31.3.11

Pão Francês

Não acreditei. Fiquei perplexa. Passada mesmo, acho que de tanta felicidade e cansaço ao mesmo tempo! Cansaço porque aquele era nosso primeiro sábado (digo dia) na casa nova e eu só fazia desempacotar mudança (ainda estou fazendo mas bem menos). Felicidade porque o marido trazia da rua o meu amado, delicioso, gostoso e imbatível Pão Francês!!!!

Naquele dia faltou apenas a mortadela no meio dele (o meu querido pãozinho) mas foi queijo branco mesmo e eu me ludibriei dizendo a mim mesma que era mais saudável. Ok, saudável mas não mais gostoso. Enfim, quando dei a primeira mordida o meu paladar quase não acreditou que estava de fato comendo um verdadeiro pão francês, não um fajuto como muitos que já vi por aqui.

Aquele mesmo, sagrado de toda manhã e que, desde que nos mudamos para o Canadá, perdeu lugar para o famijerado pão de forma, que tem lá seu charme mas nunca vai chegar perto de um real e legítimo pão francês. Esse sim, vai bem com tudo!

E quando pensava que minha felicidade estava completa o marido me traz a informação que ao atravessar a rua, em nosso novo endereço, há uma padaria de verdade! Não um Tim Hortons nem um Starbucks, uma P - A - D - A - R - I - A! Coisa dos Portugueses que aqui habitam graças a Deus!

O nome do paraíso na face da terra? BRAZIL BAKERY:) Eu sei, engraçado mas não importa. Aliás se pararmos um pouquinho para pensar vamos perceber que o conceito da padaria brasileira foi mesmo trazido pelos Portugueses, então no frigir dos ovos as padarias brasileiras são na verdade de origem portuguesa, mas como disse não vamos brigar por isso vamos é aproveitar que depois de tanto tempo vou poder abandonar o famijerado pão de forma e voltar para o meu lindo, delicioso e tudo de bom pão francês . Bom sem contar nas coxinhas, nos bolinhos de bacalhau e nos diversos outros tipos de pães que há ao meu alcance agora.

Tudo bem vai, acho que isso de ter padaria de verdade do outro lado da rua não vai prestar. Só não estou mais preocupada porque agora tenho lances de escada para subir e descer o dia todo e um filho de um ano e 3 meses que mais parece uma maquinha de sugar energia da mãe dele! Então tá tudo certo:)

Detalhe, quando viemos ver a casa para alugar nem sequer percebi que havia esse oasis do outro lado da rua!

18.3.11

Não entendo.

Lendo a Macleans da semana passada me deparei com uma matéria interessante e que diz respeito à realidade de muitos imigrantes. Aliás, tudo fica mais curioso quando nós mesmos somos objeto de observação. Não acham? Sempre que leio algo sobre o assunto, o faço com mais propriedade e me sinto melhor preparada para chegar a uma conclusão, uma vez que eu mesma sou uma imigrante.

Na realidade, a matéria em questão fala sobre pessoas que se casam com alguém de nacionalidade diferente da sua e que, por razões óbvias, decidem morar no mesmo país do cônjuge. Ilustra o caso de uma britânica que resolveu vir morar no Canadá para ficar ao lado do noivo canadense. Tudo bem que essa não é exatamente a minha realidade, pois meu maridinho é "made in Brazil" mesmo:) mas o que achei interessante compartilhar, principalmente com aqueles que estão chegando (independente de casados com canadense ou não), é a história da britânica que, advogada em seu país de origem, aqui só conseguiu até hoje ser recepcionista de um escritório de advocacia.

Não há demérito nenhum nisso, mas o ponto que gosto sempre de enfatizar é que o fato de ser casada com canadense, e, principalmente ter um inglês fluente (inquestionável no caso de uma britânica) não lhe garantiu o emprego no nível que ela imaginava e-ou merece. Como ela mesma cita na matéria, na época que chegou o que o Canadá precisava mesmo era de motoristas de taxi e "dançarinas exóticas (ops)". Tá já sei, ela é advogada e precisa estudar as leis canadenses blablabla... ok precisa sim, mas a ferida é muito mais profunda que isso e esse é só um exemplo "meigo" comparado a outras realidades bem mais duras.

Digo e repito não para desencorajar ninguém mas sim para dar forças. Até porque, não raras vezes, os recém-chegados sentem-se depreciados por conta do inglês que falam ou até mesmo em razão das "lavagens cerebrais" que são maquiadas em meio aos cursos oferecidos (pelo governo) ao imigrante e que fazem muita gente boa se sentir depreciada ao chegar aqui. Mas isso é assunto para uma série de posts que pretendo fazer um dia...Apesar de eu não ser mais uma recém-chegada há coisas que vivenciei quando aqui cheguei que faço questão de registrar um dia para ajudar outros a entender melhor o "sistema".

Saber do real cenário significa ter mais ciência do que está fazendo e mais forças para lutar. Afinal, como sabiamente escreveu Clarice Lispector: "Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras..."

Sempre achei , e continuo achando, que mais transparência por parte das instituições canadenses no que o imigrante, em sua grande maioria, vai de fato encontrar quando chega não machucaria ninguém! E matérias como essa, ainda que pontuando casos mais específicos, acabam dando uma pequena idéia do que realmente acontece. Pequena. Até porque parafraseando Clarice Lispector novamente: "...Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais, mas pelo menos entender que não entendo..."

10.3.11

Mudança à vista.

De repente me vejo rodeada de caixas por todos os lados. Dia desses quase perdi meu filho em meio a tantas caixas:) Os tiozinhos que descarregam as frutas e legumes no mercado da vizinhança já ficaram meus amigos. Todo dia apareço por lá e pego 4 caixas com eles. É o que consigo carregar, além do carrinho e do Arthur:) De grão em grão...

Ontem o meu filho parecia um retirante voltando para casa. Era caixa por todos os lados do carrinho dele, oh dó! Há uns dias que, ao chegar por volta de oito horas da noite, sinto meu corpo todo reclamar. Parece que carpi o dia todo na roça de tanto que tenho trabalhado por aqui. Afinal apesar de já ter me mudado algumas vezes, essa é a primeira que me mudo com um pequenino junto. O trabalho físico é dobrado mas estou feliz, muito feliz! Como nunca estive... Vamos nos mudar!

Dezenove de março é o dia ! Dormiremos inverno, acordaremos primavera. Quão romântico, inspirador e renovador é isso? Essa não é uma mudança qualquer. Não apenas uma mudança física, de um prédio para uma casa. Trata-se de mudança de espírito, de luz, de energia. Afinal, após 15 anos morando em apartamento vou finalmente voltar para uma casa!

Que delícia! Vamos morar em uma daquelas casas dos filmes que eu assistia quando menina e sempre dizia ao meu pai que quando crescesse moraria em uma delas. Em meu imaginário de menina as casas que via nos filmes americanos (sem muro e sem portões) representavam toda a liberdade que habitava o meu ser. Eu cresci, casei, imigrei, gerei um sonho (meu filho), tenho saúde e uma família linda! O que mais posso querer? Que cada um que me lê agora, ou melhor, que cada ser que habita o planeta terra, sinta a mesma felicidade que estou sentindo. Apenas isso.

Ah, vamos morar em Mississauga, em uma casinha honesta e compacta (do jeito que eu queria, afinal sou eu mesma quem faço a faxina:) nessa região aqui.