26.9.08

Mudaram as estações...


Há uma semana tenho acompanhado da sacada as mudanças gradativas de tonalidade das folhas das árvores em volta de casa. Inclusive a única foto panorâmica do slide foi tirada da minha sacada.

Hoje peguei a máquina fotográfica e foi caminhar em meio a esta linda paisagem que timidamente dá as caras do outono por estas bandas.  Apesar de este já ser o meu terceiro outono aqui, não consigo deixar de apreciar e de continuar achando muito lindo! O mais gostoso é que vira um tipo de tarefa levantar todas as manhãs e procurar novas árvores coloridas em meio ao verde, pois daqui a pouco estarão todas alaranjadas, vermelhas e amarelas. Aqui em casa já virou competição:)



25.9.08

Experiência canadense

Em dois anos que estou aqui já ouvi muita gente tentando explicar o inexplicável, justificar o injustificável e até trabalhar muito de graça em busca da famijerada experiência canadense (incluindo a pessoa que vos escreve:). Até aí nada de novo. Estamos aí para o que der, vier e o que não der também.

Estava eu aqui fazendo umas pesquisas para um trabalho do certificado de Corporate Communications que estou fazendo e, eis que me deparo com esta excelente análise sobre a dita cuja, esta mesmo. Não vou repetir o termo pois acredito na proliferação das palavras e se tem um termo que eu desejo que seja quebrado um dia para que os próximos não sofram tanto é este mesmo, este ai...

O fato é que, até então, eu ainda não havia me deparado com uma análise tão bem feita sobre o termo que atormenta grande parte dos imigrantes recém-chegados. É claro que o artigo, publicado no National Post de Julho deste ano, foi escrito por uma imigrante que está aqui e trabalho com imigrantes. Nem poderia ser diferente.

Eu leio muito, e nem tudo que leio me faz pensar - "UAU! queria ter escrito este texto!" Este certamente foi um deles, tanto que resolvi traduzi-lo aqui. 


*Versão em Português do Texto “A Waste of Talent” escrito por Najia Alavi e publicado no National Post de Julho de 2008.

Os imigrantes possuem menos chances de encontrar trabalho no Canadá se comparados com os nascidos no Canadá, mesmo que os mesmos tenham estudado em Universidades Norte Americanas, revelou estudo do Statistics Canada no fim de Julho de 2008. Tudo que eu posso dizer é: Me conte uma novidade.

Ao formular a política de imigração para a economia do Canadá baseada no conhecimento, nosso governo esqueceu que trabalho baseado no conhecimento involve pessoas – pessoas trabalhando com outras pessoas. E a maioria das pessoas prefere trabalhar com outras que se parecem com elas, falam como elas a dividem experiências de vida parecidas.

Isso posto, realmente não importa onde os imigrantes estudaram, ou, quão qualificados os mesmos são. De acordo com outro estudo do Statistics Canada, 51% dos imigrantes recém chegados no Canadá possuem curso universitário completo – índice duas vezes maior que os nascidos no Canadá. Ainda assim, a taxa de desemprego é duas vezes maior entre os imigrantes recém-chegados quando comparada com a população nascida no Canadá.

O que importa para os empregadores Canadenses é se o potencial funcionário “se encaixa” em suas empresas. Em outras palavras, como eles se apresentam, sua aparência, maneira de se vestir, de falar e sobre o que eles falam. Empregadores parecem preferir assuntos tipicamente Canadenses, como neve e casas de veraneio, a assuntos “estrangeiros” como avós que vivem em Karachi. Além disso, arrumar um trabalho frequentemente depende de quem você conhece; imigrantes recém-chegados, “carne nova no pedaço”, sequer conseguem encontrar um médico, então como eles vão ser capazes de localizar uma referência interna para o famoso “Mercado Escondido” (as vagas que nem chegam a ser anunciadas e são preenchidas via “network”)?

Um estudo de 2007, realizado pelo grupo CERIS de Toronto, sobre as atitudes dos empregadores e suas práticas de contratação, mostrou que empregadores confiam muito em seus contatos informais e referências internas para contratar. Empregadores sequer se dão conta de que seguindo estas práticas estão excluindo imigrantes recém-chegados.

Ou, talvez, em alguns casos, a exclusão se faz presente sim. Empregadores frequentemente dizem não contratar imigrantes justificando que os mesmos não possuem “Experiência no Mercado canadense”, incapacidade de se comunicar em Inglês, ou problemas com equivalência de credenciais internacionais. Ainda assim, mesmo imigrantes portadores de diplomas universitários obtidos nos Estados Unidos da América não conseguem encontrar trabalho. Além disso, em uma economia globalizada onde a mão de obra é cada vez mais “móvel” – não tem pátria – o fato de um candidato não possuir “experiência Canadense” deveria ser irrelevante.

Um exemplo: Um empregador diz a um imigrante que está procurando emprego: “Eu entendo que você era um chefe de culinária muito respeitado em um restaurante de Dubai, mas a maneira como preparamos a comida aqui é muito diferente de como vocês preparam lá.” Então eles oferecem ao candidato que de fato é adequado para a vaga de chef, uma posição como lavador de pratos no restaurante, para “ajudá-lo” a adquirir alguma “Experiência canadense”. Por mais ridículo que isso possa parecer, aqueles que como eu trabalham com imigrantes os ajudando a arrumar emprego, ouvimos histórias como estas todos os dias. Nós enviamos os imigrantes para palestras sobre como redigir um currículo Canadense, ensinamos técnicas de entrevistas e habilidades de comunicação no ambiente de trabalho canadense, e ainda assim vemos os mesmos gastarem meses procurando trabalho. Alguns simplesmente desistem.

O Conference Board of Canada estima que se todos os imigrantes estivessem empregados de acordo com suas qualificações e experiências, até $4,97 bilhões poderiam ser adicionados à economia canadense, anualmente. 

Infelizmente, noções ultrapassadas e inseguranças sobre os imigrantes ainda existem. A percepção de que imigrantes prejudicam a sociedade canadense persiste. Esta percepção precisa mudar se quisermos solucionar o problema.

Os imigrantes de hoje são dinâmicos, jovens profissionais altamente educados que vieram para o Canadá por causa de sua abertura, liberdade e respeito aos direitos individuais. Selecionados para entrar no país por meio de um sistema de pontuação de acordo com sua educação, qualificação e experiência, eles corretamente assumem que suas habilidades são necessárias neste pais.

Há demanda para Engenheiros, medicos, enfermeiras, profissionais de finanças e negócios em geral no Canadá. Ainda assim, empregadores continuam seguindo práticas de contratação arcaicas e que excluem os imigrantes, que, no final das contas, os mantém afastados de contratar o candidato mais competente.

A maioria dos imigrantes recém chegados ao Canadá veio de duas das economias que mais crescem no mundo – China e India. É apenas uma questão de tempo antes que eles se cansem de ser mal remunerados, de trabalhar com aquilo que não lhes traz satisfação e não é adequado ao seu perfil, e voltem para seus países de origem, onde suas habilidades e experiências serão bem vindas.

Aí sim, a realidade de escassez de mão de obra no Canada vai realmente se abater por aqui.



22.9.08

Imigração para o Canadá no Bom dia Brasil

Hoje de manhã, ao assistir ao Bom dia Brasil graças ao alerta de minha mãe lá do Brasil, tive a nítida sensação de que a produção de um dos melhores telejornais da TV Globo leu o meu post aí embaixo sobre a "verdadeira verdade"  - como cantou um dia a banda Cidade Negra - de parte dos imigrantes qualificados que chegam ao Canadá e resolveu usar a minha sugestão de pauta para o jornal:)

Parece até que eles leram o artigo "A Cara do Brasil em Ontario" que eu escrevi para a Brazilian Wave baseado em alguns resultados da pesquisa recentemente realizada pelo Centro Brazil Angola e, certamente, leram a última pesquisa do Statistics Canada sobre o assunto.

Achismos à parte, o fato é que finalmente uma matéria tratou do assunto de uma maneira mais séria e de acordo com a realidade de muitos! Parabéns ao Bom dia Brasil, sua produção e principalmente ao Marchos Uchoa que conduziu tão bem a matéria. 

Para quem já está no Canadá e não tem Globo Internacional, vale acompanhar a matéria aqui.


14.9.08

Dois anos de Canadá e...

Eu vivi: 

Bons, muito bons, felizes, muito felizes e nem tão bons e tão felizes momentos assim; 

Aceitação, rejeição, assédio moral e exploração (sim, talvez daqui há uns 20 anos eu seja capaz de falar mais abertamente sobre isso. Por enquanto ficou lá no baú das péssimas experiências que nos ensinam muito!); 

Descobertas, surpresas, neve, chuva, sol; esqui, snowboard, patinação no gelo; 

Viagens, frustração, inquietação e recomeços; 

NBA (um sonho!), vizinhos brazucas “gente boa”,  civilização, fila respeitada no ônibus; 

Celebridades (encontrei gente bem famosa em um de meus estágios de graça), a ásia é aqui, suas comidas e filosofias que eu curto bastante também; 

Apoio incondicional do marido e… 

Eu aprendi: 

A trabalhar de graça ininterruptamente para provar aos potenciais empregadores que sou capaz. (Já estou pensando até em colocar no meu CV: “especialista em caridade” e mandar uma carta ao Dalai Lama para ele ver como sua discípula está evoluindo espiritualmente!:) ; 

A ouvir de professores e supervisores dos programas para os quais eu trabalhei de graça, a tradicional pergunta: “O que vc está fazendo aqui com toda a sua experiência??” E ainda sim não poder dar a honesta resposta e seguir sorrindo “Imagina!” (o eterno exercício da modéstia e humildade). A última que ouvi foi do professor de “Media Relations” semana passada na Humber me dizendo que eu poderia estar no lugar dele dando aula (Ok teacher, whatever…); 

A relatividade do conceito que determinado Mercado de trabalho está em um bom momento e cheio de vagas – caso do meu Mercado aqui na América do Norte . Vagas nem sempre são sinônimos de oportunidades. 

A ser humilde e desapegada de bens materiais (mais ainda… ok, confesso. A minha única fraqueza são os brinquedinhos da Apple… também não sou o Buda né gente! Apenas sigo sua filosofia rsrs); 

A aceitar prazer e sofrimento, ganho ou perda, vitória e derrota com a mesma serenidade de espírito ; 

A ficar mais próxima ainda da doutrina budista por meio da qual o homem examina tudo, é um cético no sentido etimológico da palavra. O budismo não é a doutrina do êxtase, mas da reflexão profunda sobre as coisas. 

Eu senti: 

Impotência em ter total condição e qualificação para fazer muito e não poder; 

Confusão de sentimentos; 

Vontade de voltar querendo ficar . Vontade de ficar para não voltar (Complicado né?); 

A síndrome do “O que eu estou fazendo aqui? A que custo?” (esta, na mesma velocidade que vem, costuma ir embora. Em média, dura até que eu saia na rua ou vá até a biblioteca – o meu templo sagrado – ou vejo a ordem na fila do ônibus que vou para a escola; 

Imensa satisfação ao ouvir de um profissional de RH que você tem potencial para uma vaga do mesmo porte que você tinha no Brasil (ah vá!); 

Paz ao meditar no jardim japonês bem pertinho de casa; 

Eu concluí: 

Que ainda está valendo à pena;

Que enquanto valer à pena vou lutar com todas as forças para seguir;

Que estou no caminho certo;

Que ainda quero fazer muito por aqui; 

Que escolhi a melhor pessoa do mundo para estar ao meu lado nesta empreitada; 

Que estou vivendo um sonho – o meu sonho! 

*PS – Este depoimento é única e exclusivamente pessoal. Aqui é a Paula apenas que está colocando um pouco para fora suas intermináveis reflexões de imigrante. Eu estou escrevendo a minha história e você a sua!

 

 

 

 

 

 

 

 


9.9.08

Brazilian Wave Magazine - edição de outono

Já está nas ruas das principais cidades do Canadá a edição de outono da revista Brazilian Wave para a qual tenho dedicado parte das minhas horas de voluntariado como editora e colaboradora. 

Esta edição traz a entrevista especial que me foi concedida pelo VP de planejamento de malha da Air Canada, matérias sobre o Centenário de Morte do Machado de Assis,  as co-produções na indústria do cinema entre Brasil e Canadá, a pesquisa realizada com os brasileiros em Ontario pelo Centro Brasil Angola para o qual o Gean dedica suas horas voluntárias, turismo na reserva florestal de Haliburton em Ontario, como se dar bem nas universidades canadenses, o perfil do caricaturista brasileiro Cláudio Moura, artigo sobre depressão entre imigrantes e as notas do News Flash. Vale conferir!

O meu especial agradecimento vai para os colaboradores desta edição: a Guta, a Alexandra, a Luciana Savioli lá de Montreal e a Nádia Nogueira, além da participação especial de Neuza Silveira Húmer lá do Brasil que, além de minha querida sogra, é autora de livros sobre culinária e pedagogia publicados no Brasil.

Boa leitura!
ah, o outro projeto para o qual estou dedicando a outra parcela dos meus voluntariados fica para um próximo post.

2.9.08

Comilança da boa no Labour Day

Para comemorar o dia do trabalho que acabou de passar, a galerinha se reuniu para uma rodada de pizza na casa dos queridos Kati e Peter. Luly, a sua idéia estava YUMMY como eles dizem por aqui! 



Esta semana comecei a trabalhar com um novo projeto e como também recomeçaram as aulas do meu curso, mais a revista e os voluntariados, a coisa encavalou como diria o caboclo. Semana que vem volto aqui com mais calma para contar um pouco sobre o projeto novo que meti as caras enquanto o emprego fixo não vem, até porque quem fica parado é poste:).

Uma ótima semana para todos.