Sim, vou escrever novamente sobre as complicações da inserção de imigrantes, profissionais experientes e fluentes no mercado de trabalho Candense de maneira decente . Chatice minha? Claro que não pois muito antes deste blog existir, ou melhor, desde que me conheço como gente me interesso em observar e ler sobre o comportamento humano e suas reações diante de dificuldades e desafios. Daí a minha veneração pelos atletas, olimpíadas e coisa e tal... mas isso é um outro assunto. Negativismo? De maneira alguma, apenas resultado de uma coincidência entre o meu gosto pela leitura e a reflexão. Afinal, agora que sou uma imigrante tudo fica mais intenso, foge apenas da reflexão e vira vivência mesmo! Bem mais empírico, convenhamos.
Pois bem, durante a minha saga aqui para ter certeza de que estou dando o meu melhor e tudo que está ao meu alcance está sendo feito para que, mais para frente, eu possa participar novamente da famosa PEA (População Economicamente Ativa), tenho me embrenhado nas ferramentas de relacionamento professional e social do mundo virtual (calma gente, o meu mundo real de ir à escola, casa, marido, amigos reais e os meus sagrados exercícios físicos e de meditação não foram afetados:).
Há duas semanas comecei a participar de uma rede de relacionamento de imigrantes no Canadá fundada pelo editor da revista Canadian Immigrant (uma velha conhecida minha pois não somente pelo interesse enquanto comunicadora mas também como imigrante leio a publicação desde que aqui cheguei em 2006). Por meio de tal comunidade virtual cheguei no blog do editor desta revista que, por sua vez, reproduziu o artigo motivo deste post.
Assinado por Sandra Fonseca, o artigo é mais um no mar de artigos que falam do problema de inadequação da mão de obra imigrante e o quanto o país perde de capital humano em não ouvir este chamado que as pesquisas relatam a cada ano. Ao ler os resultados mais recentes do estudo "O Imigrante Canadense e o Mercado de trabalho em 2007" , o que me chama mais atenção (não que eu não suspeitasse e nem me surpreendesse com isso) são os que seguem:
imigrantes educados nos Estados Unidos (77.8%) e na Europa (73.8%) tiveram taxas mais elevadas de emprego se comparados com imigrantes educados em outros países de regiões da Asia (65.5%), América Latina, oh nóis aí (59.7%) e Africa (50.9%). Vale ler mais este pedido de alerta para a questão aqui.
Por essas e outras é que me incomodo um pouco quando leio e ouço tudo sendo pintado tão lindamente azul, em qualquer que seja o meio. Contra fatos, ou melhor números, não há argumentos. Embora muitos tenham na ponta da língua vários bla, bla, blas como inglês não fluente, não reconhecimento de estudo adquirido fora do país.. blá, blá, blá.
E antes que alguém me diga que sim, há este tipo de problema, já vou logo dizendo que ninguém mais do que eu que estou morando aqui sei disso. Entretanto, não é este o meu ponto. Quero saber quando os empregadores vão parar para pensar que não dá para colocar todo mundo em uma mesma baciada e arriscar um pouco mais em dar chances para tantos qualificados que estão por aí afora e descobrir o óbvio: quanto capital humano desperdiçado!
11 comentários:
Muito interessante seu post...não é todo mundo que tem a coragem de assumir certas opiniões, fundamentadas em fatos, publicamente. Até porque a atmosfera blogueira gosta de transparecer um certo 'conto de fadas'. Mas sabemos que, aqui no Brasil ou aí no Canadá, existem problemas, sim, que devem ser tratados. Só não podemos perder a esperança, né?! Temos que crer que irá melhorar!
abç,
Carol.
Muito bom, é bom pra colocar os pés no chão.
Paula, nem me fale! Me assusto quando penso nessa dura realidade, mas com todas as dificuldades, precisamos continuar nos valorizando e "confiando no nosso taco".
Quando morei em Vancouver, fiz um programa de business internship e fui trabalhar no escritório de uma das mais luxuosas marcas de carro do mundo, por 3 meses. Sempre que tinha espaço, dei minhas idéias e sei que contribui bastante com um monte de coisas (pequenas, até, para mim), pois não faltaram elogios...
Mooorro de medo de não conseguir emprego logo, mas sei que esse risco existe e vou partir pra os survivals, se precisar. Fazer o que? Uma coisa com certeza: não desanimar nunca! ;)
Beijos,
Mariana
Paula,
Conta pra gente um pouquinho do mercado de comunicação aí. Divide tuas angústias :)
Como disseram aí em cima, esse negócio que canada é conto de fadas, ilude mesmo.
Obrigada pelo post!
Claudia
Nós chegamos em Edmonton em 24th de Abril e até agora não consegui nada (ambos arquitetos). Já tentei de draftsperson a carpenter assistant e nada. Dizem que sou overqualified ou que não tenho experiência canadense. Por mais que você se prepare no Brasil não dá para acreditar que poderia ser tão difícil arrumar algo por aqui. Boa sorte pra vocês e thanks pelo post.
Pois eh, Paula, para justificar o injustificavel criou-se o "mito da experiencia de trabalho canadense".
Ja vi na TV que os empresarios utilizam-se dessa desculpa para "descartar" imigrantes que nao tem muito alem de um Ingles basico, mas e no caso de quem fala bem a lingua?
Cheguei a ouvir de um recruiter que ele nao podia me contratar porque eu nao tinha CINCO ANOS de experiencia canadense...PODE???
Se vc for perguntar o que eh a tal da famigerada experiencia de trabalho canadense, cada um vai te dizer alguma coisa, aih vc vai tentar arranjar um emprego qualquer (no Tim Hortons, por exemplo) so para adquirir essa tal "experiencia".
Na hora de procurar emprego na sua area vc acha que eles vao levar em conta essa experiencia "extra-curricular"? Logico que nao! Vao dizer que vc nao tem experiencia canadense na sua area!
Isso eh o mesmo circulo vicioso que vc encontra quando sai da faculdade em busca do primeiro emprego.Todo mundo quer alguem com experiencia anterior mas se ninguem te contrata sem experiencia vc nunca podera ser contratada justamente porque nao tem experiencia. Eh como correr atras do proprio rabo.
Deu para perceber que este eh um assunto que me deixa bastante indignada, ne?
Gostaria muito de fazer alguma coisa a respeito para mudar a mentalidade das pessoas mas nao tenho ideia do que poderia ser feito.
Bjs
Oi Paula,
Obrigada pelo comentário lá no blog. O meu único medo é, por qualquer motivo, precisar voltar (temporariamente ou não) e ficar descoberta por aqui. Fazer sentido realmente não faz, mas uma grande de parte da minha vida vai continuar aqui, né? Sei lá... mas isso ainda vai render umas boas conversas!
Bjs
oi, Paula. Estou fazendo uma reportagem sobre migrações na era dos blogs para a revista Continuum, do Itaú Cultural. Gostaria muito de entrevistá-la por e-mail Caso tenha interesse em participar, escreva para o e-mail verunschk@terra.com.br
Vc pode ver a revista online em
http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2689
e minha mais recente matéria em
http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2720&cd_materia=579
um abraço e obrigada!
Bom dia Paula,
Me chamo Bernardo e antes de te escrever destrinchei seu blog, lendo tudo... de cabo a rabo. Parabéns pelo seu Blog... é muito bem escrito e coerente com a realidade.
Estou em SP e trabalho em MKT (B2B) numa empresa que fica muito perto do prédio da Johnson... eu fico aqui no Unibanco AIG (prédio azul ao lado da Tok & Stok na Fco. Morato). Às vezes vou comer um pastel na frente de seu antigo local de emprego.
Assim como muitos, compartilho o mesmo sonho de ir para o Canadá. Já estou no processo (skilled worker) desde maio ’08 e o meu visto vai demorar um pouco para chegar... provavelmente dezembro ’09.
Em meio à espera e ansiedade de concretizar o sonho, estou me preparando... IELTS, grana, estudar o mercado de trabalho, destrinchando vários blogs, aprimorando a língua etc, etc, etc...
Estou te escrevendo para, além de te conhecer, contar com sua ajuda para saber o que Vc acha da validação de diploma que a WES oferece. Vc acha que o inevstimento vale a pena??? Isso pode ajudar na hora de conseguir um emprego ou serve mais para quem vai ao Canadá com o intuito de estudar???
Abs,
Bernardo Dimenstein.
Oooops,
MSorry Paula, me esqueci de informar meu e-mail.
Lá vai: bernardodimenstein@yahoo.com.br
Abs,
Bernardo.
Parabéns pela postagem. A maioria das pessoas tem dificuldade para falar da integração ao mercado de trabalho. Minha esposa e eu acabamos de chegar de uma viagem de prospecção de três meses a Montreal e pelo que vimos e pudemos absorver no contato com os canadenses e imigrantes o mundo canadense não é tão azul quanto parece a distância. Nós já sabíamos disso, mas o contato com a realidade foi importante para manter os nossos pés no chão. Não mudamos em nada a nossa decisão de imigrar, mas estamos certamente mais conscientes dos desafios que encontraremos. Será difícil, mas estaremos em um país mais justo, correto e com muitos atributos.
Boa Sorte,
Fábio
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