“Tudo vale a pena se a alma não é pequena” escreveu o poeta. No
entanto, o que vale a pena quando a alma ESTÁ pequena? Quando a alma
grita por mudança? E
quando ela, a alma, cansa do desapego e parece dizer, juntamente com o coração, que toda a energia secou. Aí
vem a mente, essa senhora da razão (que a cada ano ganha mais capacidade para
enxergar tudo com clareza) e detecta os
sinais da alma e do coração, visualiza a trilha bifurcada e, como um capitão
disciplinado de um exército qualquer, dá o comando: Chega.
Se a mente fosse um GPS (Sistema de
Posicionamento Global), além
do comando CHEGA diria que a rota precisa de um giro de 360 graus. Isso porque
na jornada de quase 7 anos no Canadá, todos os atalhos possíveis e conhecidos foram
utilizados. Uns mais curtos, outros mais longos mas todos utilizados.
Parafraseando o ex vocalista da banda Camisa de Vênus, Marcelo Nova, “Um passo para frente, dois passos para trás” virou uma máxima nos últimos anos, quase um mantra. Não que não seja
possível caminhar assim, no entanto, a alma dava sinais de cansaço à mente que,
por sua vez, ainda enxergava um sentido na caminhada. Até que um belo dia ela (a
mente) parou e enxergou. Sim,
é hora de começar tudo novo, de novo.
A mesma alma que ficou pequena e que, por sua
vez não permite que a mente visualize mais motivo para seguir o mesmo caminho, debate-se buscando a resposta para o que
mudou de 7 anos para cá. Seriam as prioridades? O momento de vida?
Maneira de enxergar tudo? Experiências
vividas? A mente não
decepcionou e prontamente respondeu: “Um pouco de tudo”.
Mas o que a alma quer? E a mente
lembra dos Titãs para
responder pois a música ultimamente tem massageado a alma e clareado a mente. O
que queremos nesse exato momento? “A gente (alma e mente) não quer só comida, a gente quer
comida diversão e arte, a gente não quer só comida, a gente quer saída para
qualquer parte...” A alma quer voltar a ser grande e por sua vez
provocar o brilho nos olhos novamente. Cansou-se do desapego desmedido, tanto espiritual
quanto material, do desnudamento, da ausência excessiva de ego, da distância radical e constante da zona de
conforto, da falta de racionalidade dos acontecimentos, da diminuição
desproposital das capacidades intelectuais, da relatividade do tempo e de
tantas outras coisas.
Aí vem a mente novamente, aquela pensante
figura de 38 anos, e se questiona se tudo isso significa que a experiência
vivida de nada valeu. E a resposta é um sonoro NÃO! Ao contrário, tudo valeu, até aqui. Entretanto, a
capacidade do cérebro vai além. E trata-se aqui de uma análise do futuro e não do passado.
Portanto, essa parte de nossas vidas, vivida segundo o mais rigoroso manual do
estilo barraco de literatura em exaltar o CARPE DIEM, só nos fez crescer,
evoluir e enxergar tudo com mais clareza ainda. Afinal somos o que vivemos e a
experiência nos traz isso.
Mas, e daqui para frente? Para novamente
parafrasear os roqueiros Titãs, vamos continuar “varrendo a areia da praia?” A
alma, como num surto desesperado, salta e grita : não. Até porque se lembra
de quando se iluminava ao fazer os exercícios de meditação oferecidos nas aulas
de Kung Fu pelos mestres da sabedoria. O que, por sua vez, a fez lembrar da
transitoriedade de todas as coisas e da fluidez com que o rio corre e continua
lindo. O mestre budista a ensinou muito sobre como tudo muda. Daí a facilidade
com que a mente , já tão treinada, toma a decisão de voltar. Voltar para o que
acalenta a alma. A minha alma.
E a
inquieta mente questiona? O que acalenta sua alma nessa fase de sua
vida?
Estar próxima de meus pais enquanto eles ainda estão cheios
de saúde e oferecer ao meu filho a mesma infância que tive: muito próxima de
meus queridos avós e cercada de carinho, primos e tios,
Caminhar com o meu pai em um final de tarde e termos nossas
velhas conversas e teorias que parecem querer mudar o mundo,
Jogar conversa fora com minha mãe sem ter que fazer uso da tela do computador para isso,
Receber o sorriso do meu irmão ao tirar sarro de mais um de
meus devaneios,
Ver o meu filho brincar no quintal da avó e comer o maracujá
que o vovô Paulo plantou,
Ver o meu filho brincar na terra roxa da fazendo da avó
Neuza e andar no cavalo do vô Roque,
Retomar o conhecimento e o reconhecimento intelectual,
social e cultural em uma velocidade condizente com a minha idade,
Dar risada com poucos mas verdadeiros amigos de uma vida
(vocês sabem quem são)
Não cabe
aqui elencar vantagens e desvantagens da escolha. Até porque sei muito bem o
que ganho e o que perco ao viver no Canadá e o que perco e o que ganho vivendo
no Brasil. Entendo perfeitamente
a escolha e as trocas que estou fazendo. E faço esse movimento com a mesma
paixão e vontade que fiz quando aqui cheguei
naquele dia 13 de setembro de 2006. Respeito o momento de cada pessoa e
desejo toda a sorte do mundo no caminho de tantos colegas que, assim como nós,
vieram para o Canadá e lutam muito pelo direito de pertencer. Entretanto, o meu momento é o do regresso. E estou muito
aliviada em finalmente ter conseguido enxergar isso com muita clareza. Será sempre um prazer continuar
ajudando aqueles que pretendem fazer o mesmo e quiserem saber mais detalhes de
tudo sempre baseado na minha experiência claro!
Portanto
esse blog não
vai acabar. Ao contrário, pretendo continuar relatando toda a minha experiência
com as idas e vindas da vida de uma alma tão habituada ao brilho nos olhos e a
paixão por um projeto que, quando esse brilho acaba, obriga a mente a enxergar que é hora de mudar.
E vai continuar mudando quantas vezes forem necessárias. Foi um prazer enorme
ter vivido essa riquíssima experiência no Canadá mas agora é hora de começar
tudo novo , de novo.