9.11.12

35 dias

35 dias. Nem mais, nem menos. Falta muito pouco para que meus cansados pés se voltem para cima e não mais trabalhem duro como de costume. Trabalhar enobrece o homem já dizia o sábio. Descansar, no entanto, motiva a prosseguir. E é isso que farei em 35 dias. Descansarei.

Em seis anos de exílio, posso afirmar com categoria que não mais tenho saudades do que passara e não é mais. Posso dizer, com firmeza de propósito, que meus pés (aqueles cansados e que se voltarão para cima) estão bem certos de sua trilha nesse país que escolhi para chamar de minha terra, meu lugar: o Canadá.

Entretanto, há outra terra, outro lugar. E para lá gosto de voltar sempre para descansar, recarregar, me confortar. E esse lugar chama-se Brasil. Lá estão familiares queridos e amigos que jamais sairão de minha mente e coração. Curioso sentir que a cada vez que volto parece que nunca deixei aquelas pessoas. E nunca deixei mesmo. Sempre as amarei com a mesma intensidade de antes. São poucas essas pessoas mas elas sabem quem são.

É sempre bom voltar para as origens e lembrar quem fomos um dia. Melhor ainda é perceber que somos mutantes, seres extremamente adaptáveis a tudo! Imigrar não nos torna pior nem melhor que ninguém mas nos dá uma visão profunda dos sentidos que buscamos. É como se colocássemos uma lente de aumento em tudo que enxergamos. E, de repente, com o passar dos anos, vamos tendo a clareza da resposta para a pergunta: "que tipo de pessoa eu quero ser quando crescer"? Incrível como sair da zona de conforto nos dá esse poder extra especial.

Mas ganhar poderes especiais não é o único resultado de estar fora da zona de conforto. Sair da zona de conforto cansa, fatiga, instiga. Te faz buscar o sentido das coisas com mais voracidade. Dá movimento. E esse movimento nem sempre é positivo mas, enquanto movimento, progride. Dá trabalho construir novas realidades a cada instante, novos poucos e bons amigos de infância, cenários confortáveis longe de suas raízes. A labuta é árdua e nem sempre compensa. Ainda assim, sinto prazer em todo esse trabalho longe do que um dia eu fui. Ainda assim, sinto orgulho de viver longe do que um dia foi meu. Ainda assim sorrio ao provocar o sorriso de alguém que está longe de ser um amigo de infância que já passou. Por isso trabalho. Por isso vivo e existo no Canadá! E por isso descanso no Brasil.

Boas risadas, abraços e conversas ao pé do ouvido me aguardam. A fumaça do café que só meu pai sabe fazer. O cheiro de bolo de laranja saído do forno à lenha. Os pés descalços na fazenda e a vizinha que abre o portão para lamentar o preço da cesta básica. A minha estranheza diante de tudo que já passou e ainda continua lá. A isso dou o nome de férias no Brasil. Fui ali descansar e já volto.

1.10.12

Seis anos de Canadá em cores de Almodovar

Após várias tentativas fracassadas de escrever por aqui no dia 14 de setembro, hoje consigo chegar pois ainda é tempo de celebrar. Celebro não um, nem dois, nem três anos. Celebro 6 anos de vida no Canadá! Antes não consegui por aqui estar devido a inúmeras razões tão dignas e apaixonantes quanto escrever nesse que é meu cantinho preferido.

Setembro parece ter entrado para a categoria oficial do mês que sempre me traz novos começos. Há seis anos aqui cheguei e agora, no mesmo setembro laranja do outono, comecei meu trabalho voluntário em uma cooperativa educacional para crianças de 2 anos e meio até 6 anos, iniciei mais dois trabalhos de pesquisa na área em que estou estudando (educação e desenvolvimento infantil) e mais duas matérias na sequência para adquirir o meu diploma.

Sempre quando chega setembro passa um filme em minha cabeça sobre os primeiros dias como imigrante. Aliás, podem passar 20 primaveras e aqueles dias jamais se apagarão de minha memória. Entretanto, não é de conquistas e fracassos que quero escrever para comemorar. Ao invés, prefiro escrever sobre algumas coisas que aprendi enquanto cidadã canadense.

Os seis anos de Canadá mexeram com meus sentidos e me fizeram:

aprender a lidar com o paladar apimentado de quase tudo quanto é comida que se compra pronta por aqui,

amar a deliciosa mistura dos molhos "honey garlic" . Alho e mel que casamento perfeito para um prato de comida!,

passar a consumir mostarda como nunca fizera antes devido a variedade de sabores,

acostumar com o fato de acabar com a elegância de uma produção para uma festa ao ter que tirar o sapato para entrar na casa de alguém,

aprender um novo dialeto só para pedir um café ou qualquer coisa para comer no Tim Hortons,

aprendar a lavar banheiro sem ralo para escorrer a água,

tomar banho em pé na banheira mesmo não vendo sentido nenhum nisso,

a conviver com banheiros sem janela , cozinhas sem porta, a ter calor no frio e a ter frio no calor,

me acostumar a não tomar bebida alcóolica em locais públicos,

me habituar a não conseguir pronunciar nomes Indianos e Chineses mesmo depois de pedir para repetir pela terceira vez,

ter quintal aberto sem muros nem portões e ainda assim encontrar tudo do jeitinho que deixei,

ficar craque em fazer minhas próprias unhas, tanto das mãos quanto dos pés,

aprender o real significado das palavras compaixão, humildade e trabalho,

não cansar de ficar encantada com a infra oferecida pelas bibliotecas públicas e centro comunitários, 

e, acima de tudo, ter a certeza que, apesar de longo e por vezes árduo, o caminho é esse e por ele sigo em frente. Que tenha início os próximos seis anos de minha vida canadense! Parabéns para mim, para meu queridíssimo marido e ao filho que nasceu em terras canadenses e agora não somente nos ensina palavras novas em inglês mas também a "a andar pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome, cores de Almodovar, cores de Frida Kahlo, cores..."

é isso! acima de tudo, imigrar é ver o mundo em outras cores e "Esquadros" na bela voz de Adriana Calcanhotto ilustra um pouco disso. Feliz aniversário de seis anos para nós!




18.8.12

Tive fora uns dias

Embora sem muito sucesso, tenho tentado escrever por aqui. Acontece que já dizia o velho ditado: "assobiar e chupar cana ao mesmo tempo não dá!".  Não tem problema. Estou feliz. Livros, apostilas, caderno, lápis, prova e trabalhos escolares estão preenchendo meus dias de mãe que cria e estuda ao mesmo tempo. Dia desses uma leitora desse blog me pediu para escrever sobre trabalhar e estudar no Canadá. Não é ainda esse o seu post querida leitora mas prometo que chego lá. Afinal trabalho e estudo. Meu escritório não é na praia como cantou Charle Brown mas é na casa, na biblioteca, no quintal, na cozinha e na sala. É por toda parte!

Como dizia, estou feliz. Incrível como com o passar dos anos passamos a nos entender cada vez melhor. Entender o que nos faz bem. Como ficamos melhor em selecionar o que de fato importa e nos dá prazer! Eu sempre soube que gostava de crianças, de ler e de estudar. Entretanto, depois que meu filho nasceu passei a enxergar como estar com crianças e livros me dá prazer. Pode ser crianças e livros, só livros ou só crianças. Daí, apesar de viver o momento em que mais eu tenho trabalhado em toda a minha vida, vivo o mais feliz de todos.

O passar dos anos me trouxe uma capacidade lúcida, quase incotrolável de focar. O foco, por sua vez, traz, todos os dias, vontade de fazer mais. Há alguns dias meu primo Zé escreveu em seu perfil no facebook : "Pense. Planeje. Realize" . Quando li isso senti uma certa satisfação ao perceber que tudo que tenho feito hoje é resultado de muito pensar e planejar e agora com foco estou realizando. Sensação inesgotável de prazer essa de focar e realizar.

Entretanto, não estaria eu realizando não fosse o incomensurável apoio moral e financeiro daquele que eu escolhi para meu parceiro nessa jornada deliciosa chamada vida. O que um dia foi paquera, depois virou ficante, namorado, união estável , marido e agora pai é 50% responsável pela satisfação que hoje sinto, mesmo com tanto trabalho. Digo 50% porque não acredito que alguém , por mais apoio que tenha, seja capaz de realizar algo se em princípio não dispuser de sua força interior e desejo de trilhar.

E agora, depois de tanto divagar. Veja, acho que divagar é um resultado direto da minha pouca presença nesse espaço. Estava com saudades e tenho muito a dizer, ou melhor, escrever. Me falta prioridade. Não tempo. Não acho que falte tempo para algo que realmente se queira fazer. E eu realmente quero escrever. Entretanto, as prioriades de criar o meu filho, cuidar do marido e do meu estudo acabam por esmorecer o ato de escrever.

Escrevi um dia, escrevo agora e sempre escreverei. Posso demorar um pouco é verdade. Mas a alma dói quando não escrevo. Flui melhor quando escrevo. Ela, a alma. Pronto. Divaguei de novo. Ah, como é bom apenas brincar com as palavras assim como brinco de bola com meu filho! E assim tenho feito com esse momento especial. Brinco. Trabalho duro mas brinco com tudo sem jamais perder o foco. O foco de seguir à diante. E ler . E Escrever. E estudar. E criar. Criar o meu mais precioso tesouro. Meu filho. Já Já volto. Volto mais objetiva prometo. Menos oblíqua. Mais focada.

5.7.12

aproveitando o verão

Tenho estado distante é verdade. Tenho andado em falta com uma das minhas maiores paixões que é escrever nesse meu cantinho. Sim, conciliar o verão Canadense com a função de mãe durante o dia e estudante durante a noite tem tomado meu tempo. De qualquer maneira, sempre há tempo para o que realmente se quer fazer. E aqui estou de volta.

Desde que aqui escrevi muito já andei, viajei, estudei, trabalhei e vivi. E hoje, logo após voltar de um feriado em Nova York, volto para o meu canto, meu refúgio. Fomos também à praia. Sim, porque não dá para bobear com o verão canadense. Ele vem e vai embora sistematicamente. Diferente de quando morávamos no Brasil e podíamos ir à praia e fazer um churrasco no quintal independente da época do ano. Por aqui não. É preciso uma atitude Carpe Diem quando o assunto é ficar mais tempo fora de casa do que dentro.

Lembro quando aqui cheguei, há quase seis anos, e ficava impressionada ao ver a festa que se fazia quando chegava o verão. Hoje entendo e faço igual. Mas o verão, extremamente quente e húmido, não foi o único causador da minha ausência. Em janeiro comecei a frequentar o College (vulgo escola técnica) à noite o que me fez pensar como era fácil apenas estudar na época em que fui para a Universidade no Brasil. Eu já sabia na época e era muito grata aos meus pais pelo sacrifício. Entretanto, hoje vejo que era de fato muito mais fácil apenas estudar. Agora, estudar, cuidar da família, da casa, do filho e de si mesma aí é que são elas! Precisa ter um marido como o meu e uma disciplina como a minha.

Estou feliz e realizada apesar de toda a carga de trabalhos pois finalmente vejo um caminho mas isso já é assunto para outros textos. Por hora, passei para dizer alô e confirmar que esse blog não morreu e nem vai morrer. Aqui estou de volta, trabalhando em casa, criando meu filho exatamente como eu queria e ao mesmo tempo cuidando do meu futuro para quando meu filho crescer independente e feliz como a mãe dele!

Agora preciso ir ali curtir o verão canadense e já volto. Prometo não demorar tanto dessa vez.

13.4.12

Nós vamos invadir a sua praia


Cinco anos no Canadá é tempo suficiente para se habituar a frequentar as praias de lago que a bela geografia e sua abundante oferta de água doce tem a oferecer nos meses quentes por aqui. São belas as praias de lago canadenses. Eu mesma já vi cenários de tirar o fôlego, tanto pela belíssima paisagem quanto pela temperatura da água que, mesmo nos meses mais quentes do ano, por razões óbvias nunca vai atingir as temperaturas das águas dos trópicos e do Caribe por exemplo. 
Há muito ouvia falar dos favoritos roteiros de férias de inverno dos canadenses: México e Cuba. A possibilidade de fugir do rigoroso inverno canadense que, ultimamente nem tem sido tão rigoroso assim, e literalmente invadir a praia alheia! Colegas de trabalho do marido contam de ir todos os anos e, não raras vezes, voltando sempre ao mesmo lugar. E eu, sempre brincando que, enquanto não fosse passar férias em Cuba não poderia me considerar Canadense:) Pois lá fomos, em março, passar uma semana de férias em Cuba. Ah, que férias! Ah, como eu entendo a empolgação dos canadenses agora!
Importante lembrar, para aqueles que me leem da zona tropical do planeta onde é possível ir à praia o ano todo e, que para tomar uma cerveja gelada basta abrir em qualquer lugar e pronto, que no Canadá (leia-se Ontário) não funciona assim. Consumo de cerveja só em bares ou dentro de casa. Em parques? Não. á beira do lago fazendo um churrasco? Não. Na calçada. Na na nina não! Praia. Só de lago e, durante 3 meses por ano e olha lá! Então o que o canadense faz? Vai passar férias em outro paraíso, ou melhor, país! 
Aí você, que se encapota de gorros, luvas e bota de neve durante a maior parte do ano, precisa sempre fazer uma verdadeira operação logística e de planejamento estratégico quando quer tomar umas cervas bem geladas, chega em um paraíso Caribenho onde tudo é permitido, a bebida é à vontade e você pode tomar onde quiser, o povo tem aquele espírito festeiro que nós brasileiros conhecemos bem, a comida é deliciosa e pronto, eis as melhores férias que um canadense pode querer! Aliás, não somente os canadenses porque a praia foi literalmente invadida pelos britânicos e italianos também.
Voltando ao nosso roteiro. Em vôo direto, saímos de Toronto com destino a Holguin (um paraíso no sudeste de Cuba). O avião laranja, segundo meu empolgadíssimo filho, da Sunwing (agência muito recomendada pela qual compramos o pacote com tudo incluído) nos deixou no aeroporto internacional de Holguin e, de lá, um ônibus, o "school bus" de novo segundo a cabecinha muito criativa do meu filho, nos levou ao Playa Pesquero, o resort totalmente voltado a atender famílias viajando com crianças e que fica a uma hora de viagem do aeroporto. Se você vai com criança pequena não pense duas vezes. Reserve nesse hotel!
Não. Não fizemos turismo de exploração. Isso já fizemos muito antes de o Arthur nascer e, certamente o faremos de novo quando o Arthur for capaz de carregar sua própria mochila, montar sua barraca e dormir em um beliche de quarto de albergue mundo afora. Por hora vamos explorando as cadeiras à beira da praia, os copos de cerveja, e os piano bares dos resorts. Justo. Não tiramos o pé fora do resort. Precisar não precisa, mas se você faz questão até pode. Há passeios para todos os gostos. Não querendo, todos os restaurantes, boate, teatro, parquinhos, piscinas e, inclusive a praia estão dentro do resort. Basta relaxar.
Resultado: melhores férias de nossas vidas! Era muito difícil ter que decidir todos os dias se íamos para a praia ou para a piscina. Se comíamos peixe ou carne. Lula ou camarão. Eram muitas as opções. E o meu corpinho enferrujado quase teve um choque ao sentir a maresia novamente. Havia eu estado ao nível do mar pela última vez quando o Arthur ainda era apenas um feto em minha barriga, leia-se há cerca de dois anos!
Em tempo 1: não tenho nada contra às regras canadenses em relação ao consumo de bebida alcóolica. Ao contrário, as aprovo todas! é justamente esse tipo de regra que faz com que tudo que eu mais gosto aqui funcione. Também não acho que há certo e errado. Há sociedades e culturas diferentes. E quando vivemos em uma um pouco mais rigorosa como a canadense, queremos mesmo é passar férias em outros países. Afinal de contas nas férias queremos fazer diferente da rotina não?
Em tempo 2: tanta praia no Brasil e vocês vão para Cuba? E você, meu caro e respeitadíssimo leitor, acha que quando vamos ao Brasil conseguimos ir à praia? Minha querida amiga Leslie é prova viva de que venho tentando há 3 anos e nunca conseguimos. Ir para o Brasil, para quem vive fora, é sinônimo de matar saudades da família e dos amigos, além de engordar uns quilos é claro. Então, sobra o sacrifício imenso de ter que passar dias inesquecíveis à beira dos mar do Atlântico e seus três tons de azul que se modificam com o sol. Dá para resistir? 





12.3.12

Próximo Bill Gates ou Steve Jobs pode chegar.

Atenção candidatos a imigração para o Canadá. Se você é o próximo Bill Gates ou Steve Jobs não perca seu tempo. Aplique já!

Agora se você for apenas mais um imigrante que vai administrar uma lojinha de conveniência em um centro comercial não perca seu tempo. Você não vai gerar os empregos que a economia candense tanto precisa para decolar.

Eu juro que gostaria de estar fazendo uma piada com isso. Entretanto, não se trata de uma piada. Infelizmente, trata-se da declaração nua e crua feita pelo Ministro da Imigração canadense, o senhor Jason Kenney, ao comentar as mudanças no sistema para atrair os empreendedores que o país "tanto precisa".

Desculpem-me o desabafo mas achei essa declaração um insulto! Talvez eu esteja exagerando por conta do meu histórico de profissional da comunicação que treinava porta-vozes para falar com a imprensa. Não tem como separar anos de experiência nessa área das análises que faço ao ler algum executivo ou personalidade falando com a imprensa. Some-se a isso o fato de eu ser uma imigrante e conhecer muito bem a realidade daqueles que, segundo o ministro, só servem para abrir a lojinha de conveniência e não são os próximos Steve Jobs da vida e, portanto, não vão gerar os empregos que o Canadá precisa.

Ei espera aí. Afinal de contas de quem é o papel de criar oportunidades para gerar empregos? Do imigrante? Do governo? Da sociedade como um todo? Recruta-se imigrante porque há empregos e a economia gira ou a economia gira e gera empregos porque recruta-se imigrante? que tipo de imigrante? o brilhante inovador , futuro Steve Jobs como quer o nosso ministro, ou a média trabalhadora assalariada que luta e que, segundo o mesmo senhor Kenney, não ajuda?

Para começar a semana pensando. Sou só eu ou a sociedade está de pernas pro ar?

Será que todos esqueceram-se que para que tenhamos mais "Steve Jobs" precisamos das mães em casa dando educação e ensinando civilidade aos pequenos, dos pais fora de casa suando na construção civil para possibilitar que uma mãe fique em casa, do lixeiro na rua que tira o lixo para que o empresário possa conduzir seu negócio de maneira decente, da moça que serve o café, do padeiro, do ministro, do professor , do bombeiro, do médico, da senhora idosa que dá o sorriso ao menino de 3 anos que passa na rua, do carteiro que dá o exemplo de gentileza e que faz com as correspondências do pequeno negócio chegue a tempo...

Será que o senhor ministro esqueceu-se que para que as exceções aconteçam, as regras precisam estar bem estabelecidas e funcionando em harmonia? Será que ele acha que o Brasil, por exemplo, teria capacidade de produzir um Pelé por ano, um Ayrton Senna por mês e um Machado de Assis por semana? Ele só pode estar de brincadeira! Pronto falei, ou melhor, escrevi.

1.3.12

cooperativa educacional

Nascida e criada em uma família de professores e funcionários de escola no Brasil, eu cresci ouvindo as análises do meu querido pai e mestre amado, as experiências de tios secretários de escola como o querido tio Junior, tia Elza querida inspetora de alunos, Iracema também no ambiente escolar, enfim, uma vida no ambiente escolar no Brasil. Costumo brincar que, depois de velha, descobri que a paixão por escola-estudo-educação veio comigo desde o útero da minha mãe!

Em meio há tantas análises e reflexões, uma que sempre me chamou mais a atenção e que, mesmo quando jovem, sem filhos, e ainda com muita coisa por vivenciar, eu já concordava sem hesitar com o meu pai. A de que os pais deveriam participar da escola dos filhos, acompanhar e se envolver. Aqui não estamos falando de checar se o pequeno fez a lição de casa. Falo de colocar a mão na massa e participar de tomada de decisões, ou cooperar para um objetivo em comum.

Por isso escolhi falar das cooperativas educacionais. Graças a querida Cecilia Gomes que tem dois fofos frequentando uma Co-op nursery school em Toronto, tomei contato com essa excelente opção para aqueles que, como eu, optaram por ficar em casa com o filho pequeno e participar em cada minuto de seu desenvolvimento emocional, educational e social na primeira infância.

Fui ler, pesquisar e, essa semana visitei uma escolinha. Em setembro, quando começam as novas turmas, o Arthur terá quase 3 anos e frequentará, duas vezes por semana e por apenas dois horas por dia, uma co-op nursery school aqui em Mississauga. Eu escolhi dois dias por semana mas há opção de cinco vezes por semana. Funciona assim: as escolas não obtem lucro da pequena mensalidade (isso se comparado aos altissimos custos das creches) que os pais pagam e todo o dinheiro que entra volta para a escola. Apenas os salários de dois educadores infantis, no caso dessa que eu visitei, e o aluguel do local saem daí. Todo o operacional é feito pelos pais que podem inclusive participar do comitê executivo da escola dependendo de suas habilidades.

É claro que para vivenciar a verdadeira experiência de uma cooperativa educacional o pai ou mãe no meu caso tem que ter optado anteriormente por dedicar seu tempo integral ao filho, ou seja, acaba sendo um modelo excelente para famílias que optaram por viver com uma renda apenas e que, portanto, não teriam condições de bancar os cerca $1400 por mês de uma creche. E, de quebra, vivenciam a escola dos pequenos. E esse modelo pode ir até os 6 anos de idade, ou seja, idade do prezinho.

Para que se tenha uma ideia, o custo mensal no caso de um pequeno como o Arthur e que vai frequentar apenas dois dias por semana por duas horas (por minha escolha. Há opções de cinco dias por semana), seria algo entre $135 e $180 de pendendo da escola. Esse sábado vou visitar mais uma co-op nursery school aqui pertinho de casa e, casa alguma mamãe se interessar é só entrar em contato.

Resolvi escrever sobre isso porque quando aqui cheguei não fazia ideia da existência dessas cooperativas como opção para quem não trabalha fora e não quer deixar o filho na creche ou não pode arcar com os custos elevados. Então se você está chegando com pequenos e pretende dedicar seu tempo integral para os pequenos essa talvez seja uma ótima e , principalmente mais em conta opção. Fica a dica.

No meu caso, além de sempre ter sido uma apaixonada por educação e agora ter um motivo maior para me envolver chamado Arthur, eu estou estudando para me tornar uma educadora infantil. Então, acabo unindo o útil ao agradabilíssimo que é me envolver na primeira formação escolar do meu filho. Um bom começo para a sua pesquisa aqui em Ontario pode ser esse site aqui. Ah, os pequenos precisam estar fora das fraldas para frequentar a maior parte dos programas. O Arthur só vai começar em setembro mas eu já não vejo a hora de colocar a mão na massa no primeiro ambiente escolar (ou, pre escolar:) do meu filho!


14.1.12

A importância dos colleges

Há cinco anos moro no Canadá. Há cinco anos mantenho esse blog e há cinco anos pessoas querendo imigrar me fazem a pergunta que não quer calar: "como é o mercado de trabalho aí no Canadá para determinado ramo de atividade?".

É claro que não tenho competência para analisar o mercado canadense, do contrário estaria trabalhando no Statistics Canada (o equivalente canadense ao IBGE). Posso falar um pouco sim da área em que eu atuava no Brasil (comunicação corporativa-assessoria de imprensa) por tudo que vi em cinco anos. Mas há cerca de 3 anos resolvi mudar de carreira e agora começo a colocar em prática o decidido há 3 anos. Iniciei o College essa semana para obter o diploma de educadora infantil. As razões pelas quais resolvi mudar vou contando aos poucos mais para frente. O real motivo desse texto é o que me levou ao College.

Há uma diferença cultural importante entre Brasil e Canadá no que diz respeito aos bancos escolares que você só aprende depois de alguns anos morando aqui: a valorização dos colleges e seus respectivos cursos (equivalente a um colégio técnico no Brasil) pelo mercado de trabalho. Enquanto no Brasil somos pressionados a cursar uma faculdade logo ao deixar o colegial (ok, sei que mudaram as denominações mas é assim que eu falava na minha época:) sem nem mesmo sequer saber, na maioria dos casos, o que queremos cursar; aqui no Canadá (ao menos em Ontario onde vivo há cinco anos) a grande maioria vai para o College e hoje eu entendo o motivo.

Os colleges tendem a ter uma relação mais direta com as necessidades momentâneas do mercado de trabalho e preparam os alunos para funções específicas e, em não raros casos, desvalorizadas pelos brasileiros como por exemplo encanador, mestre de obras, esteticista e uma série de assistentes como o assistente do dentista que aqui no Canadá é quem faz a limpeza do seus dentes, o assistente do advogado e por aí vai. Esses todos foram para o college. Claro que alguns depois acabam até indo para a universidade. Eu mesma pretendo fazer isso mas o college acaba sendo a porta de entrada mais rápida, prática e direta para muitos ramos de atividade profissional. E aí que entra a maior lição de todas que aprendi como imigrante.

Se você está chegando e já sabe que quer exercer outra atividade profissional diferente da que exercia no Brasil, vá direto para o college. Não perca seu precioso tempo com cursinhos que o governo oferece para te arranjar uma vaga (mais conhecido como exploração maquiada de "voluntariado"). Até mesmo se você pretende seguir a mesma carreira do Brasil, dependendo do caso o college também é o caminho mais prático. Tenho uma conhecida que era advogada no Brasil chegou aqui e foi direto para o college. Sábia decisão.

Pensei nisso ao ler essa matéria sobre os ramos de atuação que mais empregarão no Canadá nos próximos anos. Também fiquei feliz ao saber que a atividade por mim escolhida e a qual exercerei com paixão (porque de nada adiante fazer algo exclusivamente porque há demanda) está entre as de maior demanda assim como no setor de saúde e tecnologia.

Outro dado que me animou bastante e que só comprova a importância dos colleges para o mercado canadense é que 35% dos novos postos de trabalho deverão ser ocupados por estudantes saidos dos colleges, seguidos por 26% dos graduados nas universidades e 8% por aqueles que não completaram o colegial. Então, se você gosta de estudar, está chegando por aqui e atuava no Brasil em uma área que a demanda aqui não é tão grande, a melhor coisa que você pode fazer é investir seu tempo e dinheiro em um curso (uma ótima fonte para iniciar sua pesquisa é aqui) que de fato vai lhe trazer algo que mais precisamos quando aqui chegamos: um trabalho digno para pagar as contas.