1.9.09

Férias de imigrante

Estive pensando. O estado de ser imigrante deveria estar catalogado entre as profissões como engenheiro, médico, enfermeiro e assim por diante. E, regulamentado como tal, o imigrante "profissional" deveria, obrigatoriamente, gozar de férias frequentemente para manter sua sanidade mental em dia. Claro que as regras deveriam ser claras, como já diz Arnaldo Coelho, ou seja, em dois anos na carreira de imigrante a obrigatoriedade de férias pelo menos uma vez por ano e a partir de 3 anos na labuta, duas vezes por ano e assim sucessivamente.

Quanto mais tempo na carreira de imigrante mais importante para a sanidade mental do imigrante sair de férias. Detalhe importante da nova lei promulgada por mim : o destino das férias não pode ser qualquer um mas sim o país de origem do imigrante em questão. Portanto, no caso de brasileiros imigrantes espalhados mundo afora o destino: Brasil. Sim, porque não se trata apenas de visitar locais nunca dantes navegados ou explorar novos destinos, situações e culturas. Lembrem-se, isso o imigrante faz todos os dias em sua carreira exploradora e muitas vezes sofrida.

As férias neste caso seriam de um estado mental e emocional de ser imigrante que , por mais que o tempo passe e o mesmo se adapte à tudo em sua volta, lá onde ele está, em qualquer que seja a parte do mundo longe de suas origens, ele sempre será imigrante! Aos pouquinhos cresce, adquire mais conforto, faz amigos e as coisas vão melhorando mas mesmo assim, eternamente o estado de espirito está lá.

Aí, o imigrante volta para o seu local de origem para passear. E essa sou eu agora, gozando de merecidas férias do estado mental de imigrante na minha terra natal. Prestes a completar 3 anos na carreira de imigrante (dia 14 de setembro mais especificamente), revigoro meu espírito quando ando pelas ruas de uma pequena cidade do interior de SP que, mesmo vindo uma vez por ano, as referências todas de minha vida pré - imigrante estão lá. Além, é claro de pessoas que (aqui estou excluindo familiares e amigos. As chamaria de conhecidos) fizeram parte de toda a minha história e até hoje, não importa quanto tempo fico longe, tratam-me com o mesmo carinho e sorriso no rosto de outrora. Isso revigora, dá forças e energia para, no pós férias, voltar para a carreira de imigrante.

Quem já imigrou, está ao menos um ano longe de suas raízes e já gozou de suas férias de imigrante, sabe bem a diferença entre a atmosfera vivida pelo "profissional" imigrante em sua árdua batalha mas que nem por isso deixa de ser prazerosa por vezes, e aquela vivida em sua terra natal, independente do tempo de "profissão" .

Sim, gozo de férias no Brasil neste momento e vivencio como se fossem os últimos cada momento vivido onde não sou apenas mais uma imigrante mas sim alguém com história, passado, referências. Não que andar para frente, explorar e ter planos não sejam importantes mas é que isso, uma vez que se é imigrante, faz-se a cada segundo por todo sempre e, pelos primeiros 5 anos apenas construindo alguma história, ou seja, sem passado no local escolhido. Aí , naturalmente faz falta voltar de vez em quando para onde você enxerga no rosto do outro o que outrora passou.

E claro, sem falar em quão revigorante é dar uma passadinha na feira para comer um pastel, bater um papo descompromissado no boteco da esquina, molhar a horta, sentir o cheiro da terra e viver o momento das férias para, no retorno , continuar a enriquecedora mas muitas vezes desgastante "profissão" de imigrante!

10 comentários:

Clau e Zé disse...

Ótimo texto! E deu saudade da mãe e do pai...

Alexandra disse...

Bom, em certo momento essa trajetória se inverte e vc passa a se sentir estrangeiro em seu próprio país de origem. É aí que vc passa a querer passar férias em outros lugares... ;)

Paula Regina disse...

Não tenho dúvidas Alexandra mas acho que isso só passa a acontecer depois de uns 10 anos fora, o que ainda não é o meu caso.
bjs

Renata, Dory, Olívia e Vítor disse...

Não sei se um dia eu vou passar a me sentir estrangeira em meu próprio país. É muito cedo pra dizer qquer coisa, mas esse fato de não ter história aqui é muito difícil pra mim.
Vamos ver o que vai ser com o passar do tempo.
Adorei o texto!
Bjs

Sweet Canadian Life disse...

Como politica, voce ja' tem meu VOTO!!!!

Mas a Alexandra esta' certa. So' vou ao Brasil por causa da minha familia! Eu me sinto um peixe fora d'agua no Brasil. E' tudo tao diferente da minha infancia.... Muitos lugares que eu passeava e brincava nao existem mais. A vendinha que eu comprava doce fechou. Muitas casas foram demolidas e um predio surgiu no lugar. No inicio da minha carreira de imigrante ia ao Brasil de ferias uma vez ao ano. Depois de uns 7 anos, comecei a ir a cada 2 anos. Hoje prefiro ir para Dominican Republic, Riviera Maya, Florida, etc. Mas claro, como a gente tem familia la' nao podemos parar de visitar. Uma vez a cada 2 ou 3 anos ta' bom demais!

Entao voce acertou em cheio! A cada 3 anos e' perfeito! ELEITA!

Adorei o seu post!

Beijos,
De

anareis disse...
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Anônimo disse...

Entendi perfeitamente cada palavra que você falou. No meu caso, acho que gostei tanto das minhas férias que casei da minha vida aqui... quero voltar pra minha história, minha vida, minha família. Cansei dessa profissão full time que é ser imigrante...

Cada um, cada um!

Abraços!

Carol, Ênio e Leila disse...

Depois de um ano e meio, fui ao Brasil de férias e amei. Mas, fiquei pensando o tanto que deixei de viajar por aqui. rs Já avisei que não volto tão cedo.

gabi disse...

ola tudo bem? muito bom o seu blog parabéns... eu tbm estou querendo ir para o canada e estou começando a ver sobre o processo de imigração com o meu namorado, porém estou em dúvida se contrato aqueles escritorios que ajudam a conseguir o visto de residencia permanente ou faço por conta propria o processo, como vc fez? vc poderia me add no msn? iria ser legal conversar com vc =)
obrigadaaaaaa
agabizinha_c@hotmail.com
bjsbjs

Beth Blue disse...

Interessante sua teoria! Eu sou imigrante há mais de 15 anos e por essas coisas da vida não vou ao Brasil há mais de 10 anos. Se por um lado isso não deve ser bom pra minha saúde mental (e de certa forma, não é mesmo) por outro lado me sinto tão em casa aqui na Holanda depois de tantos anos me adaptando a este estranho país que acho que me sentirei uma estrangeira na próxima vez que pisar em solo brasileiro (como a Alexandra bem comentou aqui encima).

Em suma, tudo na vida é relativo. O importante é estar vivo e saber aproveitar as oportunidades que a vida nos oferece. Sempre!