19.5.13

O fim de uma Era


“Tudo vale a pena se a alma não é pequena” escreveu o poeta. No entanto, o que vale a pena quando a alma ESTÁ pequena? Quando a alma grita por mudança? E quando ela, a alma, cansa do desapego e parece dizer, juntamente com o coração, que toda a energia secou. Aí vem a mente, essa senhora da razão (que a cada ano ganha mais capacidade para enxergar tudo com clareza) e  detecta os sinais da alma e do coração, visualiza a trilha bifurcada e, como um capitão disciplinado de um exército qualquer, dá o comando: Chega.

Se a mente fosse um GPS (Sistema de Posicionamento Global), além do comando CHEGA diria que a rota precisa de um giro de 360 graus. Isso porque na jornada de quase 7 anos no Canadá,  todos os atalhos possíveis e conhecidos foram utilizados. Uns mais curtos, outros mais longos mas todos utilizados. Parafraseando o ex vocalista da banda Camisa de Vênus, Marcelo Nova, Um passo para frente, dois passos para trás” virou uma máxima nos últimos anos, quase um mantra. Não que não seja possível caminhar assim, no entanto, a alma dava sinais de cansaço à mente que, por sua vez, ainda enxergava um sentido na caminhada. Até que um belo dia ela (a mente) parou e enxergou. Sim, é hora de começar tudo novo, de novo.

A mesma alma que ficou pequena e que, por sua vez não permite que a mente visualize mais motivo para seguir o mesmo caminho, debate-se buscando a resposta para o que mudou de 7 anos para cá. Seriam as prioridades? O momento de vida? Maneira de enxergar tudo? Experiências vividas? A mente não decepcionou e prontamente respondeu: “Um pouco de tudo”.  

Mas o que a alma quer? E a mente lembra dos Titãs para responder pois a música ultimamente tem massageado a alma e clareado a mente. O que queremos nesse exato momento? “A gente (alma e mente) não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte, a gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte...” A alma quer voltar a ser grande e por sua vez provocar o brilho nos olhos novamente. Cansou-se do desapego desmedido, tanto espiritual quanto material, do desnudamento, da ausência excessiva de ego, da distância radical e constante da zona de conforto, da falta de racionalidade dos acontecimentos, da diminuição desproposital das capacidades intelectuais, da relatividade do tempo e de tantas outras coisas.

Aí vem a mente novamente, aquela pensante figura de 38 anos, e se questiona se tudo isso significa que a experiência vivida de nada valeu. E a resposta é um sonoro NÃO! Ao contrário, tudo valeu, até aqui. Entretanto, a capacidade do cérebro vai além. E trata-se aqui de uma análise do futuro e não do passado. Portanto, essa parte de nossas vidas, vivida segundo o mais rigoroso manual do estilo barraco de literatura em exaltar o CARPE DIEM, só nos fez crescer, evoluir e enxergar tudo com mais clareza ainda. Afinal somos o que vivemos e a experiência nos traz isso.

Mas, e daqui para frente? Para novamente parafrasear os roqueiros Titãs, vamos continuar “varrendo a areia da praia?” A alma, como num surto desesperado, salta e grita : não. Até porque se lembra de quando se iluminava ao fazer os exercícios de meditação oferecidos nas aulas de Kung Fu pelos mestres da sabedoria. O que, por sua vez, a fez lembrar da transitoriedade de todas as coisas e da fluidez com que o rio corre e continua lindo. O mestre budista a ensinou muito sobre como tudo muda. Daí a facilidade com que a mente , já tão treinada, toma a decisão de voltar. Voltar para o que acalenta a alma. A minha alma.

E a inquieta mente questiona? O que acalenta sua alma nessa fase de sua vida?

Estar próxima de meus pais enquanto eles ainda estão cheios de saúde e oferecer ao meu filho a mesma infância que tive: muito próxima de meus queridos avós e cercada de carinho, primos e tios,

Caminhar com o meu pai em um final de tarde e termos nossas velhas conversas e teorias que parecem querer mudar o mundo,

Jogar conversa fora com minha mãe sem ter que fazer uso da tela do computador para isso, 

Receber o sorriso do meu irmão ao tirar sarro de mais um de meus devaneios,

Ver o meu filho brincar no quintal da avó e comer o maracujá que o vovô Paulo plantou,

Ver o meu filho brincar na terra roxa da fazendo da avó Neuza e andar no cavalo do vô Roque,

Retomar o conhecimento e o reconhecimento intelectual, social e cultural em uma velocidade condizente com a minha idade,

Dar risada com poucos mas verdadeiros amigos de uma vida (vocês sabem quem são)

Não cabe aqui elencar vantagens e desvantagens da escolha. Até porque sei muito bem o que ganho e o que perco ao viver no Canadá e o que perco e o que ganho vivendo no Brasil.  Entendo perfeitamente a escolha e as trocas que estou fazendo. E faço esse movimento com a mesma paixão e vontade que fiz quando aqui cheguei  naquele dia 13 de setembro de 2006. Respeito o momento de cada pessoa e desejo toda a sorte do mundo no caminho de tantos colegas que, assim como nós, vieram para o Canadá e lutam muito pelo direito de pertencer. Entretanto,  o meu momento é o do regresso. E estou muito aliviada em finalmente ter conseguido enxergar isso com muita clareza. Será sempre um prazer continuar ajudando aqueles que pretendem fazer o mesmo e quiserem saber mais detalhes de tudo sempre baseado na minha experiência claro! 

Portanto
esse blog não vai acabar. Ao contrário, pretendo continuar relatando toda a minha experiência com as idas e vindas da vida de uma alma tão habituada ao brilho nos olhos e a paixão por um projeto que, quando esse brilho acaba,  obriga a mente a enxergar que é hora de mudar. E vai continuar mudando quantas vezes forem necessárias. Foi um prazer enorme ter vivido essa riquíssima experiência no Canadá mas agora é hora de começar tudo novo , de novo.

30.1.13

Feliz 2013

Eu sei, eu sei. Estamos finalizando o primeiro mês do ano e eu aqui desejando um feliz 2013 para aqueles que ainda me seguem mesmo tendo percebido que a frequência com a qual escrevo não é a mesma com a qual eu gostaria de conseguir escrever. Entretanto, cá estou. E, de qualquer forma, ao menos para mim, hoje é sim o primeiro dia útil do ano de 2013 uma vez que viajei de férias antes do natal, portanto ainda em 2012, e só voltei agora. Sim, sim, eu mereço. Trabalhei duro para isso.

Inicio hoje mais um ano no Canadá. O sétimo. Mais um ano tentando, suando, trabalhando e criando. Longe é verdade. Longe de pessoas muito amadas e queridas. Longe do que chamamos conforto. Aquela, a zona de conforto.

E seguimos ainda ou sempre. Não sei ao certo. Aliás, muito comum não saber nada quando se começa mais um ano de imigrante vindo de férias passadas no país de origem. Sempre digo que não se deve planejar nem muito menos tomar nenhuma decisão nos dias que sucedem sua volta das férias no Brasil. Nos dias em que predomina o que chamo de ressaca de férias.

Sinto isso há seis anos. Sempre senti. Uns anos mais intenso outros nem tanto mas sempre senti essa confusão de sentimentos, pensamentos e falta de clareza. E me pergunto se trata-se de algo intrínseco, inexorável mesmo à alma do imigrante. Aliás, aqueles bravos que estão longe de tudo há mais tempo que eu (de sete anos para frente) poderiam me dizer se um dia deixam de sofrer de ressaca das férias. Alguém?

Uma pista eu tenho. O ir e vir com filho pequeno tornou tudo mais intenso. O amor, que antes existia mas mais moderado e seguindo mais à risca as normas de conduta social, hoje jorra, quase sangra de tão forte e lindo! Sinto à flor da pele, cada vez que volto do Brasil com meu pequeno (que hoje tem 3 anos e acaba de entender o significado das palavras saudades e distância), o real significado do dito popular : "quem beija meu filho minha boca adoça" (ou algo próximo disso). Não sei ao certo.

O fato é que, independente de o impacto ser muito maior quando na equação da ressaca de férias há um filho pequeno, a existência da mesma (a ressaca que, ao menos para mim, não dura mais do que uma semana) não significa que a balança vai pender mais para um lado do que outro (digo mais para continuar vivendo no Canadá ou voltar para o Brasil). Ao contrário. O mesmo fator (filho pequeno e o amor que jorra de familiares, principalmente avós e tios) que faz você chegar a cogitar a possibilidade, mínima que seja, de voltar; paradoxalmente faz com que você tenha ainda mais vontade e força para ficar.

Resumo: Filho, obrigada por você existir. Família, eu amo vocês onde quer que eu esteja.

Feliz 2013 !


9.11.12

35 dias

35 dias. Nem mais, nem menos. Falta muito pouco para que meus cansados pés se voltem para cima e não mais trabalhem duro como de costume. Trabalhar enobrece o homem já dizia o sábio. Descansar, no entanto, motiva a prosseguir. E é isso que farei em 35 dias. Descansarei.

Em seis anos de exílio, posso afirmar com categoria que não mais tenho saudades do que passara e não é mais. Posso dizer, com firmeza de propósito, que meus pés (aqueles cansados e que se voltarão para cima) estão bem certos de sua trilha nesse país que escolhi para chamar de minha terra, meu lugar: o Canadá.

Entretanto, há outra terra, outro lugar. E para lá gosto de voltar sempre para descansar, recarregar, me confortar. E esse lugar chama-se Brasil. Lá estão familiares queridos e amigos que jamais sairão de minha mente e coração. Curioso sentir que a cada vez que volto parece que nunca deixei aquelas pessoas. E nunca deixei mesmo. Sempre as amarei com a mesma intensidade de antes. São poucas essas pessoas mas elas sabem quem são.

É sempre bom voltar para as origens e lembrar quem fomos um dia. Melhor ainda é perceber que somos mutantes, seres extremamente adaptáveis a tudo! Imigrar não nos torna pior nem melhor que ninguém mas nos dá uma visão profunda dos sentidos que buscamos. É como se colocássemos uma lente de aumento em tudo que enxergamos. E, de repente, com o passar dos anos, vamos tendo a clareza da resposta para a pergunta: "que tipo de pessoa eu quero ser quando crescer"? Incrível como sair da zona de conforto nos dá esse poder extra especial.

Mas ganhar poderes especiais não é o único resultado de estar fora da zona de conforto. Sair da zona de conforto cansa, fatiga, instiga. Te faz buscar o sentido das coisas com mais voracidade. Dá movimento. E esse movimento nem sempre é positivo mas, enquanto movimento, progride. Dá trabalho construir novas realidades a cada instante, novos poucos e bons amigos de infância, cenários confortáveis longe de suas raízes. A labuta é árdua e nem sempre compensa. Ainda assim, sinto prazer em todo esse trabalho longe do que um dia eu fui. Ainda assim, sinto orgulho de viver longe do que um dia foi meu. Ainda assim sorrio ao provocar o sorriso de alguém que está longe de ser um amigo de infância que já passou. Por isso trabalho. Por isso vivo e existo no Canadá! E por isso descanso no Brasil.

Boas risadas, abraços e conversas ao pé do ouvido me aguardam. A fumaça do café que só meu pai sabe fazer. O cheiro de bolo de laranja saído do forno à lenha. Os pés descalços na fazenda e a vizinha que abre o portão para lamentar o preço da cesta básica. A minha estranheza diante de tudo que já passou e ainda continua lá. A isso dou o nome de férias no Brasil. Fui ali descansar e já volto.

1.10.12

Seis anos de Canadá em cores de Almodovar

Após várias tentativas fracassadas de escrever por aqui no dia 14 de setembro, hoje consigo chegar pois ainda é tempo de celebrar. Celebro não um, nem dois, nem três anos. Celebro 6 anos de vida no Canadá! Antes não consegui por aqui estar devido a inúmeras razões tão dignas e apaixonantes quanto escrever nesse que é meu cantinho preferido.

Setembro parece ter entrado para a categoria oficial do mês que sempre me traz novos começos. Há seis anos aqui cheguei e agora, no mesmo setembro laranja do outono, comecei meu trabalho voluntário em uma cooperativa educacional para crianças de 2 anos e meio até 6 anos, iniciei mais dois trabalhos de pesquisa na área em que estou estudando (educação e desenvolvimento infantil) e mais duas matérias na sequência para adquirir o meu diploma.

Sempre quando chega setembro passa um filme em minha cabeça sobre os primeiros dias como imigrante. Aliás, podem passar 20 primaveras e aqueles dias jamais se apagarão de minha memória. Entretanto, não é de conquistas e fracassos que quero escrever para comemorar. Ao invés, prefiro escrever sobre algumas coisas que aprendi enquanto cidadã canadense.

Os seis anos de Canadá mexeram com meus sentidos e me fizeram:

aprender a lidar com o paladar apimentado de quase tudo quanto é comida que se compra pronta por aqui,

amar a deliciosa mistura dos molhos "honey garlic" . Alho e mel que casamento perfeito para um prato de comida!,

passar a consumir mostarda como nunca fizera antes devido a variedade de sabores,

acostumar com o fato de acabar com a elegância de uma produção para uma festa ao ter que tirar o sapato para entrar na casa de alguém,

aprender um novo dialeto só para pedir um café ou qualquer coisa para comer no Tim Hortons,

aprendar a lavar banheiro sem ralo para escorrer a água,

tomar banho em pé na banheira mesmo não vendo sentido nenhum nisso,

a conviver com banheiros sem janela , cozinhas sem porta, a ter calor no frio e a ter frio no calor,

me acostumar a não tomar bebida alcóolica em locais públicos,

me habituar a não conseguir pronunciar nomes Indianos e Chineses mesmo depois de pedir para repetir pela terceira vez,

ter quintal aberto sem muros nem portões e ainda assim encontrar tudo do jeitinho que deixei,

ficar craque em fazer minhas próprias unhas, tanto das mãos quanto dos pés,

aprender o real significado das palavras compaixão, humildade e trabalho,

não cansar de ficar encantada com a infra oferecida pelas bibliotecas públicas e centro comunitários, 

e, acima de tudo, ter a certeza que, apesar de longo e por vezes árduo, o caminho é esse e por ele sigo em frente. Que tenha início os próximos seis anos de minha vida canadense! Parabéns para mim, para meu queridíssimo marido e ao filho que nasceu em terras canadenses e agora não somente nos ensina palavras novas em inglês mas também a "a andar pelo mundo prestando atenção em cores que eu não sei o nome, cores de Almodovar, cores de Frida Kahlo, cores..."

é isso! acima de tudo, imigrar é ver o mundo em outras cores e "Esquadros" na bela voz de Adriana Calcanhotto ilustra um pouco disso. Feliz aniversário de seis anos para nós!




18.8.12

Tive fora uns dias

Embora sem muito sucesso, tenho tentado escrever por aqui. Acontece que já dizia o velho ditado: "assobiar e chupar cana ao mesmo tempo não dá!".  Não tem problema. Estou feliz. Livros, apostilas, caderno, lápis, prova e trabalhos escolares estão preenchendo meus dias de mãe que cria e estuda ao mesmo tempo. Dia desses uma leitora desse blog me pediu para escrever sobre trabalhar e estudar no Canadá. Não é ainda esse o seu post querida leitora mas prometo que chego lá. Afinal trabalho e estudo. Meu escritório não é na praia como cantou Charle Brown mas é na casa, na biblioteca, no quintal, na cozinha e na sala. É por toda parte!

Como dizia, estou feliz. Incrível como com o passar dos anos passamos a nos entender cada vez melhor. Entender o que nos faz bem. Como ficamos melhor em selecionar o que de fato importa e nos dá prazer! Eu sempre soube que gostava de crianças, de ler e de estudar. Entretanto, depois que meu filho nasceu passei a enxergar como estar com crianças e livros me dá prazer. Pode ser crianças e livros, só livros ou só crianças. Daí, apesar de viver o momento em que mais eu tenho trabalhado em toda a minha vida, vivo o mais feliz de todos.

O passar dos anos me trouxe uma capacidade lúcida, quase incotrolável de focar. O foco, por sua vez, traz, todos os dias, vontade de fazer mais. Há alguns dias meu primo Zé escreveu em seu perfil no facebook : "Pense. Planeje. Realize" . Quando li isso senti uma certa satisfação ao perceber que tudo que tenho feito hoje é resultado de muito pensar e planejar e agora com foco estou realizando. Sensação inesgotável de prazer essa de focar e realizar.

Entretanto, não estaria eu realizando não fosse o incomensurável apoio moral e financeiro daquele que eu escolhi para meu parceiro nessa jornada deliciosa chamada vida. O que um dia foi paquera, depois virou ficante, namorado, união estável , marido e agora pai é 50% responsável pela satisfação que hoje sinto, mesmo com tanto trabalho. Digo 50% porque não acredito que alguém , por mais apoio que tenha, seja capaz de realizar algo se em princípio não dispuser de sua força interior e desejo de trilhar.

E agora, depois de tanto divagar. Veja, acho que divagar é um resultado direto da minha pouca presença nesse espaço. Estava com saudades e tenho muito a dizer, ou melhor, escrever. Me falta prioridade. Não tempo. Não acho que falte tempo para algo que realmente se queira fazer. E eu realmente quero escrever. Entretanto, as prioriades de criar o meu filho, cuidar do marido e do meu estudo acabam por esmorecer o ato de escrever.

Escrevi um dia, escrevo agora e sempre escreverei. Posso demorar um pouco é verdade. Mas a alma dói quando não escrevo. Flui melhor quando escrevo. Ela, a alma. Pronto. Divaguei de novo. Ah, como é bom apenas brincar com as palavras assim como brinco de bola com meu filho! E assim tenho feito com esse momento especial. Brinco. Trabalho duro mas brinco com tudo sem jamais perder o foco. O foco de seguir à diante. E ler . E Escrever. E estudar. E criar. Criar o meu mais precioso tesouro. Meu filho. Já Já volto. Volto mais objetiva prometo. Menos oblíqua. Mais focada.

5.7.12

aproveitando o verão

Tenho estado distante é verdade. Tenho andado em falta com uma das minhas maiores paixões que é escrever nesse meu cantinho. Sim, conciliar o verão Canadense com a função de mãe durante o dia e estudante durante a noite tem tomado meu tempo. De qualquer maneira, sempre há tempo para o que realmente se quer fazer. E aqui estou de volta.

Desde que aqui escrevi muito já andei, viajei, estudei, trabalhei e vivi. E hoje, logo após voltar de um feriado em Nova York, volto para o meu canto, meu refúgio. Fomos também à praia. Sim, porque não dá para bobear com o verão canadense. Ele vem e vai embora sistematicamente. Diferente de quando morávamos no Brasil e podíamos ir à praia e fazer um churrasco no quintal independente da época do ano. Por aqui não. É preciso uma atitude Carpe Diem quando o assunto é ficar mais tempo fora de casa do que dentro.

Lembro quando aqui cheguei, há quase seis anos, e ficava impressionada ao ver a festa que se fazia quando chegava o verão. Hoje entendo e faço igual. Mas o verão, extremamente quente e húmido, não foi o único causador da minha ausência. Em janeiro comecei a frequentar o College (vulgo escola técnica) à noite o que me fez pensar como era fácil apenas estudar na época em que fui para a Universidade no Brasil. Eu já sabia na época e era muito grata aos meus pais pelo sacrifício. Entretanto, hoje vejo que era de fato muito mais fácil apenas estudar. Agora, estudar, cuidar da família, da casa, do filho e de si mesma aí é que são elas! Precisa ter um marido como o meu e uma disciplina como a minha.

Estou feliz e realizada apesar de toda a carga de trabalhos pois finalmente vejo um caminho mas isso já é assunto para outros textos. Por hora, passei para dizer alô e confirmar que esse blog não morreu e nem vai morrer. Aqui estou de volta, trabalhando em casa, criando meu filho exatamente como eu queria e ao mesmo tempo cuidando do meu futuro para quando meu filho crescer independente e feliz como a mãe dele!

Agora preciso ir ali curtir o verão canadense e já volto. Prometo não demorar tanto dessa vez.

13.4.12

Nós vamos invadir a sua praia


Cinco anos no Canadá é tempo suficiente para se habituar a frequentar as praias de lago que a bela geografia e sua abundante oferta de água doce tem a oferecer nos meses quentes por aqui. São belas as praias de lago canadenses. Eu mesma já vi cenários de tirar o fôlego, tanto pela belíssima paisagem quanto pela temperatura da água que, mesmo nos meses mais quentes do ano, por razões óbvias nunca vai atingir as temperaturas das águas dos trópicos e do Caribe por exemplo. 
Há muito ouvia falar dos favoritos roteiros de férias de inverno dos canadenses: México e Cuba. A possibilidade de fugir do rigoroso inverno canadense que, ultimamente nem tem sido tão rigoroso assim, e literalmente invadir a praia alheia! Colegas de trabalho do marido contam de ir todos os anos e, não raras vezes, voltando sempre ao mesmo lugar. E eu, sempre brincando que, enquanto não fosse passar férias em Cuba não poderia me considerar Canadense:) Pois lá fomos, em março, passar uma semana de férias em Cuba. Ah, que férias! Ah, como eu entendo a empolgação dos canadenses agora!
Importante lembrar, para aqueles que me leem da zona tropical do planeta onde é possível ir à praia o ano todo e, que para tomar uma cerveja gelada basta abrir em qualquer lugar e pronto, que no Canadá (leia-se Ontário) não funciona assim. Consumo de cerveja só em bares ou dentro de casa. Em parques? Não. á beira do lago fazendo um churrasco? Não. Na calçada. Na na nina não! Praia. Só de lago e, durante 3 meses por ano e olha lá! Então o que o canadense faz? Vai passar férias em outro paraíso, ou melhor, país! 
Aí você, que se encapota de gorros, luvas e bota de neve durante a maior parte do ano, precisa sempre fazer uma verdadeira operação logística e de planejamento estratégico quando quer tomar umas cervas bem geladas, chega em um paraíso Caribenho onde tudo é permitido, a bebida é à vontade e você pode tomar onde quiser, o povo tem aquele espírito festeiro que nós brasileiros conhecemos bem, a comida é deliciosa e pronto, eis as melhores férias que um canadense pode querer! Aliás, não somente os canadenses porque a praia foi literalmente invadida pelos britânicos e italianos também.
Voltando ao nosso roteiro. Em vôo direto, saímos de Toronto com destino a Holguin (um paraíso no sudeste de Cuba). O avião laranja, segundo meu empolgadíssimo filho, da Sunwing (agência muito recomendada pela qual compramos o pacote com tudo incluído) nos deixou no aeroporto internacional de Holguin e, de lá, um ônibus, o "school bus" de novo segundo a cabecinha muito criativa do meu filho, nos levou ao Playa Pesquero, o resort totalmente voltado a atender famílias viajando com crianças e que fica a uma hora de viagem do aeroporto. Se você vai com criança pequena não pense duas vezes. Reserve nesse hotel!
Não. Não fizemos turismo de exploração. Isso já fizemos muito antes de o Arthur nascer e, certamente o faremos de novo quando o Arthur for capaz de carregar sua própria mochila, montar sua barraca e dormir em um beliche de quarto de albergue mundo afora. Por hora vamos explorando as cadeiras à beira da praia, os copos de cerveja, e os piano bares dos resorts. Justo. Não tiramos o pé fora do resort. Precisar não precisa, mas se você faz questão até pode. Há passeios para todos os gostos. Não querendo, todos os restaurantes, boate, teatro, parquinhos, piscinas e, inclusive a praia estão dentro do resort. Basta relaxar.
Resultado: melhores férias de nossas vidas! Era muito difícil ter que decidir todos os dias se íamos para a praia ou para a piscina. Se comíamos peixe ou carne. Lula ou camarão. Eram muitas as opções. E o meu corpinho enferrujado quase teve um choque ao sentir a maresia novamente. Havia eu estado ao nível do mar pela última vez quando o Arthur ainda era apenas um feto em minha barriga, leia-se há cerca de dois anos!
Em tempo 1: não tenho nada contra às regras canadenses em relação ao consumo de bebida alcóolica. Ao contrário, as aprovo todas! é justamente esse tipo de regra que faz com que tudo que eu mais gosto aqui funcione. Também não acho que há certo e errado. Há sociedades e culturas diferentes. E quando vivemos em uma um pouco mais rigorosa como a canadense, queremos mesmo é passar férias em outros países. Afinal de contas nas férias queremos fazer diferente da rotina não?
Em tempo 2: tanta praia no Brasil e vocês vão para Cuba? E você, meu caro e respeitadíssimo leitor, acha que quando vamos ao Brasil conseguimos ir à praia? Minha querida amiga Leslie é prova viva de que venho tentando há 3 anos e nunca conseguimos. Ir para o Brasil, para quem vive fora, é sinônimo de matar saudades da família e dos amigos, além de engordar uns quilos é claro. Então, sobra o sacrifício imenso de ter que passar dias inesquecíveis à beira dos mar do Atlântico e seus três tons de azul que se modificam com o sol. Dá para resistir?