Conta a saga do casal que ousou deixar o Brasil para viver no Canadá e experimenta em Toronto a inesquecível e transformadora experiência de ser imigrante.
26.9.08
Mudaram as estações...
25.9.08
Experiência canadense
*Versão em Português do Texto “A Waste of Talent” escrito por Najia Alavi e publicado no National Post de Julho de 2008.
Os imigrantes possuem menos chances de encontrar trabalho no Canadá se comparados com os nascidos no Canadá, mesmo que os mesmos tenham estudado em Universidades Norte Americanas, revelou estudo do Statistics Canada no fim de Julho de 2008. Tudo que eu posso dizer é: Me conte uma novidade.
Ao formular a política de imigração para a economia do Canadá baseada no conhecimento, nosso governo esqueceu que trabalho baseado no conhecimento involve pessoas – pessoas trabalhando com outras pessoas. E a maioria das pessoas prefere trabalhar com outras que se parecem com elas, falam como elas a dividem experiências de vida parecidas.
Isso posto, realmente não importa onde os imigrantes estudaram, ou, quão qualificados os mesmos são. De acordo com outro estudo do Statistics Canada, 51% dos imigrantes recém chegados no Canadá possuem curso universitário completo – índice duas vezes maior que os nascidos no Canadá. Ainda assim, a taxa de desemprego é duas vezes maior entre os imigrantes recém-chegados quando comparada com a população nascida no Canadá.
O que importa para os empregadores Canadenses é se o potencial funcionário “se encaixa” em suas empresas. Em outras palavras, como eles se apresentam, sua aparência, maneira de se vestir, de falar e sobre o que eles falam. Empregadores parecem preferir assuntos tipicamente Canadenses, como neve e casas de veraneio, a assuntos “estrangeiros” como avós que vivem em Karachi. Além disso, arrumar um trabalho frequentemente depende de quem você conhece; imigrantes recém-chegados, “carne nova no pedaço”, sequer conseguem encontrar um médico, então como eles vão ser capazes de localizar uma referência interna para o famoso “Mercado Escondido” (as vagas que nem chegam a ser anunciadas e são preenchidas via “network”)?
Um estudo de 2007, realizado pelo grupo CERIS de Toronto, sobre as atitudes dos empregadores e suas práticas de contratação, mostrou que empregadores confiam muito em seus contatos informais e referências internas para contratar. Empregadores sequer se dão conta de que seguindo estas práticas estão excluindo imigrantes recém-chegados.
Ou, talvez, em alguns casos, a exclusão se faz presente sim. Empregadores frequentemente dizem não contratar imigrantes justificando que os mesmos não possuem “Experiência no Mercado canadense”, incapacidade de se comunicar em Inglês, ou problemas com equivalência de credenciais internacionais. Ainda assim, mesmo imigrantes portadores de diplomas universitários obtidos nos Estados Unidos da América não conseguem encontrar trabalho. Além disso, em uma economia globalizada onde a mão de obra é cada vez mais “móvel” – não tem pátria – o fato de um candidato não possuir “experiência Canadense” deveria ser irrelevante.
Um exemplo: Um empregador diz a um imigrante que está procurando emprego: “Eu entendo que você era um chefe de culinária muito respeitado em um restaurante de Dubai, mas a maneira como preparamos a comida aqui é muito diferente de como vocês preparam lá.” Então eles oferecem ao candidato que de fato é adequado para a vaga de chef, uma posição como lavador de pratos no restaurante, para “ajudá-lo” a adquirir alguma “Experiência canadense”. Por mais ridículo que isso possa parecer, aqueles que como eu trabalham com imigrantes os ajudando a arrumar emprego, ouvimos histórias como estas todos os dias. Nós enviamos os imigrantes para palestras sobre como redigir um currículo Canadense, ensinamos técnicas de entrevistas e habilidades de comunicação no ambiente de trabalho canadense, e ainda assim vemos os mesmos gastarem meses procurando trabalho. Alguns simplesmente desistem.
O Conference Board of Canada estima que se todos os imigrantes estivessem empregados de acordo com suas qualificações e experiências, até $4,97 bilhões poderiam ser adicionados à economia canadense, anualmente.
Infelizmente, noções ultrapassadas e inseguranças sobre os imigrantes ainda existem. A percepção de que imigrantes prejudicam a sociedade canadense persiste. Esta percepção precisa mudar se quisermos solucionar o problema.
Os imigrantes de hoje são dinâmicos, jovens profissionais altamente educados que vieram para o Canadá por causa de sua abertura, liberdade e respeito aos direitos individuais. Selecionados para entrar no país por meio de um sistema de pontuação de acordo com sua educação, qualificação e experiência, eles corretamente assumem que suas habilidades são necessárias neste pais.
Há demanda para Engenheiros, medicos, enfermeiras, profissionais de finanças e negócios em geral no Canadá. Ainda assim, empregadores continuam seguindo práticas de contratação arcaicas e que excluem os imigrantes, que, no final das contas, os mantém afastados de contratar o candidato mais competente.
A maioria dos imigrantes recém chegados ao Canadá veio de duas das economias que mais crescem no mundo – China e India. É apenas uma questão de tempo antes que eles se cansem de ser mal remunerados, de trabalhar com aquilo que não lhes traz satisfação e não é adequado ao seu perfil, e voltem para seus países de origem, onde suas habilidades e experiências serão bem vindas.
Aí sim, a realidade de escassez de mão de obra no Canada vai realmente se abater por aqui.
22.9.08
Imigração para o Canadá no Bom dia Brasil
14.9.08
Dois anos de Canadá e...
Eu vivi:
Bons, muito bons, felizes, muito felizes e nem tão bons e tão felizes momentos assim;
Aceitação, rejeição, assédio moral e exploração (sim, talvez daqui há uns 20 anos eu seja capaz de falar mais abertamente sobre isso. Por enquanto ficou lá no baú das péssimas experiências que nos ensinam muito!);
Descobertas, surpresas, neve, chuva, sol; esqui, snowboard, patinação no gelo;
Viagens, frustração, inquietação e recomeços;
NBA (um sonho!), vizinhos brazucas “gente boa”, civilização, fila respeitada no ônibus;
Celebridades (encontrei gente bem famosa em um de meus estágios de graça), a ásia é aqui, suas comidas e filosofias que eu curto bastante também;
Apoio incondicional do marido e…
Eu aprendi:
A trabalhar de graça ininterruptamente para provar aos potenciais empregadores que sou capaz. (Já estou pensando até em colocar no meu CV: “especialista em caridade” e mandar uma carta ao Dalai Lama para ele ver como sua discípula está evoluindo espiritualmente!:) ;
A ouvir de professores e supervisores dos programas para os quais eu trabalhei de graça, a tradicional pergunta: “O que vc está fazendo aqui com toda a sua experiência??” E ainda sim não poder dar a honesta resposta e seguir sorrindo “Imagina!” (o eterno exercício da modéstia e humildade). A última que ouvi foi do professor de “Media Relations” semana passada na Humber me dizendo que eu poderia estar no lugar dele dando aula (Ok teacher, whatever…);
A relatividade do conceito que determinado Mercado de trabalho está em um bom momento e cheio de vagas – caso do meu Mercado aqui na América do Norte . Vagas nem sempre são sinônimos de oportunidades.
A ser humilde e desapegada de bens materiais (mais ainda… ok, confesso. A minha única fraqueza são os brinquedinhos da Apple… também não sou o Buda né gente! Apenas sigo sua filosofia rsrs);
A aceitar prazer e sofrimento, ganho ou perda, vitória e derrota com a mesma serenidade de espírito ;
A ficar mais próxima ainda da doutrina budista por meio da qual o homem examina tudo, é um cético no sentido etimológico da palavra. O budismo não é a doutrina do êxtase, mas da reflexão profunda sobre as coisas.
Eu senti:
Impotência em ter total condição e qualificação para fazer muito e não poder;
Confusão de sentimentos;
Vontade de voltar querendo ficar . Vontade de ficar para não voltar (Complicado né?);
A síndrome do “O que eu estou fazendo aqui? A que custo?” (esta, na mesma velocidade que vem, costuma ir embora. Em média, dura até que eu saia na rua ou vá até a biblioteca – o meu templo sagrado – ou vejo a ordem na fila do ônibus que vou para a escola;
Imensa satisfação ao ouvir de um profissional de RH que você tem potencial para uma vaga do mesmo porte que você tinha no Brasil (ah vá!);
Paz ao meditar no jardim japonês bem pertinho de casa;
Eu concluí:
Que ainda está valendo à pena;
Que enquanto valer à pena vou lutar com todas as forças para seguir;
Que estou no caminho certo;
Que ainda quero fazer muito por aqui;
Que escolhi a melhor pessoa do mundo para estar ao meu lado nesta empreitada;
Que estou vivendo um sonho – o meu sonho!
*PS – Este depoimento é única e exclusivamente pessoal. Aqui é a Paula apenas que está colocando um pouco para fora suas intermináveis reflexões de imigrante. Eu estou escrevendo a minha história e você a sua!