18.3.11

Não entendo.

Lendo a Macleans da semana passada me deparei com uma matéria interessante e que diz respeito à realidade de muitos imigrantes. Aliás, tudo fica mais curioso quando nós mesmos somos objeto de observação. Não acham? Sempre que leio algo sobre o assunto, o faço com mais propriedade e me sinto melhor preparada para chegar a uma conclusão, uma vez que eu mesma sou uma imigrante.

Na realidade, a matéria em questão fala sobre pessoas que se casam com alguém de nacionalidade diferente da sua e que, por razões óbvias, decidem morar no mesmo país do cônjuge. Ilustra o caso de uma britânica que resolveu vir morar no Canadá para ficar ao lado do noivo canadense. Tudo bem que essa não é exatamente a minha realidade, pois meu maridinho é "made in Brazil" mesmo:) mas o que achei interessante compartilhar, principalmente com aqueles que estão chegando (independente de casados com canadense ou não), é a história da britânica que, advogada em seu país de origem, aqui só conseguiu até hoje ser recepcionista de um escritório de advocacia.

Não há demérito nenhum nisso, mas o ponto que gosto sempre de enfatizar é que o fato de ser casada com canadense, e, principalmente ter um inglês fluente (inquestionável no caso de uma britânica) não lhe garantiu o emprego no nível que ela imaginava e-ou merece. Como ela mesma cita na matéria, na época que chegou o que o Canadá precisava mesmo era de motoristas de taxi e "dançarinas exóticas (ops)". Tá já sei, ela é advogada e precisa estudar as leis canadenses blablabla... ok precisa sim, mas a ferida é muito mais profunda que isso e esse é só um exemplo "meigo" comparado a outras realidades bem mais duras.

Digo e repito não para desencorajar ninguém mas sim para dar forças. Até porque, não raras vezes, os recém-chegados sentem-se depreciados por conta do inglês que falam ou até mesmo em razão das "lavagens cerebrais" que são maquiadas em meio aos cursos oferecidos (pelo governo) ao imigrante e que fazem muita gente boa se sentir depreciada ao chegar aqui. Mas isso é assunto para uma série de posts que pretendo fazer um dia...Apesar de eu não ser mais uma recém-chegada há coisas que vivenciei quando aqui cheguei que faço questão de registrar um dia para ajudar outros a entender melhor o "sistema".

Saber do real cenário significa ter mais ciência do que está fazendo e mais forças para lutar. Afinal, como sabiamente escreveu Clarice Lispector: "Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras..."

Sempre achei , e continuo achando, que mais transparência por parte das instituições canadenses no que o imigrante, em sua grande maioria, vai de fato encontrar quando chega não machucaria ninguém! E matérias como essa, ainda que pontuando casos mais específicos, acabam dando uma pequena idéia do que realmente acontece. Pequena. Até porque parafraseando Clarice Lispector novamente: "...Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais, mas pelo menos entender que não entendo..."

5 comentários:

Piaçava disse...

Eu também não entendo, Paula. Assim que cheguei aqui fui direto ao Skills for Change, onde também conheci um britânico casado com uma canadense, formado em Biologia, mas que não conseguia emprego na área aqui no Canadá.
considero-me uma pessoa de muita sorte, pois não cheguei com Inglês fluente, e mesmo assim consegui emprego na minha área, que exige exatamente um Inglês perfeito, já que ganho a vida escrevendo manuais de instruções. OK, a linguagem técnica é mais fácil, mas mesmo assim é necessário ter bastante conhecimento da língua. Se me sinto insegura na hora de procurar emprego? Sem dúvida alguma, já que existem milhões de technical writers cujo idioma nativo é Inglês. O que me faz passar na frente deles? Ainda não sei. Na minha empresa dizem que eu sou uma pessoa fácil de se lidar.
Como você vê, existem casos de todos os tipos, e apesar do idioma ser uma barreira para alguns, existe algum outro fator oculto (além de sorte) que faz com que uns se saiam melhor que outros.
Apesar de me considerar sortuda, tenho que dizer que o sistema está cheio de falhas sim, com muita gente competente que ainda não teve a oportunidade de mostrar o que é capaz. Cotinuo achando esse papo de experiência canadense pura BS, pois até pessoas que trabalharam a vida toda nos EUA, que tem uma cultura bem próxima da canadense, enfrenta esse problema. Pra mim é uma questão de preconceito e de empresários de má fé que querem se aproveitar de mão de obra qualificada sem pagar muito.
Se as coisas vão mudar? Duvido.

Piaçava disse...

Sorry pelos erros de digitação no comentário anterior.

Paula Regina disse...

Exatamente Piaçava, é isso mesmo! Vc resumiu bem. É sim uma questão de preconceito somado a empresários de má fé que querem se aproveitar da mão de obra qualificada sem pagar muito. E há sim casos de todos os tipos, sim, há também o fator sorte e outros ocultos (adorei o termo:)...Também não acho que mude não e justamente por isso acho importante mais transparência para os que estão chegando.
Quanto ao seu caso eu tenho certeza de que além de sorte vc tem talento. Mas o grande drama que vejo é que muitas pessoas talentosas e como vc mesma disse, com inglês nativo, ficam de fora da PEA porque inadequação do sistema. Quiçá outros tantos que chegam ... Enfim, vou passar a minha vida inteira refletindo e observando esse assunto e um dia meu livro sai!

Miguel disse...

Acredito ser um preconceito para com os imigrantes, parece-me não apenas com latinos, visto que a advogada britânica também não conseguiu explorar a atividade na qual é formada. Triste isso. Aqui no Brasil então a coisa é totalmente aberta, o Português desembarca em nosso país e no dia seguinte já está com seu bar, sua padaria, irônico, não? minha cara Paula, gostei muito do teu blog, logo mais estaremos de volta por aqui. Felicidades aos teus e principalmente ao pequeno Arthur. Até.

Paula disse...

Olá Paula, achei muito legal o seu post, essa transparência é muito útil pra quem está pensando em ir ou em vias de ir. Nada como estar preparada pra esses tipos de frustrações, que são sim muito possíveis de acontecer. Eu ainda estou no processo de espera da entrevista, mas já conversei com pessoas que já imigraram e a muitos me disseram que nem tudo são flores nessa questão profissional, existe uma dificuldade muito grande sim e eu acho legal a pessoa saber de antemão, não para fazê-la desistir do processo, mas pra conseguir lidar melhor com as dificuldades ao chegar no Canadá. Excelente post, parabéns pela iniciativa!