetem como as já tradicionais "Por que o Canadá? Você arrumou emprego lá?" . Eis que de repente, em meio a todos os debates, questionamentos e reflexões, surge uma pergunta inédita - "De onde você tirou coragem para fazer isso. Como teve coragem para pedir demissão, por exemplo?"

CORAGEM - nem mesmo eu havia parado para pensar que este é sim um fator importante para muito do que fazemos nesta vida. E que, para este grande projeto em específico, precisamos sim de uma boa dose de coragem. Tem razão o meu colega em indagar. Entretanto, como tudo que foge ao exato, portanto abstrato, torna-se um tanto quanto relativo.

Reconheço. Eu e meu querido marido tivemos que ter coragem em escolher o momento certo e tomar as decisões que precisamos para seguir a diante com tudo. Como "ela" - a coragem - veio? quanto tempo demorou para surgir?

Difícil dizer (justamente por isso gostei bastante da questão inédita). Tudo que é abstrato como a coragem, enquanto relativo, varia de pessoa para pessoa. Não há regra e nem tampouco fórmulas prontas sobre como cada ser reage à determinados momentos, pressões e fatos. Se houvesse, certamente já teriamos um "guru" multimilionário com a venda destas fórmulas (não que não os tenhamos "tentando" fazer o senso comum acreditar que sim, esta fórmula existe. Vide os Paulos Coelhos e correlatos da vida...).

Agora vocês querem a prova de que mesmo a CORAGEM que tanto me foi útil para desfazer todos os vínculos no caso do Canadá, pode ser a mesma CORAGEM que me falta com determinados outros assuntos? GATOS!! Não me perguntem de onde vem esta minha aflição e medo (acho que é um tipo de medo sim). O fato é que ela existe. Os bichanos que para tantos é sinônimo de "cute cute", "que fofinho" , etc... Para mim é a sensação oposta. Consigo até achá-los bonitinhos mas lá na tela do cinema na pele do Garfield (aliás, adoro este) e passando bem longe de mim.

Pois é, só que ontem não consegui evitar um contato mais "íntimo" com o "fofinho" que resolveu cercar o meu carro quando estacionei para a corrida matinal no parque. Podem rir, mas eu não abri a porta do carro enquanto o pequeno "ser" não se movimentou. O caso é que ele resolveu ficar ali me fitando. Resultado: pulei o banco do passageiro e sai pela outra porta. Esperei o bichano sair para poder trancar a porta do motorista pelo lado de fora!!

Queridos amigos, onde estaria naquele momento a minha CORAGEM ? Não sei, enquanto abstrata e relativa não consigo definir. Saldo - atraso de dez minutos na minha corrida que sempre começa pontualmente às 6h30 da manhã. Se vocês acham que terminou por aí estão muito enganados...

Uma hora depois, quando vou pegar o carro para ir embora, a "bola de pêlos ambulante" fazia sua "meditação matinal" sobre o capô do meu carro! SENSACIONAL!! Como vou entrar no carro agora? Quisera eu que, naquele momento, a CORAGEM que tenho para tantas outras coisas de repente surgisse!

Ainda em uma tentativa de disfarçar a minha tensão (mas mais buscando apoio moral para aquela situação) disse às duas senhoras - "como vou fazer para espantar este gato daí agora?". Ambas tranquilamente (com a naturalidade de quem dorme com gatos desde a infância lá em barbacena) disseram: "Assim que vc ligar o carro ele sai"...

Pois é minhas senhoras, mas para ligar o carro eu preciso entrar nele!! Calculei friamente os meus movimentos para que o gato não se movesse enquanto eu estivesse ainda fora do carro... UFA! As sorridentes senhoras ainda me brindaram com um simpático "Viu com ele é inteligente??" assim que eu liguei o carro e o gato saiu do meu capô. Ninguém merece...

Acho que qualquer outro "brasileiro apaixonado por carro" teria ficado tenso/irritado e preocupado com a possibilidade de as garras da "bola de pêlos ambulante" riscarem a pintura de seu carro... já eu ? Logo eu ? A última coisa que viria na minha cabeça era isso....

Até porque, quem já perdeu as contas de quantos meses (eu disse meses) faz que não lava o carro, não deve ser lá uma pessoa muito ligada nisso né? O carro funcionando e me transportando está mais do que cumprindo suas funções... Ah tá.. agora sim entendo porque o gatinho ficou uma hora sobre o meu capô. Ele só deve ter confundido com uma grande rocha de tão sujinho que está o carro. Acho que está na hora de começar a pensar em lavar o carro... eu é que não vou querer encontrar o mesmo gato todas as manhãs sobre o meu capô!




2 comentários:

Dani e Rafa disse...

Oi Paula,
Adorei o Blog. Aproveite bastante esta fase final por que a experiencia é única. As despedidas nunca são fáceis, mas a sensacão de arriscar a vida em uma pais diferente é mto gostosa. Vamos ficar em contato e nos avise quando chegar por aqui. Vcs já conhecem pessoas em Toronto? Nós estamos em North York e tem um grupinho (+/- 7 casais de brasileiros) aqui na região. É bem legal pq sempre que dá fazemos um encontro!! Beijos e boa sorte!

Paula Regina disse...

Eu tenho certeza disso dani, por isso mesmo estou tão intensa nestes últimos meses. Cada encontro é uma despedida! O que nos move para frente é justamente esta sensação de experiência única e gostosa que vc fala e que só quem tem o desejo muito forte de experimentá-la sabe. Vamos manter contato sim e te aviso quando chegar. Afinal vc é a minha primeira "amiga" em Toronto. Espero que sejamos boas companheiras um dia!
bjs e sucesso para vcs também.